Novo álbum de Edson Leão reflete sobre o tempo e inspira show intimista em Juiz de Fora

Com o disco ‘Ingressos esgotados… para o fim do mundo’, artista une poesia, crítica social e sonoridades experimentais em nova fase da carreira


Por Mariana Souza*

23/10/2025 às 07h00

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Ao lado Julião Jr, Edson Leão celebra novo álbum solo (Foto: Leonardo Costa)

“Toda a minha história musical tem a ver com tentar traçar pontes”, assim define Edson Leão ao relembrar sua trajetória na música juiz-forana. Lançando seu segundo álbum solo, “Ingressos esgotados… para o fim do mundo”, o artista celebra a nova fase com um show nesta quinta-feira (23), às 20h, no Madame Geváh.

O cantor, que também atua com grupos de Juiz de Fora como Eminência Parda, O Fusca Voador, FBI e Parangolé Valvulado, explica que enxerga pontes onde elas nem sempre são evidentes. Ele faz um paralelo entre os gêneros musicais e sua própria trajetória de encontros e misturas, marcada pela influência da tecnologia sobre fontes musicais populares – como o rock e a MPB.

Entre o solo e a parceria

Figura marcante em diversas bandas da cidade, Edson encara agora uma nova realidade: a solitude no palco. Para ele, essa fase traz liberdade, mas também certo desconforto.

“Em banda, os colegas já são um primeiro filtro, um primeiro público. Não é por acaso que, neste novo álbum, apesar de a maioria das canções ser minha, coloquei o nome do produtor Julião Jr. também na assinatura do disco. Essas escolhas têm sido divididas de forma que o colocam num papel de parceria. Mas o impulso inicial da criação é, de fato, um mergulho interno mais profundo.”

Revisitando a própria trajetória, o artista reconhece que sua visão atual é resultado das transformações que o acompanham desde o início: “Sempre tive interesse pelas interseções entre canção e poesia, pelas misturas entre o rock e outras formas musicais – principalmente as brasileiras. É um olhar voltado à tradição, mas com curiosidade em relação ao novo. O rock e a música popular sempre foram, para mim, formas de arte e expressão de ideias.”

A parceria sob a luz do fim do túnel

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Parceiros de longa data, Edson explica que colaboração de Julião foi fundamental para a montagem do álbum (Foto: Leonardo Costa)

Foi também buscando pontes que Edson se uniu a Julião Jr. para a produção e execução das músicas do novo álbum. A parceria, segundo ele, surgiu nas aulas de violão oferecidas pelo produtor.

“Depois, trabalhamos juntos no álbum da banda Ou Sim, um projeto bastante livre e experimental. A parceria se aprofundou no disco ‘Mundos achados & perdidos’ e no show que resultou dele. Fomos aprendendo a trabalhar e a encontrar convergências”, conta Edson.

O cantor explica que a dupla realizou um show que dialogava com a Semana de Arte Moderna de 1922, marco que revelou uma nova visão sobre os processos artísticos e a busca por uma arte “mais brasileira”. Para ele, incorporar a Semana de 22 ao quadro de inspirações permitiu levar mais brasilidade e afro-latinidade à produção.

“Trouxemos algo de tropicalista para algumas passagens, sem abandonar referências como o folk, o pós-punk e o prog. E, apesar da angústia em refletir um tempo caótico, algo de utopia surgiu um pressentimento de luzes no fim do túnel.”

Fruto do Edital Murilão (Lei Murilo Mendes de Incentivo à Cultura), a dupla sobe ao palco para apresentar o que já havia sido antecipado no pré-lançamento do single “Outono inverno”. Edson adianta que o show contará também com as participações de Tata Rocha, do grupo Tata Chamas e As Inflamáveis, e de Pamela Emanuele. Buscando ampliar a acessibilidade, as canções serão acompanhadas pela tradução das letras em Libras durante a apresentação.

Um álbum sobre conflitos atuais

Com o título provocativo de “Ingressos esgotados… para o fim do mundo”, Edson explica que a sonoridade do novo trabalho passeia por influências do rock alternativo, pop experimental, pós-tropicalismo, world music, prog rock e afro-latinidades, tratadas de forma pessoal e experimental.

Segundo ele, o álbum reflete os dilemas que o Brasil e o mundo têm vivido nos últimos anos: retrocessos civilizatórios, riscos de autoaniquilação da espécie humana, colapso ambiental, dependência tecnológica e angústias individuais diante desse cenário.

“Há algo de grito, de crônica irônica e fragmentária de uma época que parece impossível de ser compreendida em sua totalidade. Mas o disco também aponta para a necessidade de utopias  e para o resgate do sentimento de que este não é o único mundo possível, nem a destruição o único caminho.”

*Estagiária sob supervisão da editora Gracielle Nocelli

Serviço

Show do álbum “Ingressos esgotados… para o fim do mundo”

  • Na quinta-feira (23), às 20h
  • No Madame Geváh (R. Marechal Deodoro, 280 – Centro)
  • Classificação: 18 anos

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