Saiba como amenizar desconforto causado por fogos de artifício em animais

Nem só os cães sofrem com o barulho dos shows pirotécnicos típicos do Ano Novo; aves também são afetadas, mesmo com fogos silenciosos


Por Nayara Zanetti e Bernardo Marchiori, estagiário sob supervisão do editor Wendell Guiducci

30/12/2023 às 07h00

Com a chegada de mais uma comemoração de Réveillon, volta também a preocupação com a soltura de fogos de artifício na virada de ano. Embora seja um símbolo de festividade e alegria, o espetáculo de diferentes cores no céu causa sérios danos, e o barulho é apenas um dos problemas. A queima de fogos aumenta consideravelmente a concentração de poluentes no ar, o que impacta diretamente a saúde humana e o meio ambiente. O barulho, entretanto, é maior vilão para os animais.

De acordo com a médica veterinária Juliana Imbroisi, o som alto e excessivo pode causar quadros de estresse, ansiedade e medo, gerando situações de fugas, traumas e desconforto. “Em geral, os pets possuem sensibilidade auditiva superior à nossa. Os cães, por exemplo, possuem capacidade auditiva duas vezes maior do que a dos humanos. Por isso, barulhos que não são tão incômodos para nós podem causar malefícios para eles. Animais mais ansiosos e assustados são os que mais sofrem com os fogos de artifício, assim como animais de rua e em situação de vulnerabilidade”, destaca. De qualquer forma, ela afirma que qualquer pet é suscetível a sofrer com o barulho dos fogos.

No caso das aves, segundo um estudo desenvolvido na Holanda, esse grupo pode ser afetado pelos fogos em um raio de até 10 quilômetros de distância. Foi constatado que, durante a noite da virada, há em média mil vezes mais pássaros no céu do que nas noites normais. Segundo o veterinário Rômulo Castro, especialista em aves, a queima de fogos pode causar sérios danos a elas, já que a liberação de adrenalina provocada pelas chamas aumenta a pressão arterial, a frequência cardíaca, a temperatura corporal e até a glicemia desses animais por horas após o fim da queima de fogos. “Tudo isso gera danos cardiovasculares, renais e neurológicos, fazendo com que muitas aves venham a óbito.”

O especialista explica que o barulho causado pelos fogos afeta diretamente a população de aves que possuem uma audição muito aguçada, porém, esse fator não é o único que irá comprometer a saúde desses animais: algumas espécies têm menos acuidade auditiva, mas apresentam um campo de visão maior, então mesmo os fogos que não emitem som prejudicam esse grupo com a poluição visual. “Algumas aves, igual os psitacídeos, enxergam o espectro ultravioleta, que inclusive os permite diferenciar o macho da fêmea pela coloração. Eles têm uma visão bem diferente da nossa, o que faz com que os fogos de artifício sejam muitos prejudiciais não só em relação ao barulho.”

fogos de artificio Gabriel Monteiro Secom
Fogos de estampidos estão proibidos em Juiz de Fora, mas a luminosidade também afeta os animais (Foto: Gabriel Monteiro/Secom)

O que fazer para amenizar os impactos?

O veterinário conta que já atendeu, nesse período, diversos casos de aves que tiveram fratura de perna, asa ou bico, pois estavam dentro de uma gaiola ou ambiente pequeno e se debateram; outras tiveram convulsão. Por isso, ele orienta a população a colocar esses animais em lugares protegidos, para amenizar o barulho e a luz. “É importante deixar esses animais em um ambiente mais tranquilo, longe de janelas, tampar frestas para impedir que o som chegue ao local ou colocar cobertor por cima de ambientes para a luz não entrar, fazer tendas. Essas são algumas das opções. Os fogos deveriam acabar. É muito bonito, mas prejudicial”, opina Rômulo.

Existem diversas técnicas utilizadas que podem ajudar os animais a não sofrerem tanto com o barulho. Mesmo assim, Juliana Imbroisi ressalta que uma consulta com um médico veterinário é sempre indicada para avaliar qual a necessidade do seu pet. “Alguns animais necessitam de medicações para não sofrerem com o estresse. Entretanto, a administração de todo e qualquer medicamento deve ser feita mediante uma prescrição de um profissional da área. De forma geral, indica-se colocar o animal em um ambiente calmo, tranquilo e seguro, sem prendê-lo em guias e coleiras. Músicas podem ser utilizadas para tentar mascarar o barulho dos fogos. A identificação do pet, com coleira contendo o nome do proprietário e seu telefone ou microchip, é recomendada para localizar o animal em casos de fuga.”

Lei proíbe soltura de fogos com ruído

De acordo com a legislação municipal, o manuseio, a utilização, a queima e a soltura de fogos de estampidos e de artifícios, assim como de quaisquer artefatos pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso, são proibidos em Juiz de Fora. Ainda no texto, o descumprimento da lei acarreta em multa de R$ 1 mil, com valor dobrado em caso de reincidência.

Para 2023, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) promove a campanha “É tempo de Luz”. A iniciativa busca impedir a prática, além de conscientizar a população a respeito da gravidade dos fogos ruidosos para saúde e bem-estar não só de animais, mas também de crianças, pessoas idosas e pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Conforme a Administração municipal, estabelecimentos como bares, restaurantes, clubes e casas noturnas devem fixar placas informando a proibição.

Para denunciar locais que estejam vendendo fogos de artifício de forma irregular, com efeito sonoro ruidoso de alta intensidade, os cidadãos devem enviar mensagem por WhatsApp para o telefone (32) 3690-7984.

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