Um caleidoscópio com fragmentos de qualquer amor
Os professores Moisés Coppe e Thaís Moreira Silva lançam o livro bilíngue “Fragmentos de qualquer amor”, nascido a partir de uma brincadeira no Instagram
A cada chacoalhada, o livro “Fragmentos de qualquer amor” (Editora Siano, 232 páginas) entrega, como se um caleidoscópio fosse, distintas impressões sobre o amor. Não há vidros coloridos, pérolas, apenas poemas e o tempo. De autoria dos professores Moisés Coppe, 50 anos, e Thaís Moreira Silva, 36, a obra é bilíngue por ofício e não-linear por vocação. Lançado virtualmente em 22 de janeiro, “Fragmentos de qualquer amor” – ou “Fragments of any love” – nasceu do encontro entre os esforços da busca por respostas sobre o amor e da tentativa de reencontrá-las em uma nova língua, inclusive com o coloquialismo e o regionalismo.
Ainda que escrito nos últimos três anos, “Fragmentos de qualquer amor”, enquanto livro, foi gestado já durante a pandemia a partir de uma brincadeira entre Moisés e Thaís no Instagram. “Eu tinha uma página no Instagram chamada ‘Faça o amor acontecer’, em que divulgava fragmentos. E a Thaís, que é professora de inglês, levava para a sala de aula uma série de versos meus traduzidos para os alunos. Como a página se chamava ‘Faça o amor acontecer’, a Thaís então me perguntou certa vez: ‘Olha, vamos criar um projeto: Make love happen‘. E eu me animei”, lembra Moisés. À época, ambos ainda eram professores no Instituto Metodista Granbery.
Thaís, como ela mesma lembra, foi então convidada por Moisés para materializar o projeto. “Ele me convidou para fazer o livro com ele, porque ele já havia escrito os poemas em português.” Ao aceitá-lo, Thaís assumiu a coautoria, e, sobretudo, encontrou uma válvula de escape durante a quarentena entre “três escolas, quase mil alunos, um bebê e uma casa para cuidar”. “Não é apenas uma tradução do que está ali em português. Não dá para traduzir ao pé da letra. São muitas metáforas. São muitas palavras com ‘n’ significados na língua portuguesa, que, às vezes, não existem no inglês, porque é algo muito enraizado na nossa cultura. Então, tive que brincar muito com as palavras, com a sintaxe, para conseguir concluir o processo.”
A professora dos colégios Santa Catarina e Stella Matutina, além da Cultura Inglesa, sempre dedica “entre cinco e dez minutinhos” do início das aulas à leitura de textos de diferentes gêneros. “Teve um período que eu estava levando as frases do Moisés – inclusive, eu dava aula para a filha dele nessa época. Então, eu lia e dizia para traduzirmos para o inglês. Ou fazíamos a tradução juntos ou eu já trazia a tradução pronta. É muito gratificante para mim, porque, no caso dos textos do Moisés, eu comecei a fazer isso na sala da filha dele e ela morria de vergonha. Dizia, ‘Melissa, é o seu pai’ (risos).”
‘Qualquer maneira de amor vale a pena’
Os textos que Thaís levava para as salas de aula nasceram de impressões e intuições provocadas por um processo de psicoterapia analítica, explica Moisés. “Comecei a perceber que era muito difícil precisar o que é o amor. E, com isso, passei por um processo de entender apenas os fragmentos, de perceber que cada elemento no presente, no aqui e agora, de certa forma, determinaria ou pelo menos poderia trazer uma iluminação a respeito do que era o amor.” Por isso, a analogia travada entre a obra e o caleidoscópio pelo autor logo nas preliminares. “Digo que estou buscando pérolas no fundo do mar e cada pérola é colorida, e, quando as coloco no caleidoscópio, as imagens vão sendo modificadas à medida que eu balanço o caleidoscópio.”
Toda vez que balança o livro, diz Moisés, ele tem uma impressão diferente do que é o amor. Na verdade, de qualquer amor. “E ‘qualquer’ amor tem a ver com as diversas manifestações do que é o amor, pensando naquela música do Milton (Nascimento) ‘Qualquer maneira de amor vale a pena’, que serviu como inspiração para o título, de fato. São fragmentos, e, além de fragmentos, de qualquer amor, porque não há como demarcar cartesianamente o que é o amor, por mais que muitas pessoas tentem fazer isso.”
“Foi muito gratificante escrevê-lo. Ele é um fragmento de qualquer pessoa, um encontro de almas de cada pessoa. Muitas das expressões são minhas, oriundas da minha própria vivência. Outras, de conversas. Então, assim, é um caleidoscópio, como disse, um mosaico de informações das mais diversas, e cada uma delas dando um tom.”
E justamente a divisão em fragmentos presenteia os leitores com uma leitura não-linear. Cada verso terá um sentido conforme o momento de leitura, acrescenta o assistente editorial. “Pode ser que eu leia uma coisa hoje e nem toque o meu coração. Mas, daqui a pouco, aquela trova que li anteriormente pode ter um sentido bem diferenciado. É como acontece comigo. Eu vou ler e acho estranho, porque sei o momento em que foi escrita, mas, hoje, tem um significado diferente para mim.” Para Thaís, além de ser um livro para todas as idades, “Fragmentos de qualquer amor” pode ser lido em qualquer momento. “Você o abre, lê um poema e acabou. Você não precisa ler tudo de uma vez. Pode lê-lo de trás para frente, de frente para trás, do meio para o final, do final para o início. É um trabalho maravilhoso.”
‘O Poeta’
O livro é dedicado ao escritor Antônio Isair da Silva, idealizador do jornal “O Poeta”, que morreu em novembro de 2019 e é homenageado pelos autores com uma poesia feita por Moisés. “Sou amigo dos filhos dele, o Antônio era uma pessoa que eu respeitava muito na história de Juiz de Fora. Ele faleceu e deixou um legado muito grande de poesias, então não poderia fazer diferente do que dedicar o livro a ele”, conta o professor.
“A canoa singra o canal
O eterno comove em maestria
Num dia, poesia rompe o mal
Em outros, o poeta é poesia.”