O jogo agora é outro
O Governo terá que melhorar sua articulação no Congresso sob o risco de novas derrotas e ser induzido a fazer concessões a cada discussão de matérias de relevância, como a reforma tributária
Com o aval de 337 deputados, contra 125, o Governo conseguiu manter a atual estrutura do primeiro escalão ao ter aprovada a Medida Provisória que estabelece 37 ministérios, conforme tinha sido decidido pelo presidente Lula ao iniciar o seu terceiro mandato. A matéria correu sérios riscos e havia a possibilidade de desidratação de diversas pastas. O próprio chefe do Governo entrou em campo e conseguiu reverter o que seria um grave problema para a sua gestão.
A questão é avaliar os custos da medida, já que foi preciso um amplo processo de negociação para aprovação do texto. Mesmo assim, 20 deputados cujos partidos têm cadeiras na Esplanada votaram contra, apontando para a fragilidade da base governista na Câmara Federal, um território controlado pelo presidente da Casa, Arthur Lira, que também foi chamado a conversar com o presidente.
Quando cede uma vez abre-se espaço para novas concessões, e é o que se espera para as próximas votações. O Centrão, que hoje tem um perfil mais à direita, será uma pedra no sapato do Governo, sobretudo por ter interesses difusos, formando um quadro de insatisfação permanente. O preço a ser pago, portanto, deve ser mais alto na proporção do interesse do Planalto.
A despeito de tantos mandatos acumulados – três de Lula e dois e meio de Dilma Rousseff – o núcleo governista está acumulando erros desde a montagem do ministério. Ademais, o próprio presidente tem adotado uma postura dúbia: ora como militante, ora como chefe do Governo. Na militância faz duras críticas a líderes do Congresso e dos partidos, criando constrangimentos que só aumenta os custos das articulações. Como chefe do Governo tenta minimizar os danos, o que já foi percebido pelos parlamentares.
Em cinco meses da atual legislatura, o Congresso já deu mostras ao presidente que não é o mesmo que atuou nos seus dois primeiros mandatos. E há fatores para isso, como o próprio perfil ideológico que se estabeleceu na cena política. A oposição é mais consistente e tem um discurso afinado com as ruas por meio das redes sociais – outro ponto falho do Governo que não consegue reverter a narrativa dos adversários.
Entre dedos e anéis, as concessões deverão ser uma tônica, por conta do que já foi visto e do que pode vir pela frente. A ex-presidente Dilma Rousseff foi apeada do cargo por questões políticas, uma vez que a Justiça confirmou que ela não cometeu qualquer ilícito. E esse é o ponto a ser avaliado. O jogo, agora, é outro.
Com tantos temas relevantes pela frente, a começar pela reforma tributária, não dá para estabelecer uma articulação eivada pelo amadorismo num Congresso com tamanho ativismo. A discussão de 2026 já está nas ruas e o presidente, com tanta experiência acumulada, sabe disso. Resta, agora, cobrar eficiência de sua equipe e tentar reparar possíveis erros na formatação do primeiro escalão. Afinal, não faz sentido legendas com ministérios fazerem gol contra em razão de os indicados não serem aqueles de preferência das bancadas.
O União Brasil é o caso mais emblemático. Tem três ministérios, mas seus parlamentares dizem que não foram ouvidos. E aí surge outro problema próprio da cena nacional: partidos com donos. As negociações com a cúpula nem sempre passam pelos parlamentares, mas são esses que votam e têm nessa ação o único meio de apontarem suas insatisfações.