A atuação do Brasil na crise venezuelana
“O atual cenário venezuelano não pode ser visto como surpreendente, na medida em que o regime emitiu diversos sinais nesse sentido. Além disso, o autoritarismo está na raiz do chavismo.”
As eleições presidenciais realizadas na Venezuela, no dia 28 de julho, um domingo, tiveram sua lisura comprometida por ações do governo Maduro, em clara manobra para permanecer no poder. Decorrido quase um mês, o regime chavista se fechou em torno do atual mandatário, ampliou a repressão contra opositores e demais cidadãos e, segundo a ONU, cerca de 2,4 mil pessoas foram detidas e 20 foram mortas.
O atual cenário venezuelano não pode ser visto como surpreendente, na medida em que o regime emitiu diversos sinais nesse sentido. Além disso, o autoritarismo está na raiz do chavismo. Com Maduro no comando, apenas perdeu o toque de carisma que Chávez acrescentava. Nada mais.
Recordemos, pois que Maria Corina, originalmente a candidata opositora, foi impedida de concorrer. A Corina Yoris, pensada imediatamente como sua substituta, sequer foi permitido o registro. Daí que veio Edmundo Gonzalez, sem exageros e nem ofensas, como sendo a última escolha possível.
Segundo o Centro Carter, a única organização internacional autorizada a acompanhar o pleito, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), não atuou de forma independente. Portanto, coloca em suspeita a vitória de Maduro com 51,95% dos votos. Dessa maneira, o CNE não teria cumprido suas funções básicas de fiscalização e garantia de equidade entre os competidores.
Na última sexta-feira, 16 de agosto, a Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou, por unanimidade, um projeto de resolução no qual reforça a cobrança pela divulgação das atas por seção eleitoral, mas desiste da realização de verificação externa do processo. Com liderança norte-americana, a proposta teve o apoio do Brasil.
Por conseguinte, o que a opinião pública poderá averiguar é o quanto realmente o governo de Lula da Silva está disposto a se afastar de um aliado histórico, bem como de suas afinidades ideológicas, em nome do imperativo democrático no cenário internacional. Se as políticas internas e externas não estiverem em sintonia nesse quesito, o governo brasileiro pode arriscar a credibilidade de sua diplomacia.
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