Educação, exigência e diversão: conheça a equipe kids ‘Ligeirinhos’
Grupo da ex-atleta da seleção brasileira de atletismo Viviany Anderson preza pela sociabilidade e pelo bom rendimento escolar dos atletas
Entre descobertas e sorrisos que são a verdadeira ‘linha de chegada’, os atletas kids da equipe de corrida “Ligeirinhos” escrevem os seus primeiros capítulos no esporte. Os pequenos corredores são guiados pela experiência e exigência da treinadora Viviany Anderson, que foi integrante da seleção brasileira de atletismo por dez anos. A cada disputa, eles são ensinados que a jornada no desporto não se trata apenas da distância percorrida, mas também do crescimento pessoal e amizades formadas na modalidade. Com alunos de 2 a 17 anos, o grupo integra o Ranking de Corridas de Juiz de Fora desde 2015 e planeja participar de mais competições no ano que vem.
Por ter o aspecto social como principal característica, os Ligeirinhos são os personagens que fecham a série “Qual é o seu Corre”, que conta a história de um corredor ou equipe a cada prova que integra a disputa mais movimentada da cidade, com o intuito de compreender a relação de amor ao esporte e os esforços necessários para estar presente nas provas.
Inclusive, vários atletas do time estarão presentes na Corrida Bahamas Night Run, neste sábado (25), a partir das 19h, com largada em frente ao antigo German Village, na Via São Pedro, na Cidade Alta.
História dos Ligeirinhos
Há 30 anos, a juiz-forana Viviany Anderson – bicampeã da Maratona de São Paulo e medalhista nos Jogos Pan-Americanos de 1999 – começou com pequenos grupos de crianças em treinamentos. Aos poucos, ela adquiriu gosto por trabalhar com esse público e, há oito anos, decidiu se mudar do Bairro São Pedro para o Filgueiras, no intuito de iniciar os Ligeirinhos. Hoje, o time treina três vezes por semana em um sítio do bairro e conta também com equipe adulta, apesar de o foco permanecer nas crianças e adolescentes.
“É um projeto de longa data. As crianças viram adolescentes e continuam no atletismo. O que acontece no Brasil é que o nível cai muito porque não há renovação. São poucos os que se destacam e correm mundo afora, porque na adolescência, chega a fase de namorar, de sair, não dormir cedo, não ter pontualidade. Ainda tem a parte hormonal que traz preguiça. Muita gente para de treinar e competir, perde o interesse. Mas aqui no Ligeirinhos, não. Damos apoio, é uma família”, frisa Viviany.
Uma dose de cobrança, outra de afeto
Além de foco nos treinamentos, os Ligeirinhos precisam ter respeito com os seus companheiros e bom desempenho na escola. “Cobramos educação e notas. Falamos também de educação ambiental, com um projeto de reciclagem”, explica a educadora física.
No dia da entrevista à Tribuna, alguns alunos estavam na Associação Desportiva Polícia Militar (ADPM), com atividades aquáticas e recreativas. “Também temos esses momentos de diversão. Isso dá motivação para os meninos. Até aqui, eles cumprem horário, porque, no atletismo, não há espaço para chegar atrasado”.
Dessa forma, conciliando exigência e momentos de afeto, Viviany é chamada de madrinha e até de mãe por crianças do projeto. “Passei aperto com essa equipe na pandemia porque todos chegam, me dão um beijo e um abraço. É legal ver o retorno dos pais, eles citam que os alunos melhoram o comportamento, porque incentivamos desde aquele que corre melhor até aquele que chega por último. Por isso não trabalho com quantidade, mas com qualidade. Não vou colocar 200 crianças para correr em Filgueiras, porque quero dar atenção, transporte e lanche”, explica Viviany.
“Orgulho imenso”
Sebastião Neto, de 66 anos, morador do Bairro Filgueiras, foi um dos primeiros integrantes da Ligeirinhos. Militar, ele disputava as corridas do quartel e chegou a completar uma meia maratona. Para ter sucessores no esporte, o pai apresentou a equipe Ligeirinhos para os filhos Moisés, 17, e Miqueias, 13. “É uma satisfação muito grande ter eles comigo, porque tenho o atletismo como estilo de vida e saúde. O pessoal brinca que sou pai de todas as crianças. Estou sempre do lado, se alguém cair ou está começando a passar mal, pode contar comigo, não deixo eles irem ao solo”, diz.
A conduta dos filhos é orgulho para Sebastião, que reforça a importância da educação recebida nas escolas. “Se tiver aluno que responde à professora, não serve para competir para os Ligeirinhos. Quando alguns erram, a gente chama a atenção deles e caem na realidade, pedem desculpa, são meninos bons. Tenho orgulho imenso dos meus filhos e dos outros, porque vejo muitos jovens em caminhos errados, enquanto essa garotada é abraçada com carinho e amor”.
Um dos destaques em Juiz de Fora na sua categoria, o filho Miqueias tem o pai como inspiração. “Ele é como se fosse um treinador, sempre cobra e me mantém disciplinado, tudo pelo nosso bem. É minha inspiração, pois quero ser um corredor profissional, participar de provas fora do país, quem sabe umas Olimpíadas”, almeja.
Futuro dos Ligeirinhos
Carlos Eduardo Rodrigues, de 16 anos, é a estrela dos Ligeirinhos. O adolescente compete em provas com adultos e, na sua categoria, está no pódio do Ranking de Corridas de Juiz de Fora e do Ranking Distrital. Sua inspiração é o bicampeão olímpico Eliud Kipchoge, ultramaratonista do Quênia. “Corro há um ano e já conquistei o bronze em uma prova em Belo Horizonte. Quero continuar fazendo provas pelo Ligeirinhos, que é minha família e onde me sinto acolhido, até um dia ser atleta profissional”.
Na visão de Viviany, o garoto é uma amostra de que projetos de corrida podem formar atletas promissores. “Em Juiz de Fora, faltam líderes que levem os times para frente. A cidade tem muito material humano, mas pouca gente com pulso firme. Precisamos do apoio dos pais, das empresas e dos órgãos públicos. O segredo para avançarmos no atletismo aqui é termos mais união”, resume a tutora da equipe.