Uma questão de sobrevivência
Não é incomum que diante de situações nebulosas e totalmente desconhecidas, como a que estamos vivendo, aflore uma tendência de simplificação de fatos e consequências. Trata-se de argumentações, por vezes simplistas e até tendenciosas, que mascaram aspectos fundamentais de um problema gravíssimo. É dessa forma que vejo algumas opiniões sobre suposto benefício econômico para as operadoras de planos de saúde com a suspensão dos procedimentos eletivos em função da pandemia da Covid-19.
O cenário é de incertezas para todos, e, se nesse primeiro momento adiar procedimentos não emergenciais, por segurança, sugere oportunidade de redução de custos, alerto para o contrário. As cirurgias eletivas acumuladas serão retomadas, e os custos vão se multiplicar, somados aos efeitos adversos do coronavírus. Os reflexos na economia serão desastrosos, com impacto direto na saúde suplementar: a redução das receitas, gerada por demissões, inadimplência, rescisões contratuais e pelo aumento exponencial dos custos assistenciais.
Tudo isso nos exige cautela máxima, em especial para nós, Unimed, uma cooperativa cuja premissa é a proteção do trabalho médico; a cooperação. Antecipamos receita para nossos cooperados, mas não podemos simplificar essa crise epidemiológica, ignorando aspectos fundamentais que refletem diretamente nos resultados. Diferente do que vi publicado por aí, a população de idosos nos planos – grupo de alto risco – não é pequena, e não é exagero afirmar que a Covid-19 poderá esgotar os leitos de internação das redes pública e privada.
Hospitais cheios, custos elevados para as operadoras. Estima-se que a taxa de internação pela Covid-19 alcance 20% dos infectados, com tempo médio entre 14 e 21 dias, contra o cálculo da Agência Nacional de Saúde (ANS) do prazo médio estimado em 4,13 dias de internação.
E o fantasma da inadimplência? O desemprego acompanhado de medidas que impedirão reajustes nos planos e suspensão dos inadimplentes durante a pandemia? E o aumento da sinistralidade das carteiras? A judicialização? O que esse conjunto representa? Acertou: crescimento de despesas sem receita para compensá-lo.
O contexto nos desafia a encarar, de frente, a pandemia. Avaliar todas as variáveis, os impactos reais, adotar planos emergenciais e decisões estratégicas. Implementar todas as medidas necessárias para superar essa crise, empregando sempre uma dose redobrada de empatia pela condição do outro. Afinal, estamos todos (ou não?) diante de uma questão de sobrevivência.