Réquiem para o Granbery
“Granberyense é um estado de espírito, um estilo de formação, uma chama que não se apaga”
Quando, em 2017, minha turma do Científico comemorava 60 anos de conclusão do curso, fizemos questão de marcar presença no almoço anual da Associação dos Granberyenses, Setor Rio, três colegas sempre muito unidos: Evandro Parente, engenheiro cearense, vindo especialmente de Fortaleza para o que seria o nosso último encontro; Victor Moraes, diplomata, que, aposentado, voltara a residir em Juiz de Fora, e o autor desta texto. Instado a falar, disse temer que, em breve, estivéssemos, ali, a recordar não propriamente os nossos tempos de Granbery, mas o próprio Granbery.
Dia 24 último, ao abrir este jornal, dei com a notícia que, então, pressentira: o prédio principal do colégio e a área de esportes foram vendidos em hasta pública, e, até o fim do ano, o estabelecimento de ensino que, por mais de um século, havia sido uma instituição modelar no plano da educação local, deixaria de existir. Subsistirá (ainda bem) a Faculdade Granbery, com os cursos superiores que, retomando uma vocação inicial, a instituição passou a oferecer nos últimos anos. E, no prédio principal do colégio (outra notícia consoladora), o Sesi instalará uma unidade de ensino, que, oxalá, possa recolher os ecos de um cenário onde tantos talentos se forjaram e os melhores valores da formação humanística se difundiram.
Fundado em 1889 por missionários americanos da Igreja Metodista, o Instituto Granbery (assim prefiro evocá-lo) tornou-se, mais do que uma escola municipal, uma referência nacional. Contando, durante muito tempo, com internato, pôde atrair para Juiz de Fora estudantes vindos de todas as partes do país, fazendo da cidade um centro de estudos que antecipou, em alguns anos, o papel que essa hoje ostenta com a sua universidade federal. Theotônio Negrão, eminente advogado paulista, conhecido pelos seus valiosos códigos anotados, disse, certa feita, que, para a sua formação, a passagem pelo Granbery fora mais importante que os tempos de estudo na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco. Assim como ele, grandes juristas frequentaram o colégio, em diferentes épocas: Victor Nunes Leal, Darcy Bessone, Alcino de Paula Salazar, Moacyr Borges de Mattos; acadêmicos e poetas, como Antônio da Silva Melo, Augusto Frederico Schmidt, Affonso Romano de Sant’Anna; políticos como Odilon Braga, Noraldino Lima e Itamar Franco; desportistas, como o famoso Nariz (Dr. Álvaro Lopes Cançado, de Uberaba) e Evaristo Macedo.
Mister Moore, o grande reitor de duas décadas distintas, dizia que não há ex-granberyenses, há ex-alunos do Granbery. Granberyense é um estado de espírito, um estilo de formação, uma chama que não se apaga.