Slam Fixe, Uai! reĂșne poetas de JF, africanos e europeus
Evento terĂĄ participação de artistas de paĂses de lĂngua portuguesa, alĂ©m da regiĂŁo espanhola da GalĂcia
A Confraria dos Poetas, de Juiz de Fora, realiza neste sĂĄbado (3) e domingo (4), Ă s 18h e de forma virtual, a primeira edição do Slam Fixe, Uai!, evento que reĂșne poetas de vĂĄrios paĂses de lĂngua portuguesa e tambĂ©m da regiĂŁo da GalĂcia, na Espanha. A competição pode ser acompanhada pela pĂĄgina do Slam PoĂ©tico da Ăgora no Facebook e tambĂ©m pelo canal da Confraria dos Poetas no YouTube.
O Slam Fixe, Uai! terĂĄ a participação de 18 poetas, sendo 11 do Brasil (Tay, Laura Rotter, Mah Ah Martins, Cigana, Juh Santos, King, Sohia Bispo, Rafa Leite, VitĂŁo, Laura PavĂŁo e Luciene Oliveira; a maioria de Juiz de Fora) e o restante de Angola (Omar SebastiĂŁo, mais conhecido como Poeta de Papel), Espanha (Peter Brea, que vai se expressar no idioma galego), GuinĂ© Bissau (N’miisso CamarĂĄ), Moçambique (Ivandro Sigaval), SĂŁo TomĂ© e PrĂncipe (Kedy) e Portugal (Luis PerdigĂŁo e Lucerna). A primeira fase serĂĄ realizada no sĂĄbado, quando serĂŁo definidos os cinco semifinalistas. No domingo acontecem a semifinal e a final, sendo que o primeiro colocado levarĂĄ o prĂȘmio de R$ 250, enquanto o segundo lugar serĂĄ premiado com R$ 150, e o terceiro, com R$ 100.
Desde 2017
Segundo um dos responsĂĄveis pela organização do Slam Fixe, Uai!, Ăric Meireles, a ideia de um slam com paĂses de lĂngua portuguesa surgiu antes mesmo da pandemia, entre outros motivos pelas tentativas nĂŁo concretizadas de levar os campeĂ”es do Slam Interescolar Nacional para a Copa do Mundo da categoria. “Chegamos na beirada com o Wandin (Wanderson LuĂs de Souza, que venceu o Slam Interescolar Nacional – categoria Ensino MĂ©dio – em 2019), mas desde 2017 tĂnhamos muita vontade de realizar o Slam Interescolar da LĂngua Portuguesa em Juiz de Fora”, conta. “Com a pandemia, pensamos que o mundo virtual daria condiçÔes de aproximar pessoas tĂŁo distantes e realizar uma mobilização que ultrapassa fronteiras, com os poetas da periferia de Juiz de Fora podendo dialogar com os poetas de lĂngua portuguesa de todo mundo.”
Outras lĂnguas
Foi essa necessidade de migração para o virtual que tornou possĂvel a realização do Slam Fixe, Uai!. Com os slams presenciais suspensos, foi criado um evento virtual chamado Slam viral, que teve apenas trĂȘs ediçÔes mas permitiu a Ăric criar laços com poetas do outro lado do oceano.
“O Chico Cesar, um dos idealizadores do Slam viral, foi nosso primeiro contato com outros poetas, pois a Ășltima edição do evento teve a participação de poetas africanos de lĂngua portuguesa. Fui um dos jurados e me encantei com esses poetas. Foi graças a essa participação que comecei a estabelecer esses laços. O Carlos MossorĂł, que Ă© professor da Universidade Federal de MossorĂł (RN), me apresentou a outra parcela de poetas africanos”, relembra. “Depois fui buscando outros caminhos e consegui estabelecer contato com o pessoal de Portugal e da GalĂcia, na Espanha, pois o galego e o portuguĂȘs tĂȘm a mesma origem. E ainda teremos a N’miisso CamarĂĄ, que vai declamar suas poesias em uma das variaçÔes do idioma crioulo que existe na Ăfrica.”
Daqui para lĂĄ, de lĂĄ para cĂĄ
Sobre os frutos que essa primeira edição do Slam Fixe, Uai! pode render, Ăric Meireles acredita que serĂĄ uma forma de projetar os poetas da Ăfrica e de Portugal no Brasil e vice-versa, pois “levamos esses nossos meninos para o mundo”. “Ă uma forma de mostrar que existem muitos falantes de lĂngua portuguesa pelo mundo, que existe uma unidade”, argumenta. “TambĂ©m oferece a abertura de espaços para nossos poetas da periferia, alĂ©m de uma troca poĂ©tica e estĂ©tica. A gente tem uma poesia tĂŁo boa, pujante, Ă© maneiro poder levar seus versos e a cidade para o mundo.”
Ăric destaca justamente a possibilidade dessa troca de experiĂȘncias e da criação poĂ©tica a partir de realidades Ă s vezes prĂłximas, Ă s vezes distantes. “Ă uma forma de trazer pra gente muitas influĂȘncias, reforça o olhar sobre a poesia falada que existe fora do Brasil, e estĂĄ em consonĂąncia com o objetivo da Confraria dos Poetas, que Ă© seguir o legado do Murilo Mendes a partir de uma poesia contemporĂąnea, pujante”, filosofa. “Existe no mundo uma diversidade de formas de ver as coisas, muitas diferenças mesmo nos paĂses de lĂngua portuguesa, mas que constroem o que hĂĄ de comum. Existe uma relação histĂłrica muito forte tanto com Portugal quanto com os paĂses africanos.”
Ele dĂĄ como exemplo a proximidade que existe mesmo entre termos e expressĂ”es que, a princĂpio, parecem ser culturalmente distantes. “‘Fixe’ Ă© uma gĂria para ‘legal, maneiro’ em todos os paĂses de lĂngua portuguesa, exceto o Brasil. Ao mesmo tempo, todo mundo sĂł achava que se falava ‘uai’ por aqui, principalmente em Minas Gerais, mas descobri que Ă© usado da mesma forma em GuinĂ© Bissau. Fiquei encantando com a descoberta, pois sempre se conta a histĂłria de que veio do ‘why?’ dos ingleses ou que teria vindo da senha da InconfidĂȘncia Mineira. Foi um grande prazer descobrir uma identidade com um paĂs tĂŁo diferente e ao mesmo tempo comum, de ver que temos uma unidade de construção histĂłrica que precisamos ‘descolonizar’.”