Inquérito é aberto para investigar estupro coletivo contra uma mulher em Juiz de Fora

Imagens de câmeras de segurança mostrariam fotógrafo e quatro vigilantes invadindo casa da vítima


Por Pâmela Costa

09/04/2025 às 14h52- Atualizada 10/04/2025 às 16h06

Um fotógrafo e quatro vigilantes são suspeitos de participar de estupro coletivo de uma mulher, na madrugada desta segunda-feira (7), em um condomínio na Zona Oeste de Juiz de Fora. A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que o caso foi encaminhado à Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher e que um inquérito foi aberto pela delegada Adriana Pereira para investigar. Todos os suspeitos de autoria já foram identificados, mas, como não houve flagrante, os suspeitos seguem soltos, informou a Polícia Militar à Tribuna.

O caso teve início na noite de domingo (6), quando um trio de amigas foi a um evento que acontecia em um restaurante na Zona Sul de Juiz de Fora. Por volta das 23h, um homem, 28 anos, que trabalha como fotógrafo – e que, mais tarde, mencionaria que ‘malha’ no mesmo local que a vítima – se ofereceu para dirigir o carro da mulher e levar o grupo em casa, já que nenhuma delas teria condição de conduzir o veículo, pois haviam ingerido bebida alcoólica. 

No trajeto, a mulher ligou para um amigo, disse que estava se sentindo mal e pediu por ajuda do rapaz. Enquanto isso, uma amiga, que virou testemunha do caso, relatou à polícia que o fotógrafo, durante o caminho, elogiava a aparência delas e revelou que era vizinho da vítima – uma vez que frequentavam a mesma academia.

Ao chegar no condomínio em que a vítima mora, o fotógrafo teria entrado na residência, indo até a sala, onde ela estava acompanhada das duas amigas. Em seguida, o amigo, o qual ela havia chamado por ligação, apareceu na residência e pediu um carro de aplicativo para deixar o fotógrafo no evento novamente. 

Após colocar a vítima e uma amiga para dormir, a terceira mulher foi embora de carona com o amigo em comum. Na casa em que mais tarde aconteceria o crime, também estavam dormindo a mãe da vítima e suas duas filhas.

A partir daí, o relato registrado no boletim de ocorrência são fragmentos de memória da vítima – que estava vulnerável e sem condições de prestar resistência. No meio da madrugada, a mulher relata que acorda sendo abusada por pelo menos dois homens. Ela chegou a ver, ainda, um terceiro assistindo ao crime perto da porta do closet. Nesse momento, a vítima relata que novamente apagou. 

A mulher diz que acordou novamente por volta das 3h30 daquela madrugada de segunda e buscou por ajuda. Além de ligar para as amigas, ela checou o sistema de monitoramento da sua residência e viu a invasão do fotógrafo e de homens, que seriam seguranças do condomínio, à casa dela. Conforme o relato, as imagens mostram que, por volta das 00h50, o fotógrafo aparece retornando ao condomínio da vítima, em seu próprio carro. Uma mensagem no celular da vítima, só vista quando tinha acordado, mostrava a solicitação de autorização para a entrada do homem – que, apesar de não respondida, teria sido permitida. O percurso entre a guarita e a residência teria sido feito pelo fotógrafo e quatro vigilantes em motocicletas.

Eles teriam assistido enquanto o fotógrafo pulava o muro da casa e, em seguida, um deles teria pego uma escada em uma construção ao lado e usado para também transpor o muro e entrar na residência. O segundo homem teria então usado o controle da garagem – que estava em cima do carro da vítima – e aberto o portão para os demais três homens adentrarem. A vítima relata que, ao assistir isso, constatou que suas recordações se tratavam de violência sexual.

Vítima foi encaminhada ao HPS

Os amigos acompanharam a vítima até o Hospital de Pronto Socorro Dr. Mozart Teixeira (HPS), onde são realizados exames e protocolos para vítimas de abuso sexual. A polícia, naquele momento, se dirigia à administração do condomínio. As câmeras gerais do local mostravam ainda que, durante o retorno do fotógrafo ao condomínio, ele teria conversado com os vigilantes por alguns instantes antes deles permitirem a entrada e o acompanharem. Eles foram identificados e teriam permanecido na casa até por volta das 2h da madrugada.

Os vigilantes, que são suspeitos de participarem do estupro coletivo, teriam omitido do registro do condomínio fatos que teriam acontecido durante o turno de serviço naquela madrugada. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

“Crime hediondo e sem anistia”, pontua advogada

A advogada Carolina Cavalieri destaca que crime desta natureza é qualificado como hediondo, com punições mais severas, como prisão com regime inicial obrigatoriamente fechado quando julgado, maior rigor na execução da pena e vedação de anistia, por exemplo. Além da suspeita de o abuso ter sido coletivo – isto é, praticado por dois ou mais homens -, ele teria sido feito contra uma mulher que não tinha condições de se defender ou consentir, já que a vítima havia feito uso de álcool. 

“É importante observar, no caso, a participação dos seguranças do condomínio, pois há muitas empresas que contratam vigias, que não passaram por treinamento e nem são regulamentados pela Polícia Federal”, explica a advogada, a medida em que apresenta mais uma perspectiva sobre a possível participação desses funcionários.

“Assim, a sociedade tem uma falsa sensação de segurança, pois acredita que aqueles profissionais são qualificados, mas, na verdade, não passaram por nenhum crivo mais rigoroso que garanta a competência e não se submetem à fiscalização”, finaliza. 

Direitos violados 

Em vídeo publicado no perfil da Prefeitura no Instagram, a secretária especial da Mulher, Lourdes Militão, falou sobre o caso. “É com profunda indignação e tristeza que tomamos conhecimento do caso de violência ocorrido na madrugada de domingo, em que uma mulher foi brutalmente agredida e violentada sexualmente por múltiplos agressores, inclusive com a conivência de profissionais que deveriam zelar pela segurança. É inadmissível que, em pleno século XXI, a mulher ainda seja tratada como objeto e tenha seus direitos violados de forma tão brutal”, disse.

Em vídeo, a secretária também cobra justiça: “Diante desse crime hediondo, é essencial que o sistema de segurança pública, o Judiciário e toda a sociedade ajam firmemente para combater essa cultura de violência contra a mulher”. Ela encerra afirmando que a secretaria está tomando providências junto à Delegacia da Mulher. “A Secretaria Especial da Mulher está em contato com a Delegacia da Mulher, e fomos informados de que o inquérito foi aberto, as investigações estão em andamento e a equipe não medirá esforços para prender todos os envolvidos e dar uma resposta à sociedade.”

Em Juiz de Fora, a Delegacia Especializada em Violência contra a Mulher está localizada no Santa Cruz Shopping. Em caso de violência contra a mulher, denuncie. Ligue 180.

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