UFJF convoca voluntários para estudo sobre sintomas neuropsiquiátricos pós-Covid
Intuito é oferecer programa de reabilitação cognitiva para pacientes recuperados da doença
Com o objetivo de oferecer um programa de reabilitação cognitiva para pacientes recuperados da Covid-19, pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) estão convocando voluntários para participar de um estudo sobre avaliação e reabilitação neuropsiquiátrica de pessoas que tiveram a doença e, posteriormente, apresentaram problemas cognitivos, como perda de memória e confusão mental. Os interessados em se voluntariar devem preencher um formulário on-line que, inicialmente, está aberto para pessoas que passaram por internação, seja em CTI ou UTI, devido a sintomas graves da doença.
A pesquisa, intitulada “Ensaio clínico sobre o efeito da reabilitação cognitiva em indivíduos com Covid-19 grave”, é coordenada pela pesquisadora Nadia Shigaeff, do Departamento de Psicologia do Instituto de Ciências Humanas (ICH), e é realizada por meio de uma parceria entre o Núcleo Interdisciplinar de Pesquisa em Neuropsicologia e Gerontologia e o Núcleo de Pesquisa em Neurologia do Programa de Pós Graduação em Saúde (PPgS) da UFJF. O formulário de inscrição pode ser acessado por meio deste link:
Conforme Nádia, esse tipo de reabilitação ainda não é ofertado pela rede de saúde pública. “O participante terá acesso gratuito a um tratamento especializado, que não existe ainda no Sistema Único de Saúde (SUS) e que tem um custo elevado na rede privada, além de poder contribuir ao desenvolvimento do estudo para que mais pessoas possam ser auxiliadas futuramente.” De acordo com a UFJF, é garantido o sigilo de toda e qualquer informação oferecida pelo participante, sendo as mesmas utilizadas somente para os fins da pesquisa.
Nadia, que também é coordenadora da Liga de Neurociência da UFJF, explica que a avaliação e a reabilitação cognitiva auxiliam no diagnóstico clínico e na recuperação das dificuldades cognitivas – no caso de demências, pode auxiliar, inclusive, na desaceleração da progressão da doença, tornando os indivíduos mais independentes e, com isso, aumentando a qualidade de vida. “Além de auxiliar os pacientes na recuperação de suas habilidades cognitivas, o estudo visa contribuir para o conhecimento científico a fim de entender se as lesões causadas pelo vírus da Covid-19 são passíveis de remissão”, afirma a professora. A hipótese do estudo é de que o paciente pode recuperar as habilidades comprometidas através desses tratamentos.
Esforço científico para compreender e tratar as sequelas da Covid-19
A instituição destaca que a pandemia gerou um esforço de cientistas de diversas áreas ao redor do mundo e, por mais que os estudos estejam em estado avançado, ainda há diversas complicações da doença a serem desvendadas. Uma das abordagens teóricas a respeito das lesões cognitivas entende que o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, possui, em sua membrana, diversas glicoproteínas que interagem com a angiotensina-2, uma enzima conversora presente em diversos locais do corpo humano, inclusive no cérebro.
O caminho do vírus, que passa pelas vias aéreas e atinge o sistema nervoso central, é curto e eficaz. Outra forma de comprometimento nervoso causado pelo SARS-CoV-2 se dá pelo seu aspecto neurotrópico e neuro invasivo, rompendo a barreira hematoencefálica e provocando uma resposta imunológica. A “tempestade de citocinas” que tenta combater a infecção acaba por gerar um processo inflamatório, ocasionando a morte de neurônios e outras células importantes do cérebro responsáveis por atividades motoras e pela manifestação da memória. Daí, a importância do avanço de novos estudos e da criação de um programa de reabilitação.
Estudos similares já apontam sintomas de disfunção cognitiva pós Covid
Um estudo similar produzido recentemente pelo Instituto do Coração (InCor) revelou que 80% do grupo de participantes, composto por pessoas de diferentes idades que contraíram Covid em graus distintos da doença, apresentaram sintomas de disfunção cognitiva. Já outro estudo, este da Unicamp, apresenta dados preliminares que sugerem que, mesmo em casos leves, a doença pode causar alteração no padrão de conectividade funcional do cérebro, num episódio de “curto-circuito” sináptico.
Tópicos: coronavírus / vacina