Murílio Hingel, o ministro mestre escola
O ex-ministro da Educação, Murílio de Avelar Hingel, que fez uma gestão renovadora no MEC durante o governo Itamar Franco, faleceu na madrugada de 3 de outubro, em Romorantin – Lanthenay, a 203 quilômetros de Paris.
Ele foi um notável professor de História, especialmente na Academia de Comércio de Juiz de Fora, e inovador Secretário de Educação de JF (uma sala de aula por dia era a meta) e de Minas ( Projeto Veredas: curso superior para 40 mil professores como destaque), ambos sob a liderança de Itamar Franco.
Como presidente da Comissão Nacional do Bicentenário de Tiradentes, trouxe a bela escultura de Bruno Giorgi em 1993 para o Panteão da Pátria. Para isso, contou com a colaboração do embaixador Wladmir Murtinho, amigo de Bruno e que sabia da existência da escultura de 1959, guardada ainda em gesso na Fundição Zani no Rio de Janeiro.
Murílio Hingel cumpriu no pouco espaço de tempo da gestão Itamar Franco um grande papel, não só para a educação básica como para o ensino técnico e o ensino universitário, sendo inclusive escolhido à época pelos reitores brasileiros como um dos melhores ministros da Educação do Brasil para o ensino superior. Ele fez um trabalho restaurador no Fundo Nacional para o Desenvolvimento (FNDE) e na Fundação de Apoio à Educação (FAE), mais tarde incorporada ao FNDE. Como outro grande legado fez engajar a FAE, então encarregada da alimentação escolar, na primeira Comissão de Combate à Fome, criada no Governo Itamar por iniciativa do Betinho e do Bisco D. Mauro Moreli. Saiu como grande ministro da Educação no Governo federal, mas completou sua missão no governo de Itamar Franco em Minas Gerais, quando voltou a ser secretário de Educação do Estado, para continuar sua tarefa missionária de assistência aos municípios.
Não foi só isso, um resumo de sua atuação, mas é preciso lembrar que foi o ministro Hingel que inaugurou a educação indígena no Brasil, com professores indígenas e material produzido nas aldeias, junto com os Tikuna, com o apoio dos pesquisadores da UnB.
Outro grande feito de Murílio Hingel foi ter conseguido recursos para a transferência do cobiçado acervo do poeta Murilo Mendes para o Brasil. As mais de uma centena de obras de artistas modernos do Brasil e da Europa estavam guardados na Fundação Gulbenkian em Lisboa após a morte do poeta em 1975. Mesmo depois de várias tentativas frustradas, o ministro conseguiu os recursos e deu a mim e ao reitor da Universidade Federal de Juiz de Fora a missão de negociar com a viúva Maria da Saudade Cortesão Mendes a transferência das obras para o Centro de Estudos Murilo Mendes, então criado pela Universidade na antiga Faculdade de Filosofia (Fafili), posteriormente transformado em Museu de Arte Murilo Mendes de Juiz de Fora. Após 12 dias de tratativas em Lisboa, conseguimos assinar o contrato com a Sra. Maria da Saudade, com um pagamento simbólico pelo acervo avaliado em alguns milhões de dólares. O Museu tem grande movimentação, promovendo exposições, mostras especiais e seminários dedicados ao poeta Murilo Mendes.