Fala muito
O choro é livre, mas tal comportamento nem sempre se esgota à beira dos gramados, sendo uma rotina na política para desconstruir o oponente
Quando ainda era técnico de clube e ficava somente à beira dos gramados nacionais, Tite teve um entrevero com seu colega gaúcho Luiz Felipe Scolari – campeão mundial em 2002 – por conta das tensões próprias das partidas. Para reagir ao estilo zagueiro de várzea de Felipão, disse que seu colega falava muito. A moda pegou, e Neymar, nossa principal estrela no Mundial, deixou o gramado dizendo que os mexicanos falavam muito. Não se referia aos jogadores, mas ao técnico Juan Carlo Osorio, que disse futebol ser coisa para homem. O jogador brasileiro só não disse mais porque foi contido por Tite, certo de que o confronto não interessava a ninguém.
O falar muito, porém, não se esgota nos gramados. Sempre houve falastrões da bola, mas é na política que eles se destacam com discursos fora de contexto e promessas que não resistem à mais simples análise. Mesmo assim, continuam se elegendo com relação ao modo como o eleitor vê os candidatos. Para muitos, vale o discurso, sendo ele factível ou não, que, ao final, produz um elenco de eleitos que não têm a mínima certeza sobre como colocar em prática o que foi prometido nos palanques.
Embora a campanha oficial só comece depois das convenções, já é possível aferir a fala dos pré-candidatos, que em todas as instâncias começam a apresentar suas metas. Nessa fase, porém, prevalece o processo recorrente de desconstrução do adversário. O velho argumentum ad hominem subiu ao palco e vai continuar ao curso das discussões. Em vez de propostas, a meta é apontar os defeitos do oponente sem se importar com programas de governo.
É fato que ainda há muito pela frente, mas, como o país tem demandas em demasia, é necessário que os pré-candidatos coloquem os temas à mesa, a fim de facilitar a leitura das ruas, hoje em dúvida sobre o que virá pela frente.