Primeiras Conversas
Futuro governo sabe que vai precisar de uma base sólida no Congresso se quiser implementar as promessas apresentadas aos eleitores
A ausência de uma reforma política capaz de mudar a relação de poder entre o Executivo e o Legislativo faz com que assistamos, mal terminada a eleição, ao início de conversas entre o Governo eleito e os próceres dos partidos de Centro. De acordo com o jornal “O Globo”, as primeiras conversas para ampliar a base de apoio envolveriam legendas como MDB, PSDB, Cidadania e União Brasil – independentes em relação a Jair Bolsonaro – e que já teriam
dado sinais de que têm interesse em participar da nova gestão.
O matutino do Rio de Janeiro destaca, ainda, que “o presidente eleito já teria recebido sinalizações do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal, que já apoiou gestões petistas e indicou que não fará oposição. Até mesmo o PP e o PL – partido ao qual Bolsonaro é filiado – estudam adesões individuais de parlamentares mais próximos”. Há, é fato, algumas condições.
A principal delas é a eleição para a mesa diretora da Câmara Federal e do Senado Federal. O deputado Arthur Lira (PP) e o senador Rodrigo Pacheco (PSD) não escondem a pretensão de continuar no cargo e também sabem que o Planalto, mesmo com o discurso de não ingerência, sempre tem forte apelo entre os partidos. O Executivo, em qualquer das suas instâncias, sempre quer o comando do Legislativo como aliado.
O presidente do PSD, Gilberto Kassab, tem conversa, nesta semana, com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para apresentar suas demandas. A reeleição de Pacheco está no pacote e não será um grande problema, já que o parlamentar mineiro pode ser um aliado importante no Senado, cuja formatação, a partir do ano que vem, será bem mais conservadora. Com Lira a questão será mais sensível, mas não pode resolver na base do enfrentamento.
Quando foi para o confronto, o PT foi surpreendido. Em 2005, ainda no primeiro mandato Lula, o deputado Severino Cavalcanti (PP) derrotou o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT), a despeito de todo o favoritismo do petista. E por larga margem: 300 votos a 195.
O partido voltaria a ter problemas em 2015, quando, na tentativa de assegurar votos para o deputado Arlindo Chinaglia, seu indicado, os petistas abriram mão de outros cargos titulares na Mesa Diretora. Arlindo perdeu a presidência, e o vencedor, Eduardo Cunha (PMDB), teve papel assertivo no impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Alianças republicanas sempre farão parte do processo. O governador Romeu Zema, eleito para um segundo mandato, sabe como é governar com uma Mesa Diretora em oposição. Sua proposta de implantação do Regime de Recuperação Fiscal do Estado – uma de suas bandeiras desde o início do atual mandato – perambulou pelas gavetas da Assembleia Legislativa sem ter, sequer, chegado perto do plenário por conta da resistência do deputado Agostinho Patrus em colocá-lo na pauta. Se quiser avançar, terá que articular uma presidência mais sintonizada com os seus projetos ou montar uma base forte entre os deputados.
Lula terá que articular uma base capaz de garantir a aprovação de seus projetos. Caso contrário, terá problemas para cumprir o que prometeu nos palanques.