Prefeita irá propor lei que torna obrigatória coleta seletiva de lixo em Juiz de Fora
Em entrevista à Tribuna, Margarida Salomão falou sobre problemas urgentes da cidade, como tratamento de esgoto e áreas de risco
Em entrevista à Tribuna, realizada na manhã do dia 20 deste mês, a prefeita reeleita de Juiz de Fora Margarida Salomão (PT) falou sobre as prioridades e os desafios do próximo mandato em relação à pauta ambiental. Entre os temas colocados estão áreas de risco, projeto de despoluição do Rio Paraibuna, planos de manejo e implementação de espaços verdes na cidade. Além disso, a gestora municipal disse ainda que pretende propor em 2025 um projeto de lei (PL) que torna obrigatória a coleta seletiva de lixo em Juiz de Fora.
Leia a entrevista com a Prefeita abaixo:
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Tribuna: Quais serão as prioridades em relação à pauta ambiental no segundo mandato?
Margarida Salomão: Nós recriamos a Secretaria de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas para favorecer as ações de preservação, que precisam de uma atualização das normativas que estão defasadas e de ações mais efetivas em relação às reservas, como a do Poço D’antas, do São Pedro e o Morro do Cristo. Temos planos de manejo que combinam preservação com uso, porque o uso também preserva.
Hoje, por exemplo, temos um uso do Parque da Lajinha muito mais variado e intenso do que em períodos anteriores. No Parque da Lajinha, nós temos o plantio de uma grande mata nativa de Juiz de Fora. Neste período, nós plantamos 10 mil mudas.
As pessoas às vezes estão preocupadas com aqueles eucaliptos que foram cortados no estádio para implantar placas de energia solar, mas, na verdade, era um esforço ambiental. Por que estou preocupada com esse negócio se, na verdade, a energia no Brasil é maximamente limpa, que é a hidrelétrica? O problema é que nós não podemos ficar reféns, inclusive, de secas. As mudanças climáticas estão aí. Então, se chover menos, acontece uma queda nos reservatórios. Por isso, é necessário complementar com outras formas de energia.
Dessa forma, a pauta da energia é um dos vetores de prioridade de trabalho da nova Secretaria de Meio Ambiente. Além das usinas de energia solar, uma já foi implantada e outra está sendo implantada na área do Distrito Industrial, temos outros dois pontos importantes a acontecer e que juntam-se à questão do resíduo sólido, o famoso lixo: reciclagem. No início do ano, eu vou propor à Câmara uma legislação tornando impositiva a coleta seletiva. Nós temos hoje a possibilidade de fazer coleta seletiva na cidade inteira, mas quantos praticam? Isso é uma questão educativa, é uma mudança cultural, de você separar o lixo reciclável daquele que é orgânico.
Outro destaque, que está bem avançado, é termos uma usinagem do lixo que chega ao aterro, transformando em energia. Se eu usinar uma parte do lixo que chega no aterro, eu ilumino uma cidade de 50 mil habitantes. Eu consigo zerar a conta de energia da prefeitura, que já vai chegar em 30% com as duas usinas fotovoltaicas funcionando.
Além disso, nós não queremos ocupação humana perto do aterro, mas hoje ele é muito próximo do Bairro Barreira e de outras regiões bem povoadas da Zona Norte. Então, recolher os gases gerados no aterro, que causam riscos, é um empreendimento econômico e uma questão ambiental. A pauta dos resíduos sólidos eu acho que está no coração das políticas ambientais que nós vamos desenvolver nos próximos quatro anos.
Ambientalistas ouvidos pela Tribuna na matéria sobre perspectivas para 2025 apontaram que pouco foi feito para a implementação dos parques Poço D’antas e São Pedro, do Plano de Manejo do Parque da Lajinha e do Plano Municipal da Mata Atlântica anunciados em 2023. Qual o espaço desses projetos no próximo mandato?
Esses projetos foram anunciados no fim de 2023, agora estamos no fim de 2024, então é óbvio que não pode ser tudo ao mesmo tempo. Embora nós temos uma agenda prioritária, às vezes ela compete com outras emergências que surgem na vida urbana. Nós tivemos inundações e deslizamentos, mas não tivemos nenhuma morte graças ao nosso plano de contenção de risco. Porém, aconteceu o caso da marquise e, mesmo sendo responsabilidade privada, a Prefeitura precisou atuar. Agora eu ando pela cidade e está todo mundo reformando marquise. Então, são coisas que você não imagina que vão acontecer e que de repente se tornam a sua primeira pauta. Com a Secretaria de Meio Ambiente, eu vou ter oportunidade de priorizar e desenvolver essas outras questões.
Em relação à questão das áreas de risco, Juiz de Fora ocupa a terceira posição entre os municípios mineiros com mais áreas de risco.
Sim. A cidade foi construída em uma área de risco, na várzea ou nos morros. Com isso, você tem o risco de inundação ou de deslizamento. E o crescimento desregrado de Juiz de Fora já é um fato histórico. O que nós estamos fazendo? Por exemplo, esse projeto de Juiz de Fora +100, das macrodrenagens, do atendimento de drenagem pela cidade, mais contenções, com o financiamento do Novo PAC, isso é meio ambiente, isso é resiliência urbana. Para que não aconteça jamais em Juiz de Fora o que aconteceu em Porto Alegre. Então, isso é, de fato, um investimento prioritário do nosso governo. Já era, e agora, nesses próximos quatro anos, não tenha dúvida que vão ser obras que eu vou entregar prontas até o fim de 2028.
Um problema que também é muito antigo na cidade é a questão do Rio Paraibuna. Um professor da UFJF desenvolveu um estudo sobre o potencial de assoreamento do rio, justamente por causa do esgoto e outros sedimentos que caem no curso d’água. Em qual etapa está a obra de despoluição do rio e qual a meta para o próximo ano em relação ao tratamento de esgoto na cidade?
Quanto tempo começou? Foi no governo Bejani, então tem 20 anos. A meta para os próximos quatro anos é chegar a 90% do tratamento de esgoto da cidade. E acho que o nosso governo pode fazer isso, pois passamos de 7% para 45%. Foi um crescimento bastante expressivo, mas não satisfatório. Eu me sinto muito constrangida de ser a prefeita de uma cidade que ainda tem um índice muito insuficiente de despoluição da baía.
Também não é uma coisa simples, porque despoluir a baía significa furar rua, fazer intervenções em áreas muito povoadas, afetando o trânsito duramente. O que nós temos hoje pronto de coleta é a margem direita do Paraibuna, mas não toda. Não tem nada na margem esquerda. Então, o que chega do córrego Yung, por exemplo, ali não tem nada, nós começamos a fazer agora.
Com a nova Secretária de Desenvolvimento Urbano, nós vamos poder fazer isso com um pouco mais de velocidade. Nós já temos o dinheiro, que seria muito complicado se não tivesse. Nós ganhamos agora do PAC mais R$ 28 milhões para fazer a despoluição do córrego Ribeirão das Rosas, que é aquele que vem do Bairro Grama, que passa pela Vila dos Sonhos, uma região muito pobre, que precisa mesmo de uma intervenção dessa natureza. Então, eu acho que nós chegaremos a esse índice, eu vou trabalhar para chegarmos a 90%.
Tópicos: coletiva seletiva / meio ambiente / Rio Paraibuna