A Paixão dos Direitos Sociais
Já estamos no tempo litúrgico da Páscoa, mas, no cenário nacional, ainda vivemos nossa longa “via crucis” dos direitos sociais. Açoitados e inusitados, querem provocar-lhes a queda, mas a força para reerguê-los vem também da Igreja, que se põe em marcha junto aos mais pobres, no seguimento de Jesus.
O mês de maio, pleno de significados, inicia-se com a celebração de São José Operário, no mesmo dia em que todas as nações comemoram e rememoram as lutas das(os) trabalhadoras(es) para conquistar, garantir e manter respeitados seus direitos. Assim sendo, a figura do humilde artesão de Nazaré, a quem o Filho de Deus chamou de pai, e quem lhe ensinou a condição humana de trabalhador, auxilia-nos a perceber que o trabalho dá ao homem o maravilhoso poder de participar na obra criadora de Deus e de aprimorá-la. Os bispos do Brasil, reunidos em Assembleia Geral, em Aparecida, atentos à situação do país, emitiram notas e vídeos em apoio às mobilizações e paralisações em protesto contra os atuais projetos de reformas em tramitação, ampliando as vozes dos mais afetados para que se façam ouvir.
No Ano Mariano e no mês dedicado a Nossa Senhora, o Papa foi à Fátima para celebrar, com milhares de devotos, os 100 anos da aparição de Maria aos agora Santos Pastorinhos. Entretanto, sua carta, dizendo que não virá ao Brasil para os 300 anos da aparição da imagem milagrosa de Nossa Senhora Aparecida no Rio Paraíba do Sul, causara polêmica. Nada mais consoante que essas atitudes do Santo Padre com o trecho da oração proferida por Maria, no Magnífica, quando diz “Desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes”.
Ainda nesse mês, os ecos da Campanha da Fraternidade precisaram se propagar, especialmente na defesa dos povos originários, depois que até sua data efeméride fora esvaziada do pouco e pueril sentido que lhe restava. Os ataques ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) por parlamentares ruralistas motivaram uma nota oficial do Serviço Pastoral dos Migrantes, da Comissão Pastoral da Terra, do Conselho Pastoral dos Pescadores, da Pastoral da Juventude Rural e da Caritas Brasileira, em apoio ao CIMI e seu importante trabalho no fortalecimento do processo de autonomia desses povos na construção de um projeto alternativo, pluriétnico, popular e democrático e na salvaguarda dos direitos constitucionais que possuem os Povos Indígenas.
Em meio às reviravoltas que abalam o já insustentável cenário político nacional, o duro alerta que inicia a referida nota, precisa ser ouvido, entre o alarido midiático que nos turva a atenção, pelos que atualmente governam o país: “Ai daqueles que fazem decretos iníquos e escrevem apressadamente sentenças de opressão, para negar a justiça ao fraco e fraudar o direito dos povos.” (Is 10,1-3).
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