Avisos não faltam
A forte onda de calor que afeta especialmente o Sudeste e o Centro-Oeste não é um mero capricho da natureza. Ela é resultado da ineficiência humana em não compreender os danos que ela mesmo provoca
A onda de calor que se espalha pelo país deve levar um tempo, mas já se sabe, de acordo com os boletins dos institutos de meteorologia, que o verão deverá ter novos picos elevando a temperatura acima da casa dos 40 graus. Em passado recente, tal nível era inconcebível, mas os novos tempos trouxeram mudanças. As cidades estão cada vez mais impermeabilizadas, o que impede a dissipação do calor e o clima se mostra cada vez mais instável, sobretudo quando sofre influências de ciclos como El Ñino ou La Ñina. O derretimento das geleiras é uma realidade e o aumento do nível dos mares um dado real.
É própria do fim do ano a abordagem recorrente sobre o período das chuvas prestes a ser inaugurado, mas o forte calor, mesmo não sendo novidade, ultrapassou as expectativas. No Brasil, pelo menos 1.400 cidades registraram temperaturas inéditas e, em algumas delas, houve colapso no abastecimento de energia.
Na edição desta quarta-feira, a Tribuna trata das consequências do calor na saúde e na economia e destaca a importância do cuidado pessoal o no zelo no uso de equipamentos. Nem todas as cidades estão preparadas para mudança tão brusca.
Ao fim e ao cabo, o que ora ocorre suscita, de novo, discussões sobre as mudanças climáticas que estão cada vez mais intensas. O Rio Grande do Sul está, de novo, sob fortes temporais; Centro-Oeste e Sudeste com forte calor, enquanto Norte e Nordeste com secas mais agudas, como as que reduziram drasticamente o volume de rios históricos da Região Amazônica. Em 2021 a situação era totalmente diferente. O Rio Negro chegou a registrar a maior inundação nos últimos 91 anos. Este ano, está em baixa extrema.
Tais fenômenos não são resultado de um mero capricho da natureza. Os muitos e diversos fóruns não têm sido suficientes para mudar a mentalidade de estados nacionais que insistem ignorar as mudanças, sobretudo quando elas ocorrem sob diversas formas. Não haverá surpresa se, depois de tantas chuvas no início de 2023, o ano de 2024 ser totalmente diferente. Em 2016 e 2021, vários estados, a começar por São Paulo, registraram graves problemas com seus mananciais. Em Minas, o Lago de Furnas apresentou uma paisagem desértica em suas margens. Tempos depois, foi o ciclo mais intenso de chuvas.
Hoje, os mananciais estão dentro de níveis esperados, mas em tempos de tanta instabilidade, tudo pode mudar. E o mais grave, as cidades não estão preparadas para mudanças tão drásticas nos ciclos da natureza.
De acordo com o site Microsoft Start, um novo estudo publicado na revista Nature aponta que as ondas estão ganhando força em decorrência das mudanças climáticas. A pesquisa destaca que as mudanças na temperatura global estão provocando tempestades mais intensas, resultando em ondas mais poderosas.
Existem vários outros estudos com a mesma constatação, mas que ainda não carecem de atenção dos gestores do mundo, que insistem em combustíveis fósseis e ignoram as consequências do efeito estufa.