Combinação perigosa
O aumento do calor e o início do ciclo das chuvas induz à proliferação do mosquito da dengue; o combate a ser feito envolve ações públicas e da população
As ondas de calor, cada vez mais frequentes a partir deste mês, e as chuvas de verão formam a combinação perfeita para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito responsável pela transmissão de dengue, chikungunya e zika, fator que levou o Ministério da Saúde a emitir alerta de incidência dessas doenças em diversos estados do país. Minas Gerais é um deles, ao lado do Espírito Santo e de regiões do Centro-Oeste do país.
O dado positivo anunciado pelo próprio ministério é a liberação de recursos da ordem de R$ 256 milhões para estados e municípios para ações para o enfrentamento de arboviroses. A preocupação, como destacou a Tribuna na edição dessa terça-feira, se soma ao ressurgimento do sorotipo 3 da dengue, que estava há 15 anos sem circulação no Brasil.
O combate ao mosquito transmissor deve ser prioridade de governos e da comunidade, sobretudo por se saber – após tantos anos de contaminação – que ele prolifera em água limpa empossada ou deixada em recipientes. Ao curso dos anos, o brasileiro aprendeu a se cuidar. O principal problema é que, a despeito de todo esse conhecimento, sempre há o risco de se achar que a contaminação está sob controle. Trata-se de um equívoco abissal, cujas consequências estão no próprio dia a dia: o ressurgimento de doenças consideradas extintas e o retorno daquelas sob controle. A dengue é uma delas.
Em 2016, o país viveu um dos piores ciclos de dengue, com hospitais lotados, especialmente, para aplicação de soro. Com ação coletiva, os números foram reduzidos nos anos seguintes até que surgiu a Covid, o flagelo que matou milhões de pessoas pelo mundo afora.
Os cientistas anunciam a implementação de vacinas contra a dengue que já estão disponíveis na rede particular e que devem ser, em breve, incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), o que é um bom sinal. O perverso desse enredo é que, para as doenças cujos imunizantes estão disponíveis, a procura é sempre aquém das expectativas. Desde segunda-feira, por exemplo, as Unidades Básicas de Saúde já disponibilizam a nova etapa de vacinas e aplicação da segunda dose da bivalente para pessoas com mais de 60 anos ou com algum tipo de comorbidade. A adesão ainda é baixa.
A Prefeitura anunciou que os agentes de combate a endemias seguem realizando ações de prevenção, monitoramento e bloqueios de focos. Além disso, mantém a vistoria de imóveis e desenvolve ações de educação e sensibilização da população.
Trata-se, é fato, de medidas válidas e necessárias. Uma população informada e consciente dos riscos é parceira de todos esses processos. E mais, dedicar os chamados cinco “minutinhos” para vistorias em seu próprio espaço leva a resultados relevantes, já que, das mais complexas atitudes às mais simples, quando implementadas, o mosquito perde, e a saúde ganha.