Perspectiva 2025: Juiz de Fora busca crescimento econômico com foco em indústria, serviços e turismo
Crescimento do PIB que pressiona inflação e alta do câmbio são os principais desafios para o próximo ano
Os indicadores de crescimento econômico do país são otimistas para 2025. Conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para o próximo ano é de 2,4%. Para 2024, a CNI subiu para 3,5% a expectativa de alta do PIB, mais do que o dobro em relação à estimativa anunciada no fim do ano passado.
Os fatores que impulsionaram o crescimento da economia em 2024 também vão influenciar o ritmo da atividade no ano que vem, embora com menos intensidade. O consumo, por exemplo, deve crescer 2,4% em 2025, quase metade do previsto para este ano. Os investimentos, por sua vez, tendem a subir 2,6%, ante os 7,3% em 2024, afirma a Confederação.
Apesar disso, a economia nacional também enfrenta empasses já escancarados na reta final deste ano, como a alta do dólar e a taxa de juros, que subiu para 12,25% em dezembro após decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O dólar, por sua vez, atinge patamares históricos acima dos R$ 6 em meio às discussões do pacote fiscal do Governo.
Tudo isso impacta também a economia municipal. Com o dólar mais alto, o preço de alguns alimentos dispara na prateleira dos supermercados, consequência do encarecimento da cadeia produtiva que terá que gastar mais com insumos e combustível para o transporte.
A sinalização do Banco Central é de que a taxa de juros siga em crescimento ao longo de 2025. A decisão tem o objetivo de manter a inflação brasileira próxima da meta de 3%. A última medição do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mostra que a inflação estava em 4,87% nos 12 meses até novembro.
O economista do Instituto de Pesquisas Econômicas e Administrativas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Diogo Santos, afirma que a maior inflação pode ser explicada pelo aquecimento da economia brasileira, com o crescimento do PIB e, consequentemente, a menor taxa de desemprego.
“Estamos vivendo um crescimento constante da massa salarial, com mais gente empregada e mais salários sendo pagos. Além disso, o salário médio também tem registrado aumento, o que reflete no aumento do consumo. Mais pessoas consumindo gera maior pressão sobre os preços, mas esse estímulo ao consumo das famílias incentiva as empresas a expandirem sua capacidade de produção. A médio prazo, essa ampliação na capacidade produtiva tende a ajudar a acomodar as pressões que atualmente incidem sobre os preços. Esse ciclo virtuoso é um reflexo direto do crescimento econômico que temos presenciado”, explica Diogo.
Investimento em Juiz de Fora
Uma das grandes expectativas nos últimos anos era a instalação das fábricas do Ardagh Group em Juiz de Fora. No entanto, em janeiro deste ano, a multinacional de embalagens desistiu, por ora, de dar continuidade às obras do primeiro empreendimento, alegando “deterioração nas condições do mercado brasileiro de vidro”.
A fábrica, que prometia, investimento total de R$ 2,4 bilhões e geração de cerca de 680 postos de trabalho na cidade, havia assinado contrato com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), em maio de 2022.
Em entrevista a Tribuna de Minas, a Prefeita Margarida Salomão afirmou que a atitude do Município no momento é de expectativa e torcida. “Nossa parte nós fizemos, liberamos licenças ambientais, fizemos tudo o que precisava. Ambos os empreendimentos devem se materializar, mas o tempo da iniciativa privada é diferente do tempo do serviço público. Essas coisas dependem do mercado”, afirma. Margarida ressaltou que mantém contato com os empresários e está acompanhando a situação.
Ela mencionou que, para além desses grandes investimentos, o município também firmou contrato com empresas menores, como a instalação de uma fábrica de painéis solares no Distrito Industrial com investimento na ordem de R$ 30 milhões, além de geração de quase 450 empregos, entre diretos e indiretos.
Possibilidade de desaceleração para 2025
Apesar dos bons resultados apresentados pelo PIB neste ano, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) alerta para desafios econômicos em 2025, com a possibilidade de desaceleração devido à inflação, aos juros elevados e riscos fiscais crescentes.
O presidente da Federação, Flávio Roscoe, destacou que o mercado reage às expectativas futuras, muito mais do que em relação ao presente. “A nossa análise desse quadro é que a economia brasileira vem com um bom crescimento, mas impulsionada por forças que não trazem investimento econômico no longo prazo. É aquela injeção de adrenalina que tem um impacto imediato, mas depois já não tem todos os efeitos”, afirmou Roscoe fazendo uma analogia. “Basicamente, o mercado está lento e a injeção de adrenalina uma hora tem que acabar, porque se for demais ela mata o paciente. E o que vai matar o paciente é o endividamento público e o déficit fiscal. E é esse quadro que hoje os agentes econômicos identificam e estão cobrando do Governo uma mudança com relação ao quadro fiscal”, completa.
Comércio e serviços
Ainda durante a entrevista, a prefeita Margarida Salomão afirmou que reconhece o setor de comércio e serviços como o principal motor da economia local e, por isso, pretende concentrar esforços para fortalecer e investir ainda mais nessa área. De acordo com os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Juiz de Fora registrou, até outubro de 2024, a criação de mais de 7 mil novos empregos formais, dos quais 4.339 foram gerados pelo setor de serviços, ou seja, cerca de 62%.
“Apesar das especulações negativas em relação ao Brasil devido à disparada do câmbio, as expectativas são positivas. O país está crescendo muito além do que previam os economistas mais conservadores. Por isso, acredito que este é o momento de aproveitarmos essa onda favorável. Já perdemos diversas oportunidades no passado; agora, precisamos interpretar bem o cenário e apostar no potencial do país”, afirma Margarida.
O Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF) projeta crescimento para 2025, especialmente a partir do segundo trimestre. O presidente do sindicato, Emerson Beloti, destaca a relevância do setor para a economia local, ressaltando que ele gera cerca de 120 mil empregos indiretos.
“Esperamos vender mais em 2025 do que em 2024. No entanto, esse resultado depende, em parte, de fatores externos, como o desenvolvimento da cidade e a atração de novas empresas. Uma cidade que atua como polo de serviços beneficia também o comércio e o varejo, criando um efeito em cadeia onde um setor impulsiona o outro”, afirmou Beloti.
Turismo
Uma atenção especial ao turismo da cidade é o que promete a nova gestão da prefeita Margarida Salomão. De acordo com ela, é preciso incentivar o potencial turístico da cidade, que historicamente é conhecida pelo seu ramo de eventos e negócios. Ela cita o investimento nos Arranjos Produtivos Locais (APL), como o APL do Queijo Minas Caminho Novo.
A criação deste arranjo foi embasada também no turismo da região, caracterizado como Circuito Turístico Caminho Novo que, atrelado à produção de queijos de um modo em geral, valoriza e reconhece Juiz de Fora e seu entorno como grande produtor de laticínios. A região contemplada pelo APL concentra a maior produção de queijo minas frescal do Brasil, reunindo os municípios de Belmiro Braga, Chácara, Coronel Pacheco, Juiz de Fora, Matias Barbosa, Mercês, Piau, Santana do Deserto, Santos Dumont, São João Nepomuceno e Simão Pereira.
De acordo com Thaís Lima do Convention & Visitors Bureau, as expectativas para o setor do turismo em Juiz de Fora são positivas, principalmente em relação a parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora, que promete um protagonismo nos investimentos para o próximo ano.
Em nota, a entidade afirmou que, apesar dos juros altos e do dólar em ascensão, o setor de turismo promete manter o ritmo de investimentos, em especial, na área de hotelaria e eventos. ‘Os eventos corporativos parecem que irão manter o ritmo, com viés de crescimento, em razão de estarem, muitos deles, ainda represados pela pandemia; e a hotelaria de lazer promete, especialmente, as grandes redes, ao que parecem, estão prevendo investimentos e inaugurações para os próximos 2 anos.”