E a menina não completou 18 anos!
Estou completamente convencido de que a sociedade brasileira deveria apoiar e estimular os nossos sonhos. Em toda a nossa trajetória de vida: de crianças a idosos! Para meu desencanto, percebo que esse desejo não acontece na realidade. Hoje, ao longo de quase seis décadas de vida, entendo que o que me fez e me faz uma pessoa melhor, livre para pensar e sentir, é a escola. A educação. No meu caso, educação pública. Do antigo ensino primário ao ensino superior. Sou filho de pais pobres. O caderno e o lápis me ajudaram a projetar o futuro, por que não dizer, meus sonhos? (alguns em processo avançado de gestação). Fiz a escolha pelos livros. Muitas das vezes, a literatura faz a função dos pais na orientação para as nossas escolhas e caminhos profissionais.
Minha profissão tem um forte propósito educativo, de buscar nas relações sociais estabelecidas a formação de novos vínculos para a re/fundação de uma sociedade que transforma e prepara as pessoas para a direção de seus sonhos e metas profissionais e pessoais. Um país sem educação não sai do lugar. Um peito sem sonhos não vale a pena: é uma vida que não tem brilho. Na vivência profissional de assistente social, vejo muitas vidas apagadas socialmente pela ganância perversa de um sistema político que muitas das vezes não está nem aí para os interesses e necessidades da população.
É preciso reagir, resistir contra a eliminação do futuro de nossas crianças, nossos jovens e de nossos idosos. Não se espante: pessoa idosa também tem futuro! “O mundo é impossível sem as pessoas” (Vilma Arêas). Território que passa necessariamente pela ação pública. Precisamos fazer política, cada vez mais. Na minha opinião, o investimento público tem que ser para o aumento do grau de educação e de civilidade de nossa gente. Infelizmente o que está acontecendo, em quase todas as nações, é o retrocesso na conquista de um padrão social civilizatório, de regressão e cortes de direitos sociais da população, com imposição de medidas sociais e políticas de inibição para o avanço de uma sociedade mais justa e equilibrada economicamente, com a produção de condições de vida degradantes e sem padrões mínimos de humanidade com os povos.
Essa nova ordem mundial, de primazia do valor capital sobre o futuro das pessoas, tem implicações diretas em suas vidas, sonhos e desejos (nos nossos também), principalmente aquelas (maioria) que mais precisam de proteção social pública. Se falei da minha profissão, não posso deixar de registrar a Instituição que me permitiu desempenhá-la. O excelente trabalho social desenvolvido pela Amac, e não posso deixar de fazer referência e prestar um grande reconhecimento aos vários profissionais, que não mediram esforços, na gestão de um cotidiano digno e cidadão para crianças e adolescentes, entre outras faixas etárias.
Se a vida é como uma grande colcha de retalhos, em que cada pessoa entra com a sua história, a Casa da Menina Artesã ajudou a bordar e a coser o futuro de muitas marias e josés nos quase 18 anos de atuação na educação social, contribuindo para a transformação de vidas. De meninos e meninas artistas também sentirei saudades, na atuação da Casa do Pequeno Artista, através de cores e malabares das artes. Ambos os serviços estão entrando em um outro patamar, que espero continue a alimentar os sonhos dessa gente! Sucesso nesse novo cenário.