Juiz-forano testemunha devoção a Ayrton Senna: ‘é unanimidade no mundo todo’
Fotógrafo João Schubert coleciona itens do piloto e rememora perda de um dos maiores atletas brasileiros de todos os tempos
“Mesmo que não era fã, naquela época tinha hábito de ver a Fórmula 1 no domingo”, lembra o fotógrafo juiz-forano João Schubert, de 45 anos, quando questionado sobre a paixão pelo automobilismo. Foi justamente num domingo, há 30 anos, que o Brasil assistiu à perda de um dos maiores nomes do esporte nacional. Ayrton Senna, campeão mundial nos anos de 1988, 1990 e 1991, morreu no dia 1º de maio de 1994 ao se chocar contra o muro na curva Tamburello do GP de Ímola, na Itália.
Aos 45 anos, João Schubert ainda carrega a admiração por Ayrton Senna e conta sobre o trauma da perda do ídolo, que incentivou a paixão do fotógrafo pelo automobilismo. Nesta quarta-feira (1º), dia em que se completa três décadas da morte do piloto, o juiz-forano também rememora a devoção ao brasileiro que alcança até mesmo países estrangeiros.
“Levantava a bandeira do nosso país”
Como lembra João Schubert, acompanhar as corridas de Fórmula 1 era um costume que mobilizava até mesmo quem não era fã de automobilismo. “Era legal ver o Galvão narrando, Piquet e Senna ganhando”, conta. No caso do fotógrafo, jogos de videogame fizeram com que ele passasse a se interessar ainda mais pelas corridas e a acompanhar as temporadas da principal categoria do mundo. “Às vezes com carro aquém dos concorrentes, o Senna ganhava. Isso contra Piquet e vários outros excelentes concorrentes. O cara ganhava, levantava a bandeira do nosso país”.
A morte do ídolo, então, impactou especialmente o então adolescente. Aconteceu no GP de Ímola, quando Senna liderava a corrida. “Eu estava em Itaipava, sentado na casa da minha tia, onde vi a primeira vitória dele. Na mesma televisão, no mesmo local, lembro que na hora que ele bateu, eu fiquei com raiva. Mas vi que o negócio era sério depois”, afirma. “Fiquei um mês sem ir à aula, só ficava chorando em casa”.
Devoção fora do país
Nas décadas seguintes, Schubert continuou acompanhando a Fórmula 1 e já acompanhou mais de 30 grandes prêmios, sendo um programa anual do juiz-forano assistir à modalidade presencialmente no Grande Prêmio de Interlagos, em São Paulo. Além do GP brasileiro, o fotógrafo também esteve em corridas no Canadá, na Itália, na Bélgica e em Mônaco, testemunhando a admiração dos estrangeiros pelo piloto brasileiro.
“Quando eu estava em Mônaco, eu usava boné do Senna e a polícia batia continência para mim. Depois que me explicaram que eles eram muito fãs do Senna. A cidade e o país param por ele, é unanimidade no mundo todo”, garante. “Sempre nos outros países falam comigo do Senna. É uma idolatria mundial”.
Também foi em Mônaco, durante uma visitação aos boxes das equipes de Fórmula 1, que o juiz-forano viveu um episódio inusitado com o heptacampeão Michael Schumacher também envolvendo Ayrton. “Vi o Schumacher e meu reflexo foi tirar o boné do Senna para ele assinar. Ele ‘me pulou’ e continuou autografando os outros. Me evitou só por eu ter dado o boné do Senna”, conta.
Apesar de seguir acompanhando a modalidade, João Schubert avalia que as mudanças na Fórmula 1 colocadas em práticas nos últimos anos diminuíram a atratividade da categoria. “Nunca parei de assistir, mas hoje, de cinco anos para cá, se tornou algo chato. O barulho dos carros não existe mais. Aquilo, para quem gosta, era algo de arrepiar. Você sentia vibrar o concreto da arquibancada, o tímpano coçar. Era uma emoção, como se fosse um show. Entrou o motor elétrico, antes os carros eram tanques de guerra. Acabou a ‘brutalidade’, virou tudo eletrônico, o carro é que ganha”.
“Senna continua para sempre”
Em casa, João Schubert tem marcas da devoção por Ayrton Senna, que inclui macacão e capacetes do ídolo. É uma mostra da permanência do legado do piloto brasileiro mesmo após tanto tempo de sua morte. “Até pode existir outro brasileiro bom, ganhar mais, mas não terá a dimensão do Senna. Hoje, é tudo banalizado. Naquela época, a Fórmula 1 era algo inalcançável, era sempre europeu. O Senna tinha aquela latinidade. Absorvíamos as informações e acontecimentos melhor. Então, não terá a comoção da época”, avalia.
“Acho que o Senna continua para sempre, não apaga”, resume. “Todo lugar que você vai as pessoas conhecem (o Senna). Outro dia vi o cara com boné do Ayrton no estádio. É tipo uma irmandade”.
*Sob supervisão do editor Gabriel Silva