Fernanda Takai faz show do álbum ‘O tom da Takai’ neste sábado em JF
Cantora apresenta canções ‘lado B’ de Tom Jobim
Elas são parecidas. Ambas têm um traço inegável de leveza e uma autenticidade que salta aos olhos. Antes mesmo que pudessem se dar conta, elas já vinham caminhando lado a lado há anos, e agora as duas, Fernanda Takai e a bossa nova, selam seu encontro em grande estilo. Com produção e arranjos de dois expoentes do gênero, Roberto Menescal e Marcos Valle, o disco “O tom da Takai” traz, na voz da cantora, canções selecionadas pelo trio a dedo, no vasto cancioneiro de ninguém menos que Tom Jobim.
A ideia veio com a espontaneidade com que muitas das melhores coisas da vida surgem, quando os três se reuniram para celebrar os 80 anos de Menescal em uma série de shows em 2017, tocando um repertório variado de bossa. “Pra essa série, fiz um arranjo de ‘Estrada do Sol’, do Jobim, pensando na Takai, especialmente pra ela. E quando ela cantou no show, me veio o projeto na cabeça, na hora, com nome e tudo. Convidei o Marcos e ela ali mesmo no palco, na frente da plateia, e eles toparam. Depois disso, tudo fluiu, a gravadora confirmou, sugerimos as músicas, e a Fernanda gostou, selecionou, gravamos. Foi tão simples, sem complicações, mas o resultado está muito sofisticado”, diz Roberto Menescal.
O repertório do disco e do show tem uma pegada mais ‘lado b’, com algumas das primeiras composições do maestro, menos conhecidas do público do que grandes hits. Destas, sete faixas são produzidas e arranjadas por Roberto Menescal: “Aula de matemática/discussão” (pot-pourri), “Bonita”, “Esquecendo você”, “Samba torto”, “Eu preciso de você”, “Fotografia” e “Estrada do Sol”. As outras seis têm arranjos e produção de Marcos Valle: “Ai, quem me dera”, “Olha p’ro céu”, “Outra vez”, “Só saudade”, “The red blouse” e “Brigas Nunca Mais”. “Sempre tive muito cuidado de fazer qualquer coisa com músicas do Tom, porque ele já foi bastante gravado. Mas imediatamente vi que esse projeto poderia ser muito interessante, porque a Fernanda tem personalidade própria. Procuramos músicas menos gravadas, mas interessantes. Ouvi muita, muita coisa… Depois pensamos em arranjos diferentes também. O Menescal e eu dividimos as canções, mas tocamos juntos em todas, o que trouxe uma unidade. E a Fernanda tem uma voz deliciosa que se encaixa tão bem nas letras, suave, coloquial, se enquadrou perfeitamente. Tudo isso e também o clima, nossa amizade, deu tão certo que foi transpassado para o disco. Tenho muito orgulho de participar desse projeto”, conta Marcos Valle.
Em entrevista à Tribuna, Fernanda Takai, que empresta todos os seus tons a Tom no projeto – perdão pelo irresistível trocadilho -, fala sobre o trabalho, sobre o timing do disco em relação a sua carreira, à jornada dupla com o Pato Fu e sobre o desejo tão genuíno quanto suave de que o álbum se torne “desses discos que a gente ouve por muito tempo”. Antes mesmo de ver o encontro ao vivo, pelo menos no que depender da repórter, a temporalidade estendida está garantida.
– Tribuna – Você sempre flertou com a bossa nova e já disse em entrevistas que tem encanto pelo gênero desde criança. Como é poder realizar este projeto?
– Fernanda Takai – Acho que aconteceu num momento muito bom, de consolidação da minha carreira de 25 anos. Fico muito feliz por estar perto de duas grandes figuras do movimento e registrar nosso encontro num álbum tão bonito.
– Qual é a sensação de gravar Tom Jobim, com dois dos outros maiores nomes da bossa, que integraram o movimento em seu tempo?
É um artista muito gravado mundo afora, por isso tomamos cuidado com a seleção do repertório, com os arranjos exclusivos… a gente tinha que trazer uma leitura pessoal do Tom. Eu não poderia ter melhor companhia para esse trabalho.
– Vocês falaram, em entrevistas anteriores, sobre gravar um repertório lado B do cancioneiro do Tom para ressignificá-lo junto a um público diferente do que conhece tais músicas? Como tem sido essa experiência?
Tem sido ótima! As pessoas gostaram de nossas escolhas e também do resultado sonoro das novas versões. Espero que seja desses discos que a gente ouve por muito tempo.
– De que maneira a bossa nova a influenciou artisticamente?
Principalmente no modo de cantar, na preferência pela suavidade e leveza. É um movimento muito elegante que faz a gente se sentir bem.
– Nas entrevistas e no material de divulgação, fala-se como o trabalho foi construído a seis mãos. Como você acha que foi a participação de cada um neste processo?
Roberto Menescal e Marcos Valle, além de produtores e arranjadores, foram vitais na escolha do repertório diferenciado. Eles deram o norte ao projeto. Eu estava ali aprendendo e usando a minha intuição para as escolhas finais das canções. Houve um entrosamento enorme entre nós.
– Você enxerga, no cenário da música brasileira, movimentos que venham a ter ( ou tenham) a relevância da bossa nova? Por quê?
Acredito que a Tropicália tenha sido um movimento muito bem interessante também, pois reuniu artistas de escolas muito diferentes e foi reconhecida mundialmente. Mas a bossa nova tem uma marca mais forte e continua sendo um dos elementos culturais brasileiros mais bem sucedidos através dos tempos. Tem um DNA muito predominante e respeitado.
– Como seus trabalhos paralelos ao Pato Fu te influenciam criativamente para os trabalhos com a banda?
Talvez eu seja um dos poucos casos de artistas que mantêm carreira solo simultânea com a de uma banda e há tanto tempo assim. Já são quase 11 anos de trabalhos solo. Isso só pode me dar uma perspectiva mais ampla de carreira, arejando a minha vida como autora e intérprete.
Fernanda Takai
Show do álbum ‘O tom da Takai’ neste sábado (4), às 20h (abertura da casa) no Teatro Solar (A. Pres. Itamar Frranco 2.104). 3241-3107.