Do boletim ao boleto
“A questão é que uma prova tão conteudista quanto o Enem estabelece um critério educativo que não oferece espaço para a aprendizagem concreta de informações que serão úteis ao longo da vida.”
A prova do Enem, principal porta de entrada para estudantes brasileiros no ensino superior, pretende ser uma forma justa e acessível de selecionar merecedores de uma vaga nas faculdades públicas e de diagnosticar a educação no Brasil. No entanto, analisando-se com honestidade, o Exame Nacional do Ensino Médio não cumpre, hoje, com nada do que promete.
As exigências da prova, que conta com 180 questões e uma redação dissertativa argumentativa criteriosa, não são nem de perto compatíveis com a realidade das escolas públicas brasileiras que, além de ter que lidar com a falta de recursos e com a negligência governamental, são obrigadas a preparar alunos que irão competir com jovens matriculados em escolas particulares e cursinhos preparatórios cuja única dedicação é o Enem. Dessa forma, a exacerbada disparidade socioeconômica presente na sociedade brasileira acentua-se, e as faculdades públicas se transformam em aglomerados exclusivos de jovens que estudaram, durante toda a vida, em instituições particulares.
Outro grande problema da educação brasileira é o tipo de ensino aplicado nas escolas do país. É comum se ouvir, em uma aula de matemática, o questionamento “Mas como eu vou usar isso na minha vida?”. A questão é que uma prova tão conteudista quanto o Enem estabelece um critério educativo que não oferece espaço para a aprendizagem concreta de informações que serão úteis ao longo da vida. Aulas de educação financeira, por exemplo, são inviáveis em um cenário no qual cada minuto conta para a preparação para o vestibular. Assim, a massa de alunos formados no ensino médio anualmente é totalmente despreparada para encarar o mercado de trabalho e a vida adulta como um todo.
No entanto, as soluções para esses problemas não são, como muitos pensam, o banimento dos alunos de escolas particulares das universidades públicas e muito menos a implementação de projetos apressados de reformulação, como o Novo Ensino Médio, que não condizem como as condições infraestruturais e sociais do Brasil. A única maneira de realmente solucionar o problema que o país enfrenta e facilitar a transição dos jovens é estudar a fundo a educação brasileira e promover transformações grandes da educação básica ao ensino superior.
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