Ajuste de contas

Investigações instaladas no Congresso são parte do enfrentamento dos grupos políticos com resultados imprevisíveis, como é próprio de comissões parlamentares de inquérito


Por Tribuna

26/05/2023 às 07h00- Atualizada 26/05/2023 às 17h47

No quinto mês da atual legislatura, o Congresso está com agenda cheia, voltada especialmente para as diversas comissões parlamentares de inquérito, fruto do enfrentamento político que se estabeleceu dentro da instituição, formando um cenário de ajuste de contas. Os governistas, antes relutantes, toparam a CPI dos atos de 8 de janeiro contra os Três Poderes, e agora tentam virar o jogo ao obter a relatoria da CPI. A oposição tem a CPI do MST, na tentativa de vincular todas as ações do Movimento Sem-Terra ao atual mandato, especialmente invasões de terras.
Ainda estão em curso as comissões de inquérito sobre os lançamentos contábeis das Lojas Americanas, a da manipulação de resultados de jogos de futebol e a do esquema de pirâmide envolvendo compra e venda de criptomoedas.

Não se desconhece o interesse dos parlamentares em colocar os pingos nos ‘is’, mas fica claro que muitas das investigações ficam melhor situadas no âmbito policial do que no da política, ou do Ministério Público. Com tantas investigações, saem de pauta outras matérias de interesse coletivo que deveriam ter prioridade.

Ademais, já é surrado o discurso sobre os prazos das CPIs. Todos sabem como começam, mas seu desfecho é totalmente incerto, e boa parte acaba não cumprindo o objetivo que levou à sua instalação. A CPI das vacinas é um exemplo claro do jogo que se estabeleceu na fase pré-eleitoral cujos resultados ainda não produziram efeitos. Muitos dos indiciados pelos senadores continuam tocando a vida como se nada tivesse acontecido.

Quando se abre tantas frentes de investigação, até mesmo o processo de interação com as ruas perde força, já que não é possível acompanhar com atenção tantos depoimentos, sendo um despropósito para os próprios políticos que têm simpatia pelas luzes.

A CPI de 8 de janeiro surgiu por articulação da oposição ao Governo porque seus defensores tinham como meta provar que a invasão do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal não foi um ato produzido apenas por interessados em apear o presidente Lula do poder, tendo não só a conivência, como também participação de infiltrados do Governo. Com o passar dos dias, e sem encontrar uma alternativa para bloquear a instalação, o Planalto formou sua tropa e topou a CPI.

O primeiro dia foi a prova inicial do enfrentamento, com senadores batendo boca sem que algo produtivo fosse retirado das discussões. Pelo passo inicial, percebe-se que a investigação ficará em segundo plano, com deputados e senadores trocando ofensas e fazendo denúncias de toda sorte.

Faz parte do jogo, mas fica claro que não se busca responsáveis. O jogo é apenas para apontar o papel de cada lado no evento. A investigação formal que vale é a da Polícia Federal, ainda em curso, mas com vários envolvidos já considerados réus pelo Supremo Tribunal Federal.

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