Economia e política na mesma mesa
Debate sobre o Regime de Recuperação Fiscal de Minas tem viés econômico, por tratar-se das finanças do Estado, mas também político diante dos atores ora na mesa de discussão
A adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal tornou-se a pedra de toque sobre a economia do Estado, mas também um espaço de discussão política ante a possibilidade de os atores envolvidos se encontrarem nas urnas de 2026. Nesta quinta-feira, o presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco, recepcionou lideranças do estado, entre elas o presidente da Assembleia, deputado Tadeu Leite, o ministro das Minas e Energia, Alexandre da Silveira, e parlamentares tanto da base do governo de Minas quanto da oposição, para tratar de um projeto alternativo ao modelo entregue pelo Governo à equipe econômica do presidente Lula.
A discussão vem se arrastando na Assembleia há pelo menos dois anos, quando o governador Romeu Zema fez a primeira tentativa de aprovar o RRF no seu primeiro mandato. A matéria foi para a gaveta do então presidente, Agostinho Patrus, e, agora, sob a gestão Tadeu Leite, encontrou um novo tipo de resistência. O parlamentar, como os demais presentes na reunião de ontem em Brasília, acham que não há vantagem alguma e nem perspectiva de sucesso econômico com o atual Regime.
Na entrevista coletiva, o presidente do Congresso destacou sua preocupação com possíveis repercussões nos servidores públicos e ressaltou que não vê ganhos no projeto, já que a dívida vai continuar aumentando.
E aí entra a via política. Seu discurso teve como alvo os milhares de servidores do estado e os críticos da privatização de ativos como a Cemig, Copasa e Codemig. O senador faz a abordagem, mas, em vez da venda, trata da federalização, isto é, passando o controle para a União em troca de amortização da dívida. Embora seja prematuro, Pacheco é um candidato em potencial à sucessão do governador Romeu Zema.
Ante essa possibilidade, o jogo se embaralha, pois o governador, ora em viagem de negócios ao exterior, toparia aceitar os termos do grupo reunido ontem no Distrito Federal? Foi, é fato, dele a iniciativa de procurar o senador e pedir sua intermediação com o presidente Lula, mas é pouco provável que contasse com a mudança de rumos no seu projeto. Pacheco deixou claro que a RRF apresentada ao Governo Federal é totalmente inviável.
A política é cheia de esquinas, e aliados de hoje podem ser adversários no amanhã, mas no atual momento, a questão central é avaliar a reação do governador que tem no seu vice, Mateus Simões, seu candidato in pectore ao próximo mandato. Pacheco tinha ao seu lado não apenas o presidente da Assembleia e o ministro das Minas e Energia, mas também representantes das bancadas estadual e federal e fez um discurso em que ressalva o Estado e não o Governo. O jogo, pois, só está começando, e como se diz nos rincões de Minas, a mula está passando arreada e o senador se mostra disposto a montá-la.