Causas e efeitos
Região precisa combinar ações políticas e meios para garantir a transferência de grandes projetos
O relatório da Junta Comercial de Minas Gerais, apontando a crítica situação da Zona da Mata como última colocada no ranking das regiões que abriram empresas em 2023, é revelador. Paradoxalmente, o Vale do Jequitinhonha, a região mais pobre do estado, liderou a lista com um crescimento de 18,45%, seguido do Triângulo Mineiro, 12,85%, Norte, 12,02%, Noroeste, 11,89%, Central, 11,26%, e Alto Paranaíba, 11,16%, Sul, 10,18%, Rio Doce, 9,26%, e Centro-Oeste, 6,81%. Os dados foram publicados pelo colunista César Romero, na edição de quinta-feira, da Tribuna.
São muitos os fatores, mas eles podem variar significativamente de uma região para outra e interligados, criando dificuldades para o ambiente de negócios.
Atribuir única e exclusivamente às lideranças políticas e empresariais seria uma forma rasa de analisar o problema, embora ambas tenham um papel importante nesse cenário. Grupos interessados em implantar empresas avaliam a infraestrutura, incentivos fiscais, capital, mercado local e até mesmo a educação acoplada à mão de obra qualificada. Também levam em conta a segurança e a estabilidade social, aspectos culturais e sociais.
A partir daí é possível ver o enquadramento da Zona da Mata. A infraestrutura ainda é crítica em boa parte dos seus municípios com reconhecidas exceções. O Aeroporto Regional é um dado emblemático: tenta se habilitar como vetor industrial, mas há problemas. A rodovia MG-353 ainda tem gargalos que precisam ser resolvidos. Sem uma estrutura adequada não há que se falar em projetos de grande porte, que carecem, necessariamente, de vias de acesso. A M.Dias Branco, empresa que chegou a ensaiar sua implantação em Juiz de Fora, teve como obstáculo um acesso a ser construído pelo Governo estadual. Tempos depois, como é próprio do mercado, encontrou uma nova oportunidade e o projeto foi abortado.
Há fatores que também pesam, como foi o caso da Ardagh, que iniciou a construção de uma fábrica na cidade e se viu, de uma hora para outra, com dificuldades do próprio mercado.
O primeiro exemplo pode ser atribuído à instância política, que não se mobilizou suficientemente para convencer o então governador Fernando Pimentel a dar prioridade projeto a despeito de ter recebido os empresários cearenses em seu gabinete. Tratava-se de um investimento com repercussões em toda a região, mas o envolvimento político foi precário, salvo ações individuais, sem qualquer repercussão.
O Vale do Jequitinhonha teve respaldo de seus representantes em Brasília e Belo Horizonte e do próprio Governo, mas, de novo, os políticos da Zona da Mata, com exceções, foram lenientes em suas ações. E aí o eleitor também tem papel importante, pois, em vez de nomes comprometidos com as causas da região, entrou na “vibe” da polarização e transferiu seus votos para políticos visitantes, sem qualquer compromisso com a cidade e, por consequência, com a região.
Vencidas as etapas técnicas – o que já um grande desafio – é necessário, aí sim, discutir o papel das lideranças políticas. Nos palanques sempre apontaram para a necessidade de atuarem integradas, repetindo experiências de sucesso do Triângulo Mineiro, onde as divergências ideológicas são vencidos diante de causas comuns.
Os diversos fóruns realizados na Zona da Mata foram pródigos em levantar as causas desse empobrecimento, mas a busca de solução é sempre um problema. Num dos mais recentes, cada parlamentar da região teve a missão de atuar em uma frente. O resultado é auto-explicativo.