Hospitalizações por Covid-19 em JF crescem 173% em um mês
Internações e casos de Covid-19 dispararam desde as festas de fim de ano; média de óbitos, por outro lado, segue baixa
O número de internações causadas pela Covid-19 alcançou, nesta semana, o maior patamar desde setembro de 2021. O novo momento da pandemia em Juiz de Fora, que chama atenção pela explosão no número de pessoas infectadas pelo coronavírus, seguindo tendência que vem ocorrendo no restante do país, passou a refletir também no aumento contínuo da quantidade de hospitalizações desde janeiro, chegando a 153 pessoas internadas nesta segunda-feira (17), o maior número em mais de quatro meses.
A disparada das internações causadas pela Covid-19 no município passou a ser notada após as festas de fim de ano. Conforme o boletim da Secretaria de Saúde do dia 20 de dezembro, o último enviado à Tribuna antes do Natal, 56 pessoas estavam hospitalizadas em decorrência da doença naquela data. Cerca de 29 dias depois, em 17 de janeiro, 97 pessoas a mais estavam internadas, com um total de 153 pacientes sendo tratados contra a Covid-19 em hospitais da cidade. Em cerca de um mês, o aumento foi de 173%.
A última vez que a cidade teve esta quantidade de pessoas hospitalizadas simultaneamente foi em 13 de setembro. Na ocasião, entretanto, os dados apontavam para características distintas quando se considera o contágio pelo vírus e o impacto causado na população: eram menos contaminações e mais óbitos, exatamente o contrário do que mostra o cenário atual.
A média móvel de contaminações pelo coronavírus nos 14 dias anteriores a 13 de setembro era de 53 casos diários. Atualmente, a mesma média aponta para 93 infecções diárias. No caso dos óbitos, a situação é invertida: Juiz de Fora tinha média móvel de dois óbitos por dia em 13 de setembro. Este número, entretanto, caiu para 0,21 óbito por dia nesta semana.
Ocupação de leitos
A desmobilização de leitos dedicados à Covid-19, por sua vez, se reflete em aumento na taxa de ocupação nos hospitais. Em 13 de setembro, 31,43% dos leitos de terapia intensiva (UTI) do SUS exclusivos para tratamento da doença estavam ocupados, com 55 pacientes internados. Na mesma ocasião, os 98 internados em enfermarias ocupavam 38,27% dos leitos disponíveis naquele momento.
Já nesta segunda-feira, 60,78% dos leitos UTI SUS dedicados à Covid-19 estavam ocupados, com 43 pessoas internadas. No caso dos leitos de enfermaria, eram 110 hospitalizados, com um percentual de 54,55% de ocupação.
Hospitais admitem aumento na demanda
No início de janeiro, a Tribuna mostrou que os hospitais já tinham observado aumento na procura por atendimento médico. Nesta terça-feira (18) o jornal voltou a entrar em contato com as instituições, que afirmaram haver crescimento na demanda após as festas de fim de ano.
O Hospital Albert Sabin é um deles: “Após as festas de final de ano voltamos a enfrentar uma nova crise da pandemia de Covid-19, acarretando aumento significativo na demanda por atendimentos nas Unidades de Urgência e Emergência”. A maior demanda fez com que as internações, que estavam baixas, começassem a aumentar nesta semana, de acordo com a unidade. Na unidade, 14 pacientes estavam internados na tarde desta terça, sendo dez com suspeita de Covid-19 e quatro com infecções confirmadas. Ainda conforme o hospital, são 13 pessoas adultas, com idades entre 50 e 90 anos, e um bebê de dois dias hospitalizados. Entre esses pacientes, apenas o bebê e a mãe não têm comorbidades.
O Hospital Unimed Juiz de Fora, por sua vez, afirma que a taxa de ocupação nos apartamentos e leitos de enfermaria está, atualmente, em 80%, após o recente aumento dos casos de síndromes respiratórias. “O crescimento foi de 70% em relação ao início de dezembro do ano passado. Até o momento, os casos são sem gravidade”, diz, em nota, a unidade.
Na manhã desta quarta-feira (19), por assessoria, o Hospital Monte Sinai informou que há 18 pacientes internados nas unidades Covid-19 do hospital. Desses, 14 estão em cuidados clínicos, sendo oito casos confirmados, cinco em investigação e um negativo; e quatro em cuidados intensivos, sendo um em investigação e três casos confirmados.
A reportagem também fez contato com a assessoria do Hospital Santa Casa, que tem atendimento voltado aos pacientes contaminados com Covid-19, mas não houve retorno até o fechamento desta reportagem.
Questionada pela Tribuna, a Secretaria de Saúde da Prefeitura de Juiz de Fora informou, por meio de nota, que segue monitorando os dados da pandemia no município e que, apesar das recentes alterações, “os leitos disponíveis são suficientes para o acolhimento aos pacientes”. A desmobilização dos equipamentos, segundo a secretaria, foi realizada com “estudo, acompanhamento e monitoramento epidemiológico que apresentaram segurança para tal”.
A secretaria ainda argumenta que a vacinação avança na cidade de tal modo que as complicações decorrentes da Covid-19 são baixas em infectados. Entretanto, o Executivo segue recomendando a vacinação, o uso de máscaras e o distanciamento social, sempre que possível..
Nível de transmissão está muito elevado, afirma especialista
O cenário epidemiológico da pandemia é de alto índice de transmissão do coronavírus, conforme o pesquisador Marcel Vieira, que faz parte da plataforma JF Salvando Todos, responsável por monitorar a evolução da pandemia em Juiz de Fora. “Na semana passada foram registrados 844 casos de Covid-19. Isso representa o total de 146 casos a cada cem mil habitantes”, calcula o especialista. “Esse valor é classificado como um nível de transmissão muito elevado. Ou seja, estamos em um momento de alta transmissão do coronavírus, e esses casos começam, então, a aparecer nas estatísticas do município”.
O professor lembra o apagão de dados nas plataformas do Ministério da Saúde, que começou no dia 9 de dezembro e permaneceu até o início de 2022. O problema no sistema da pasta federal também afetou a plataforma de registro de casos do Ministério, que é abastecida pelas unidades de saúde de todos os municípios. Apesar disso, mesmo com base nesses dados, já é possível perceber o aumento, conforme o pesquisador. “Na semana passada, que foi a segunda semana epidemiológica, já ficou bastante claro esse aumento de casos”, pontua. “As hospitalizações, que vinham se mantendo estáveis e em um patamar relativamente baixo até o mês de dezembro, começaram a aumentar ainda no final do mês de dezembro”.
De acordo com Marcel Vieira, os pacientes internados com Covid-19 que necessitam de atendimento hospitalar ainda permanecem, em sua maioria, nos leitos de enfermaria. Além disso, ainda não foi possível notar reflexos do aumento de casos e de internações no número de óbitos causados pela doença. Entretanto, as mortes costumam aparecer cerca de duas semanas após os picos de contaminações, segundo o professor. “De acordo com resultados observados em outros países, pessoas com esquema vacinal completo têm sido acometidas por formas menos graves da Covid-19, em geral. Mas, mesmo assim, precisamos aguardar as próximas semanas para verificarmos qual será o impacto desse aumento de casos no número de vidas perdidas no município”, pondera.
Tópicos: coronavírus