Em suspeição, eleição do Tupi é vencida por Juninho
O vencedor não tomará posse, pois resultado já está suspendo pela Justiça. Documentos relativos à eleição passarão por análise da 2ª Vara Cível de Juiz de Fora
Por 266 votos a 130, a chapa JR 2020, encabeçada por José Luiz Mauler Júnior, conhecido como Juninho, venceu, neste sábado (5), a eleição para a diretoria executiva do Tupi para o triênio 2020-2022. Entretanto, a posse de Juninho e dos membros do Conselho Deliberativo, a princípio prevista para 1° de dezembro, está suspensa conforme decisão liminar do juiz de Direito em substituição eventual, Mauro Francisco Pitelli. A suspensão foi solicitada pela chapa SOS Tupi, encabeçada por Cloves Moura Santos. O pleito está sob suspeição até nova análise de documentação relativa à relação de associados e quinhões do clube pela 2ª Vara Cível de Juiz de Fora.
Realizada na Sede Social (Rua Calil Ahouagi 332, Centro), a eleição transcorreu entre 9h e 17h. Além dos 396 votos válidos, foram ainda apurados pela Comissão de Fiscalização Eleitoral (Cofel) três votos brancos e um nulo. A apuração tomou pouco menos de 30 minutos. “Quem fala é a urna. Quem manda é o associado. O associado é o dono do Tupi. Tem que ser respeitada a vontade dele. Não de pessoas externas. Não é do Facebook. Não é do torcedor”, disse, após o pleito, Juninho, também atual presidente dos conselhos Consultivo e Deliberativo. “O torcedor é um patrimônio do clube. Temos que ter respeito por ele, como ele também tem que ter respeito pelo clube e por quem está assumindo o seu comando. Queremos a parceria com o torcedor. Precisamos da torcida. Agora, quem manda no clube é o associado.” Apenas sócios beneméritos, grandes patronos, proprietários e família, maiores de 18 anos, quites e e em dia com todas as obrigações estatutárias estavam aptos a voto.
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Caso o resultado seja, por fim, deferido, Juninho reassumirá a presidência do Tupi, uma vez que ocupou a cadeira entre 1999 e 2004. Questionado sobre a suspeição do pleito, o mandatário da chapa JR 2020 diz que está pronto “para qualquer eleição que vier”. “Os números mostraram isso. Foram 266 votos a 130. A proporção foi dois para um. Foram três votos brancos e um nulo. Quem fala é a urna. Não é Facebook, não é internet. Se precisar, com certeza (o associado) vai dar (o recado) de novo. E com muito mais força. (…) O mesmo recado que os associados mandaram para a outra chapa é o recado que o juiz vai receber.” Ainda que a Cofel tenha proclamado o resultado, tanto Juninho quanto os membros por ele nomeados para o Conselho Deliberativo não serão convocados para tomar posse até segunda ordem.
Cloves Moura Santos, mandatário da SOS Tupi, deixou a Sede Social antes do início da apuração dos votos, bem como torcedores apoiadores da chapa – como não eram associados, foram impedidos de entrar no local. Conforme Cloves, a SOS Tupi aguarda, agora, decisão judicial. “Em vez de estar pensando em voto de sócio, que era o nosso objetivo, de procurá-los e divulgar (a chapa), ficamos preocupados com o Judiciário, porque, aqui dentro, não conseguimos nada. A suspensão do resultado me agrada muito porque manteve a democracia, que é o voto, mas não em condições iguais. Vamos avaliar a decisão da Justiça. (…) Foi importante ter tido este pleito. Não nessas condições, com o bar aberto, com privilégios para uma chapa e complicações para outra, mas foi interessante. Até porque teremos mais elementos para questionar e, caso estejam errados, juntá-los no processo.”
Desatualização
Embora o quórum eleitoral tenha sido de 400 associados, o Tupi tinha, aproximadamente, conforme o presidente da Cofel, Jarbas Raphael Cruz, 2.500 aptos a voto neste sábado. Entretanto, parte deste quantitativo de sócios que deixaram Juiz de Fora e, inclusive, de mortos. “Tenho a lista de sócios das categorias proprietário e grande patrono. (…) Nesta lista, há muitas pessoas que não moram em Juiz de Fora e, também, algumas já falecidas. Como a família destes falecidos não comunica ao clube a morte e nem se preocupa com o destino do título, a Cofel não pode eliminar estas pessoas da lista. Estaria sendo insensato, porque se amanhã um neto ou um bisneto quiser fazer a transferência, tocamos o barco”, diz Jarbas, também atual vice-presidente de Finanças.
SOS Tupi judicializa eleição
Em decisão nesta sexta (4), o juiz Mauro Francisco Pitelli determinou a suspensão dos efeitos do resultado das eleições após ação impetrada por membros da chapa SOS Tupi. O grupo, a princípio, solicitava o cancelamento das eleições, mas, conforme Pitelli, como o pleito ocorreria já neste sábado, a concessão da tutela seria inviável. O imbróglio judicial começara em 27 de setembro, quando a SOS Tupi obteve acesso, por decisão liminar, junto ao juiz da 7ª Vara Cível de Juiz de Fora, Edson Geraldo Ladeira, a uma série de documentos relacionados ao quadro de associados do clube e às 80 fichas dos integrantes da chapa JR 2020, bem como à transferência e posse de quinhões.
“É muito difícil concorrer em eleições nas quais as listas (de associados) não têm endereços, documentos etc.. Não sabemos quem está vivo, quem está morto. Não há nenhuma informação para entrarmos em contato com o associado. E o Tupi é clube social e de futebol em que o contato com o sócio é fundamental, contato esse que quem está no poder sempre tem. E nós, da oposição, temos que correr atrás. E, para isso, temos que ter as informações do quadro inteiro (de associados) para ter igualdade de condições”, questionou Cloves. “O que queremos, na verdade, é ganhar ou perder dentro da legalidade. (…) O procedimento que está sendo feito não é transparente, ao meu modo de ver. As condições de disputa são muito desiguais.”
Questionado, o presidente da Comissão de Fiscalização Eleitoral (Cofel) afirmou que a decisão de Pitelli foi sábia. “Decisão judicial se cumpre. Não se discute. Vai constar em ata e o pleito para aqui. Normalmente, convocaríamos o Conselho Deliberativo para eleger o presidente, o vice e o secretário. Neste momento, a eleição cessa.” Cloves ainda contestou a falta de acesso dos associados às listas com as fichas dos integrantes da chapa adversária durante a votação. Jarbas, entretanto, afirmou que a reivindicação é incoerente. “Quando se forma a chapa com os 80 nomes, entende-se que são pessoas que comungam do mesmo objetivo. Não entendo que naquela chapa vai haver alguma pessoa em desacordo com o candidato a presidente. Todos se conhecem. O estatuto não prevê que a lista do Conselho A ou Conselho B tem que estar disponível na mesa para consulta dos associados, apenas o nome a ser dado à chapa.”