Distante da política
Inserção da vacina contra a Covid no Programa Nacional de Imunização deve reduzir a resistência dos segmentos que veem na imunização uma invasão de privacidade ou do direito de escolha
É de grande relevância a recomendação do Ministério da Saúde para que, a partir de 2024, a dose de vacina contra a Covid-19 passe a fazer parte do Programa Nacional de Imunização PNI). Todos os estados e municípios devem priorizar crianças de seis meses a menores de cinco anos e grupos com maior risco de desenvolver a forma grave da doença – idosos, imunocomprometidos, gestantes e puérperas, trabalhadores da saúde, pessoas com comorbidade, indígenas, ribeirinhos e quilombolas, pessoas em instituições de longa permanência e trabalhadores, pessoas com deficiência permanente, pessoas privadas de liberdade, adolescentes e jovens cumprindo medidas socioeducativas, funcionários do sistema de privação de liberdade e pessoas em situação de rua.
O primeiro dado é a despolitização da vacinação que foi deveras problemática nos últimos anos ante a polarização política que continua sendo um dado real. Na fase mais aguda da pandemia, vários setores tentaram estabelecer um programa paralelo ante os impasses no Governo, o que não será mais necessário, bastando a compreensão da população na busca dos postos de atendimento.
Esse, sim, é um dos desafios, uma vez que, a despeito de todas as unidades de atendimento estarem aptas a vacinar contra a Covid, agora na etapa das doses suplementares, ainda há uma expressiva parcela que não se interessou, ficando, no máximo, com as primeiras doses. São diversas as explicações para tal resistência, que precisa, agora, ser quebrada pelo Ministério da Saúde por meio de campanhas educativas.
A Covid está sob controle, mas não acabou. Em meados do ano, especialmente no inverno, o número de casos chegou a entrar em curva ascendente. A maioria dos infectados teve complicações leves por conta da vacinação, mas aqueles que recusaram a imunização correram maior risco.
O Brasil, por meio do PNI, tem um histórico positivo de vacinação, cujos resultado tirou de cena doenças como a paralisia infantil, um flagelo que deixou sequelas pelo mundo afora. O Zé Gotinha tornou-se um personagem nos projetos de convencimento da população e as famílias, de fato, se mostravam preocupadas com a vacinação.
A polarização, que se replicou em vários países, a começar pela América do Norte, mudou o cenário, gerando uma rejeição típica da Revolta da Vacina, no início do século passado, quando, especialmente no Rio de Janeiro, vários conflitos aconteceram por conta do projeto do cientista Oswaldo Cruz em imunizar a população contra as muitas doenças que afetavam especialmente os segmentos mais carentes. Em 1904 – a fase mais aguda da revolta – não tinha internet, mas as notificas falsas já permeavam o inconsciente coletivo.
Hoje, com as redes sociais, foram construídos vários discursos contra a imunização, mesmo diante da tragédia de quase um milhão de mortes. Espera-se que, com a inserção da imunização no calendário nacional, como uma rotina a ser cumprida, que a situação seja revertida em favor da saúde.