Novo VP do Tupi quer reconstrução, confirma auditoria e reajustes por CT
Jeferson Vitor relata ‘clube abandonado’ e com 50 sócios adimplentes; dirigente busca diagnóstico completo do cenário com mais de R$ 10 milhões em dívidas, avalia SAF, confirma Adil no futebol, mas não garante time no Módulo II
O Tupi passado a limpo. É o que a nova gestão do clube, do presidente Eloísio Pereira, o Tiquinho, e do seu braço direito, o vice-presidente (VP) de Futebol Jeferson Vitor, garante que tem realizado desde a posse, em outubro último, e a exclusão do ex-mandatário, José Luiz Mauller Júnior, o Juninho, do quadro societário em meio à investigações da Polícia Civil. Nesta semana, a Tribuna realizou entrevista exclusiva com o VP de Futebol no Salles Oliveira, em Santa Terezinha, desacompanhado do presidente Tiquinho, isolado em casa com uma gripe. Na conversa, Jeferson Vitor se apresentou ao torcedor e assegurou que a diretoria tem destrinchado a situação vivenciada pela agremiação para, em um futuro próximo, traçar estratégias, passo a passo, em busca de uma reconstrução completa, “de dentro para fora”, que reaproxime não apenas os torcedores, como os ídolos, com reconhecimento e valorização da centenária história alvinegra.
Oficial reserva da Polícia Militar e torcedor do Tupi, Jeferson Vitor confirmou a contratação de uma empresa para realizar auditoria nas finanças diante da dívida que ultrapassa os R$ 10 milhões, além de estudar uma readequação no contrato com a Rezende-Roriz, empresa que acordou a permuta do Estádio Salles Oliveira, em Santa Terezinha, para a construção de um centro de treinamento (CT) para o Alvinegro. O VP ainda antecipou contato com Adil Pimenta para se tornar diretor de futebol do clube, mas irá buscar parceiros para viabilizar a participação do Galo no Módulo II do Campeonato Mineiro.
Tribuna de Minas – Qual é a sua motivação para ter vindo ao Tupi durante a pior situação financeira da história do clube?
Jeferson Vitor – A primeira razão é acreditar no Eloísio. O que ele quer fazer, a forma como ele quer o clube, transparente, que seja justo com seus torcedores e que valorize sua torcida. O que o Tupi representa, ele precisa ser, de fato, em termos de valores de seus funcionários, diretores, pessoas que passam aqui. Tem que haver o reconhecimento e a valorização da história do clube. Temos esses princípios para projetar o futuro. É isso que o Eloísio quer. Acredito nele e vi que ele precisa do meu apoio, da mesma forma que nós precisamos. Entendi que a minha experiência na parte administrativa pode ser muito útil aqui.
– Como o clube foi encontrado na parte financeira e também estruturalmente?
– Encontramos um clube abandonado. Mas há muito tempo, não é algo de agora. Os fatos tristes recentes são um desfecho de um conjunto de ações que foram tomadas ao longo dos anos. Óbvio que em alguns momentos, com o ganho desportivo e a projeção que o clube teve, fez com que a gente, como torcedor, se encantasse e criasse a expectativa de um clube sólido e que conseguisse se manter naquela condição. Mas em outras administrações, algumas coisas que precisavam ser feitas, não foram. Então encontramos um clube precisando de carinho com a sua estrutura por aquilo que representa aos seus torcedores, seja a sede social, seja o Salles Oliveira. E percebemos que esses detalhes também prejudicaram a imagem do clube. Encontramos um Tupi sem amor. Não estou dizendo que as pessoas que porventura passaram aqui não tivessem ou têm amor pelo clube. Mas no dia a dia, pequenas coisinhas que foram deixando de ser feitas, acabam passando essa impressão para as pessoas.
– A prioridade de vocês é a reorganização do clube?
– Pensamos, em um primeiro momento, sendo humildes para entender nossa limitação, que não somos os salvadores da pátria. Muito longe disso. Queremos ser construidores de pontes. Trazer as pessoas que gostam do clube de volta. Participarem ativamente do Tupi, que precisa resgatar sua história, valorizar os grandes profissionais que passaram por aqui e, em algum momento, saíram aborrecidos, desgastados. Resgatar a autoestima do torcedor, que precisa ter orgulho do time. Vemos poucas camisas do Tupi na cidade hoje, não encontramos pra comprar. Queremos mudar isso. O primeiro passo é reestruturar o clube e deixar muito claro os princípios de administração, de governança. E ser gerido como uma empresa, mas lembrando que tem a paixão, o encantamento do torcedor. O cara tem que ter alegria e orgulho de dizer que torce pelo Tupi, vestir a camisa. Precisamos nos organizar de dentro pra fora, ser transparentes. Queremos um clube que dialogue com todas as pessoas interessadas.
– Está sendo feita uma auditoria nas finanças do clube?
– Estamos com uma empresa contratada fazendo esta auditoria, a Ética Contabilidade. Está fazendo um trabalho pormenorizado da dívida. Óbvio que estes valores, em algum momento, são divulgados de maneira genérica, mas para quem vai mexer com a gestão, você precisa entender onde e como esses valores foram gastos, onde estão os buracos, para definir a estratégia de trabalhar. Eu dizer aqui que deve dez, 20, 30… se não fizer um diagnóstico adequado e entender quais são os procedimentos, se eu não fechar a torneira desse local, não adianta ficar secando com o pano de chão. A auditoria não é uma caça às bruxas, para buscar culpados, mas sim para entender e projetar o Tupi. Não posso ficar repetindo as mesmas condutas. E vamos passo a passo adotando as medidas para ir resolvendo os problemas.
– O que você já sabe sobre a dívida em termos de valores e origens?
– Temos diversas situações: questões de refinanciamento de dívidas, programas de refinanciamento também que em algum momento deixaram de ser cumpridos, além de questões tributárias, impostos municipais, estaduais e federais pendentes, alguma coisa relacionada à administração do dia a dia do clube também. Temos questões trabalhistas, reações de pessoas que prestaram serviço para o clube e entenderam que esse era o caminho, e aquelas dívidas ligadas à forma de administração direta do clube. Se falarmos em R$ 13 milhões, R$ 1,5 milhão ou R$ 2 milhões estão nessa questão trabalhista, que está sendo levantada e pontuada para entendermos cada caso. Precisamos do diagnóstico para fazer a aplicação adequada do remédio. Viável, é. Jeito, tem. Mas gasta-se um prazo para isso. Não se resolve 20 anos com uma canetada.
– O Tupi tem quais receitas hoje?
– O Tupi tem duas situações. Possui o Tupi Football Club, que é sua essência, e a sede social. Ao longo dos anos, essa conversa de receitas sempre volta. Em algum momento serão citadas as receitas das lojas, vão dizer que o comércio e os empresários precisam apoiar mais o Tupi… são ciclos de êxito e de prejuízos, um processo natural da vida e no futebol. Mas enquanto você não tem futebol, tem despesas de custeio, para manter o campo, energia elétrica, água, funcionários. Quando você tem o futebol, os custeios aumentam, mas você passa a contar com as receitas das parcerias, de publicidade, da visibilidade que o futebol dá. O Tupi tem uma receita para o futebol oriunda das parcerias. Em grande parte dos momentos, essas receitas foram aquém das necessidades do clube para manter os custeios do futebol e da sede. Em alguns momentos, as receitas da sede cobriram despesas do futebol, o CNPJ é único. E como não temos categorias de base, o clube não tem ativo de transferências. A parte da sede social vai se sustentando pelos funcionários que tem. Se o clube fosse social, se organizaria, se manteria e existiria. Mas quando você fala em Tupi Football Club, aí sim há uma necessidade porque os gastos são maiores. Fiz um levantamento e, dos últimos 40 jogos que o clube fez na cidade, em 31 houve prejuízo na arrecadação. Pelo menos 1.500 torcedores são necessários pra custear as despesas de um jogo. Futebol é muito caro. E a sede social vai existindo dentro daquela estrutura, das lojas, receitas a partir das mensalidades dos associados, que também são poucas. O clube tem uma deficiência muito grande no seu quadro societário, e vive, em média, com 50 associados. E não é de agora. O Tupi precisa fazer um levantamento de seu quadro societário para entender essa dinâmica e ajustar essas questões. Mas quando temos futebol, aumenta a possibilidade de receitas e despesas, mas em muitos casos, as despesas tem sido maiores, então vamos empurrando, a cada tempo, a dívida, para chegar no cenário que estamos hoje.
– Você sabe quais áreas são de posse do Tupi atualmente? E como ficou a situação do Thermas?
– Todo o levantamento acerca desta situação patrimonial do clube também está sendo feito. Somos novos no processo e precisamos entender documentalmente qual é a situação de cada uma dessas áreas. Da sede social, do Thermas Regionais, que começou ainda nos anos 2000, e também de Santa Terezinha, porque tem essa situação da permuta e do tombamento. Há empreendimentos no meio, como no espaço da sede social. Tudo está sendo levantado.
– A atual gestão é favorável à construção do novo CT ou vê com bons olhos o tombamento do Salles Oliveira?
– Essa questão é importante. Queremos, de fato, ter futebol? Queremos. Quais são as necessidades para um clube de futebol? Falamos sobre as receitas e as categorias de base têm sido um dos grandes ativos dos clubes hoje. Já temos uma deficiência antiga das bilheterias, outra em relação ao investimento de parceiros. Precisamos entender, também, o que o Tupi vai oferecer a eles para que exista uma parceria em que os dois ganhem. As necessidades do futebol, muito caras hoje em dia, precisam ser acompanhadas. O campo de futebol é uma das principais estruturas, onde o atleta passa a maior parte do tempo, então precisa estar em boas competições. E ter apenas um campo é inviável. Hoje, com o CT, você tem uma estrutura adequada com recursos próximos. Há facilidade para os jogadores treinarem em dois períodos, fazerem a alimentação no próprio clube. Então não é de querer, mas de ser necessário. Se o Tupi pensa em perpetuar a sua história e se fortalecer, precisa tomar esse caminho. Precisamos de um CT do nosso tamanho, que atenda a base e o profissional.
– Vocês têm reavaliado o contrato de venda do Salles Oliveira para a construção do CT. Entendem que o Tupi pode ser mais beneficiado? Em que sentido?
– Há um entendimento da diretoria de que pode ser adequado trazer algo mais próximo da realidade e que aconteça mais rápido. Há uma urgência nisso. Você não faz um investimento em Santa Terezinha porque fica nesse compasso de espera, já que pode ser vendido para haver o centro de treinamento. Por outro lado, você não vê o CT, nenhuma iniciativa nesse aspecto, então vai gerando aquela desconfiança e gera o prejuízo esportivo. Você mantém uma estrutura limitada para o time. Quando falamos em conversar com a construtora que tem contrato com o clube é repactuar prazos, condições. Não queremos esperar eternamente. Tem que ter um CT, mas como ter? O Tupi precisa equilibrar suas finanças, entender, dentro do seu patrimônio, o que é possível, e avançar. E as pessoas também têm que acreditar que quem está à frente deste processo dentro do clube são profissionais e empresas adequados para alavancar essa questão.
– Nem mesmo o local do novo CT está assegurado, então?
– O que temos de concreto é um contrato, em que as duas partes têm que honrar, mas estamos conversando e buscando um entendimento para que o Tupi possa respirar o mais rápido possível. E que essa definição aconteça rápido porque vai ser boa para todos os envolvidos e dê fim a essa angústia. Parece que ficamos em um velório sem o sepultamento. Queremos os prazos bem definidos, o local e caminharmos naquilo que for melhor para todos.
– A SAF pode ser um caminho?
– Os processos vão correndo juntos. Entendemos que a SAF se apresenta como um bom caminho. Percebemos alguns clubes tomando a iniciativa. Para nós é até interessante para conhecer as experiências, entender os modelos. Mas não adianta você virar uma SAF se não se adequar aos procedimentos. Você pode continuar como clube associativo desde que tenha os procedimentos adequados na administração. Precisamos de reconstrução, ter uma estrutura sólida. Todas as possibilidades que visem salvar o Tupi são consideradas, mas a mudança tem que ser de dentro pra fora.
– Em relação às investigações da Polícia Civil, como o clube tem cooperado? Há alguma novidade?
– Pela minha origem na área da segurança, consigo entender o processo. Vejo com muita naturalidade e vamos respeitando o trabalho da Polícia Civil, é importante que ele aconteça e que as pessoas envolvidas tenham a possibilidade de se envolver. E dentro das pessoas afetadas, a grande vítima é o Tupi. Tivemos um prejuízo grande na imagem do clube. Mas a política da diretoria é colaborar com todas as informações que nos forem solicitadas. São trabalhos independentes.
– E qual a situação do clube em relação à participação no Módulo II do Mineiro?
– Todos nós queremos futebol. A razão de ser do Tupi é o futebol. A razão de quem está à frente do clube é ser racional para que a paixão não mate a razão e a gente termine de empurrar o clube pro buraco. O cenário é difícil. O posicionamento de hoje é que, como não temos receita, não temos como participar do campeonato. Estamos montando um grupo que vai até os parceiros para apresentar as propostas desta diretoria, mostrar a eles a grandeza que o clube tem, apesar do que aconteceu, e buscar formas de viabilizar a participação. Só que o cenário que encontramos recomenda cautela para que a gente dê passos do tamanho das pernas do Tupi. Mas estamos caminhando. O diretor de futebol deve ser o Adil (Pimenta), que deve vir trabalhar conosco também nesse processo de buscarmos a viabilidade da participação. E ao final a gente vê se foi atendido, se acreditaram em nosso projeto e conseguimos montar um time em tais condições para que a gente olhe pra frente. Mas acreditamos que a cidade e o torcedor não vão deixar sua maior marca de fora do cenário esportivo. Isso seria muito ruim para o município.
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