Desenvolvimento em JF retrocede ao patamar de 2010
Estudo mostra retrocesso da cidade em virtude da crise econômica; avanços na saúde e na educação foram anulados pela queda acentuada na geração de emprego e renda
Juiz de Fora avançou no Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), divulgado este mês e realizado com base nos dados de 2016, em comparação com o levantamento anterior, que considerava informações de 2015. Apesar disso, o resultado ainda confere retrocesso em relação aos outros anos, colocando a cidade no mesmo patamar em que estava em 2010. O índice é referência para o acompanhamento do desenvolvimento socioeconômico brasileiro e verifica, anualmente, as áreas de emprego e renda, educação e saúde. Numa escala de zero a um, Juiz de Fora obteve resultado geral de 0,79, o que significa “desenvolvimento moderado”. Em 2015, o índice era de 0,76. Já no período entre 2011 e 2014, ficou em 0,81, o que era interpretado como “alto estágio de desenvolvimento”.
Na análise setorial, o município conseguiu retomar as maiores pontuações alcançadas na educação e na saúde. Ambas as áreas tiveram índice de 0,82, resultados que já haviam sido conquistados em 2014. Na geração de emprego e renda, no entanto, o desempenho não seguiu da mesma forma positiva. O índice de 0,71 é o segundo pior da série histórica desde 2006, atrás apenas do verificado em 2015, que foi de 0,64. O melhor período para a empregabilidade na cidade ocorreu entre 2010 e 2012, quando o resultado passou por crescimentos consecutivos, indo de 0,78 para 0,84.
O estudo elaborado pela Firjan aponta a crise econômica como responsável pelo retrocesso do desenvolvimento dos municípios brasileiros. “O país mergulhou em uma forte recessão, o que fez com que os indicadores de mercado de trabalho acumulassem perdas recordes. Com isso, o índice recuou, refletindo, sobretudo, o desempenho negativo da vertente de emprego e renda, que anulou o progresso observado nas áreas de educação e saúde”, informa. “A crise custou, pelo menos, três anos ao desenvolvimento dos municípios que, em 2016, ficou abaixo do nível observado em 2013.” No caso juiz-forano, o retrocesso foi de seis anos, já que a cidade retornou ao patamar que estava em 2010.
O relatório destaca, ainda, que, “entre 2015 e 2016, foram fechados quase três milhões de postos de trabalho formais no país, sendo este o fator decisivo para interromper a trajetória de desenvolvimento socioeconômico. Em 2016, quase 60% das cidades no Brasil fecharam postos de trabalho, incluindo capitais e grandes centros econômicos”. Juiz de Fora contabilizou a perda de 3.475 empregos naquele ano, conforme dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Na análise de emprego e renda, o IFDM avalia a geração de postos de trabalho, as taxas de formalização do mercado, a massa salarial real e a desigualdade de renda. O estudou monitorou 5.471 municípios.
Retração econômica provoca impactos sociais
Na área da educação, o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) avalia o atendimento à educação infantil e informações sobre o ensino fundamental com relação à taxa de abandono, à distorção idade-série, à média de horas-aula diárias e ao número de docentes com ensino superior, além do resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A pontuação de Juiz de Fora se manteve equilibrada durante a série histórica. Entre 2006 e 2008, esteve fixada em 0,76. Em 2009, chegou a 0,8. O índice mais alto foi em 2014, quando alcançou 0,82, o que se repetiu em 2016.
Uma das justificativas para que o IDFM tenha se estabilizado é a criação do Plano Nacional de Educação (PNE), em vigor desde 2014. Por meio dele, o Ministério da Educação (MEC) acompanha metas em âmbitos nacional, estadual e municipal. Neste acompanhamento, o desempenho de Juiz de Fora foi positivo em 2016, já que os resultados foram acima das médias de Minas Gerais e do país em quase todos os quesitos. Apesar disso, foi em maio daquele ano que o Plano Municipal de Educação (PME) saiu de vigência, sendo implementado novamente quase um ano depois, em março de 2017. “O número de municípios com alto desenvolvimento no IDFM atingiu o maior nível da série histórica, chegando a 2.391 cidades, o que corresponde a 43% de todo o país. Apesar desse resultado, uma análise mais detalhada revela que as regiões estão em níveis de desenvolvimento bem diferentes e algumas estão muito distantes das metas do PNE”, aponta o relatório.
Na avaliação da saúde, a Firjan considera a proporção de atendimento adequado de pré-natal, internação sensível à atenção básica e os números de óbitos por causas mal definidas e mortes infantis por causas evitáveis. Nesta área, o município acumulou crescimento entre 2007 e 2014, passando de 0,72 para 0,82. Em 2015, o índice ficou em 0,81 e, em 2016, recuperou a maior pontuação. “Educação e saúde continuaram avançando, embora em percentuais mais baixos em 2016, demonstrando que a retração econômica também gerou impactos sociais”, afirma o estudo. “O IFDM Saúde foi a vertente com maior quantidade de cidades com alto desenvolvimento: 2.698, recorde histórico. Mas ainda vivemos num contexto em que o acesso à saúde básica não é realidade para 77 milhões de brasileiros.”
JF é 42ª cidade mais desenvolvida em Minas
Com o resultado do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), Juiz de Fora avançou oito posições no ranking mineiro, saindo do 50º lugar para o 42º. A cidade chegou a ocupar a 18ª colocação entre as mais desenvolvidas do estado em 2009, mas, desde então, viveu um processo de queda, chegando a 56ª posição em 2013. Atualmente, Patos de Minas, Andradas, Poços de Caldas, Extrema e Lagoa da Prata ocupam, respectivamente, as primeiras colocações no ranking de Minas. Na Zona da Mata, Viçosa é a cidade com o melhor índice de desenvolvimento, seguida por Muriaé. Juiz de Fora aparece em terceiro lugar.
Já na relação nacional, a cidade passou a ocupar a 483ª posição. O município de Louveira, no interior de São Paulo, se manteve na liderança pelo segundo ano consecutivo. “A cidade, sede de multinacionais, foi a única a registrar índice acima de 0,9. Já o último colocado, Ipixuna, no Amazonas, apresentou pontuação de apenas 0,32, influenciada pela pior nota em saúde, devido à falta de atendimento básico de qualidade”, destaca o relatório.
Políticas públicas
A Firjan defende a necessidade de criação de políticas públicas para a retomada do desenvolvimento. “Nos últimos anos, o país foi fortemente impactado pela crise econômica. Os resultados do IFDM são eloquentes nesse sentido. A principal questão posta nesse momento é a velocidade com que os municípios vão recuperar a condição que possuíam antes da crise. Essa resposta dependerá, sobretudo, das políticas macroeconômicas a serem implementadas, que influenciam diretamente na recuperação da confiança dos empresários e empregados e, consequentemente, na geração de emprego e renda”, afirma. “Neste sentido, o equilíbrio fiscal é importante não só para o restabelecimento do equilíbrio macroeconômico, como também para a manutenção dos recursos que são direcionados para as políticas públicas municipais.”
Município aposta em soluções para cadeia regional
O secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Rômulo Rodrigues Veiga, considera que o resultado do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) detecta o impacto da retração econômica vivida pelo país. “É mais um indicativo do retrato já constituído por uma crise muito profunda, iniciada a partir de 2014, e que gerou reflexos de 2015 a 2017. Somente agora, em 2018, iniciamos um processo de recuperação, mas que ainda está longe dos resultados ideais para a retomada.” Ao avaliar a vertente de emprego e renda no município, ele diz que os números certificam o que outros dados também comprovaram. “Ao fazermos uma comparação com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), vemos que tivemos uma primeira redução na criação de vagas em 2013. A partir de 2014, fomos contabilizando perdas de postos de trabalho. Foram 93 naquele ano. Em 2015, perdemos 3.800, o ápice da crise nacional. Em 2016, também tivemos uma perda acentuada, ficando com menos 3.400 empregos.”
Ele acredita que os próximos resultados do estudo apresentem melhora. “Em 2017, o Caged mostrou que perdemos vagas, mas em menor quantitativo, foram 811. Até maio de 2018, conseguimos criar 721 vagas, o que não é suficiente para recuperar as perdas, mas mostra uma melhora neste sentido.” Apesar de ressaltar a importância do estudo, ele observa que, se analisado isoladamente, podem ocorrer “distorções”. “A pesquisa é de extrema importância, mas uma análise mais aprofundada deve ser ser feita em conjunto com outros indicadores. Se dissecarmos a formatação do índice, vemos, por exemplo, que, na vertente de emprego e renda, são considerados alguns aspectos. Aí vemos que, na comparação dos resultados desta vertente, Matias Barbosa está à frente de Juiz de Fora, muito provavelmente por conta das empresas do Park Sul, pois o estudo considerou apenas o domicílio fiscal. Mas não foi observado que a maior parte dos trabalhadores empregados no Park Sul são de Juiz de Fora, ou seja, representam massa salarial para a nossa cidade.”
Rômulo reconhece que a retomada do desenvolvimento econômico passa pela criação de políticas públicas nas esferas federal, estadual e municipal. “O Brasil precisa criar estratégias de macroeconomia, que passam por políticas de taxas de juros, câmbio e inflação, por exemplo. Neste sentido, infelizmente, não há muito o que o município fazer”, avalia. “Também é importante o fomento regional. O estudo mostra que Minas Gerais está se desgarrando do desenvolvimento geral observado em outros estados. A primeira cidade no ranking mineiro é a 46ª no país, a segunda no estado é 113ª na relação nacional. Isto revela um descompasso, e não é possível promover o desenvolvimento local sem este trabalho regional.”
Sobre a atuação no âmbito municipal, Rômulo afirma que têm sido criadas estratégias para o aumento e a melhor distribuição da riqueza. “Juiz de Fora exerce papel de liderança na Zona da Mata e tem que puxar para si a responsabilidade de desenhar políticas públicas que tenham potencial para desenvolver a região como um todo. Temos feito várias ações com esta proposta. Recentemente, lançamos a plataforma de bioquerosene e renováveis para o desenvolvimento de uma cadeia integrada para a produção de diesel verde e querosene renovável. Este é o tipo de medida que irá beneficiar desde a agricultura familiar até o setor tecnológico.” Ele ressalta que a secretaria tem trabalhado em conjunto com as instituições de pesquisa e a iniciativa privada para aumentar a transferência tecnológica para o mercado. “Esta é uma forma de aumentar a média salarial, pois agrega valor ao produto econômico.”