Um a cada três óbitos em 2021 foi causado pela Covid-19 em JF
Dos 1.653 falecimentos ocorridos no município no primeiro trimestre deste ano, 546 foram em decorrência da doença; relatos dão conta de atrasos para sepultamentos no Cemitério Municipal
No primeiro trimestre de 2021, 1.653 óbitos foram registrados em Juiz de Fora. Deste total, 546 foram decorrentes da Covid-19. Com isso, o número de vítimas da doença representa cerca de 33% de todas as mortes ocorridas entre 1º de janeiro a 31 de março. O recorte foi feito com base nos dados do Portal da Transparência do Registro Civil e de reportagem anteriormente publicada pela Tribuna, que demonstrava que o quantitativo de óbitos confirmados para Covid-19 no primeiro trimestre do ano já superou o número de mortes ocorridas ao longo de 2020.
Em números gerais, nos primeiros três meses do ano passado, quando ainda não havia óbitos pela Covid-19 no município, o mês de janeiro teve 371 falecimentos, enquanto em fevereiro e março foram 354 e 382, respectivamente. Ao todo, 1.107 pessoas morreram na cidade neste período. Já em 2021 foram 585 óbitos em janeiro, 431 em fevereiro e 637 em março, somando 1.653 falecimentos no total. Com isso, os dados indicam que houve aumento em quase 50% no número de óbitos registrados em Juiz de Fora em comparação com o primeiro trimestre do ano passado.
O aumento no número de óbitos ocorre em um momento em que a pandemia da Covid-19 está em seu pior cenário na cidade. Entre 1° de janeiro e 31 de março deste ano, Juiz de Fora perdeu 546 de seus moradores vítimas da doença, o que representa seis óbitos por dia ao longo dos últimos três meses. Em 2020, o número de falecimentos contabilizados é de 536 – uma média de 1,9 mortes por dia no período, de acordo com levantamento feito pela Tribuna, com base nos dados divulgados pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF), publicado na última sexta-feira (2). Ou seja, de todos os 1.653 óbitos ocorridos na cidade no período, cerca de um terço foi de vítimas da Covid-19.
Leitora relata espera por sepultamento
Com o aumento de quase 50% no número de óbitos registrados em Juiz de Fora em comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o Cemitério Municipal está com alta demanda nos sepultamentos, o que estaria ocasionando maior espera para o procedimento.
Relatos de leitores à Tribuna dão conta de que, em algumas ocasiões, teria havido a necessidade de aguardar vagas para realizar os enterros, mesmo após o Cemitério ampliar o atendimento. Entretanto, em contato com a reportagem, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) informou que “não há fila de espera para sepultamento no Cemitério Municipal”. Apesar do aumento no ritmo de trabalho, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Asseio, Conservação e Limpeza Urbana (Sinteac), entidade que representa os coveiros do Cemitério Municipal, e a Administração municipal garantiram que não há problemas quanto à disponibilidade de covas.
No entanto, Marta de Jesus Batista, que perdeu o pai na madrugada da última segunda-feira (29), conta que tomou as providências para realizar o enterro na manhã do mesmo dia. Entretanto, ela precisou aguardar até o dia seguinte, terça-feira (30), para conseguir sepultá-lo. “Nós fomos ao hospital 7h dar entrada no papel para retirar o corpo dele, e não teve horário na segunda-feira para enterrar meu pai”, conta. “Falaram que estava muito cheio e não tinha como arrumar um horário para ele na segunda-feira.”
De acordo com o presidente do Sinteac, Sérgio Felix, o Cemitério Municipal ampliou o horário de atendimento, bem como a disponibilidade de vagas para sepultamento, entretanto, mesmo com as medidas, ainda ocorre a necessidade de aguardar vagas em determinados dias. “Antes, os sepultamentos eram realizados entre 8h e 16h, de hora em hora. Hoje, passaram a ocorrer de 7h até as 17h, de meia em meia hora. Às vezes, mesmo com a ampliação deste horário, não dá para fazer (o enterro) no dia. Tem que deixar o sepultamento para o próximo dia”, explica.
A Tribuna também procurou a assessoria da Santa Casa de Misericórdia, responsável pela administração do Parque da Saudade – maior cemitério privado de Juiz de Fora -, que informou que também observou aumento no número de sepultamentos em março deste ano. Entretanto, conforme a nota enviada à reportagem, o cemitério está “conseguindo fazer tudo dentro do expediente normal”.
Disponibilidade de covas
Boatos que circulam nas redes sociais têm sugerido que o Cemitério Municipal está enfrentando problemas para abertura de novas covas e que estas podem vir a faltar por conta do aumento nos óbitos. Entretanto, segundo o Sinteac, esta informação não procede. Apesar da alta demanda, ainda há disponibilidade de covas no local. “Não faltou covas em momento algum. Tem espaço lá, está dentro da normalidade”, diz o presidente da categoria. “Aumentou o ritmo de trabalho, mas falta de cova não existe”, reforça.
Em nota, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) explicou que se adaptou às exigências sanitárias desde o início da pandemia, aumentando, inclusive, a capacidade de atendimento sempre que necessário para suprir a demanda por sepultamentos. Conforme a Administração municipal, atualmente, a capacidade do Cemitério Municipal é de 30 sepultamentos por dia. “Todos os dias são abertas oito covas extras e, além disso, a cada 45 dias, o cemitério libera uma nova quadra para sepultamento, com capacidade para 309 covas. Ainda há capacidade de expansão, caso necessário”, explica o texto.
Além disso, a PJF informou que “não há fila de espera para sepultamento no Cemitério Municipal”. Sobre o caso que ocorreu na última segunda-feira, a Administração municipal explicou que, na realidade, “não havia vagas nas nossas capelas para o corpo ser velado naquele momento”. De acordo com a Prefeitura, por conta disso, a família optou por velá-lo no dia seguinte, e o sepultamento foi realizado na terça. “Vale ressaltar que há outros locais onde as pessoas podem ser veladas, como capelas de igrejas, em funerárias e em outros cemitérios”.
Coveiros são vacinados em Juiz de Fora
No final de fevereiro, a Tribuna publicou uma reportagem informando que o Sinteac havia solicitado à PJF prioridade para os funcionários do Cemitério Municipal na vacinação contra o coronavírus. Na ocasião, a entidade destacou que, desde o início da pandemia, o serviço prestado pela categoria foi reconhecido como essencial e que as atividades não foram interrompidas.
Em nova conversa com a reportagem, Sérgio Felix, presidente do sindicato, informou que todos os funcionários do Cemitério Municipal já receberam o imunizante contra a Covid-19. “Nós encaminhamos um ofício para a Secretaria de Saúde no início de fevereiro, e aí a Prefeitura nos atendeu. Todos já tomaram a primeira dose, não só o pessoal dos coveiros, como todos os demais funcionários, inclusive do administrativo.” No local trabalham 38 pessoas, sendo 14 coveiros.
Conforme a Secretaria de Saúde da PJF, todos os trabalhadores dos cemitérios em Juiz de Fora – municipais ou não – foram vacinados, inclusive os funcionários das funerárias, seguindo Nota Técnica do Ministério da Saúde. “Em caso de alguma exceção, por motivo desconhecido da PJF, solicitamos que entrem em contato com a Secretaria para encaminhamento.”
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