Renato da Lapa live: ‘a música não tem pressa para ser composta’
Músico, reaproximado às composições pelo isolamento imposto pela pandemia, se apresenta na série de shows on-line Brasador Sessions
Renato da Lapa, 34 anos, está em isolamento social desde o início da pandemia. A reclusão invariavelmente lhe reaproximou da composição, como também da carreira solo. O músico já havia feito alguns trabalhos individuais, como conta, mas ainda sem gravações. Projetos coletivos como Blend 87 e Tropeço Trio ficaram “agarrados”, justamente devido à pandemia. Então, a carreira solo, antes paralela aos projetos coletivos, fez-se como um rumo inevitável. Renato catalogou as próprias composições – desde 2014 compõe, diz -, inclusive as 12, 13 músicas criadas durante o isolamento. Parte do repertório será apresentada nesta segunda-feira (22) em transmissão ao vivo no Instagram da Brasador Sessions, a partir das 19h30.
A live será a primeira em que Renato da Lapa é convidado para fazer sozinho. “Fiz algumas durante a pandemia, mas de maneira descompromissada. Simplesmente entrava ao vivo do nada, em qualquer horário. Ainda no ano passado, fiz algumas transmissões com Rogério Arantes no Facebook: um tributo ao Belchior e uma chamada ‘Palavra autoral’. Mas digamos que seja a primeira sozinho para a qual fui convidado e estou me preparando.” O músico organiza para esta segunda um repertório de 12 músicas, além de algumas intervenções. A apresentação será de uma hora.
A carreira solo, conta, dará espaço para que composições que não se encaixavam em outros projetos sejam apresentadas ao público. “Sou compositor de violão. Gosto mais de compor e tocar violão. Nos outros projetos, tocava mais guitarra por conta do gênero musical. O Tropeço Trio, por exemplo, era baseado mais em um rock rural, como Sá & Guarabyra. Era um som mais de rock progressivo. Já Blend 87 era um rock mais indie, mais jovem. Como componho músicas no violão, elas ficavam no ar. Então, as minhas composições são mais focadas no que eu mais gosto de ouvir e tocar, como MPB. São mais voltadas para o ritmo brasileiro, como baião, samba etc.”
Parcerias mesmo que à distância
A pandemia rendeu a Renato “um quinto” do repertório que até então havia composto desde 2014 – algo entre 50 e 60 autorais, inclusive aquelas do início, que já não contam, confessa. O músico compõe música e letra, mas, às vezes, faz também apenas a melodia ou a letra, explica. Ao menos o isolamento não lhe furtou, mesmo à distância, as parcerias. “Mandei músicas para um monte de gente, vários parceiros diferentes. Compus com a Daniela Zorzal, baixista da Tata Chamas & As Inflamáveis, com o Roger Resende, Lilian Caramuja, Raquel Lara Rezende, Rogério Arantes etc. O processo (de composição) que mais acontece é eu mandar a música, mas sempre com alguma ideia. Penso em alguma coisa e sai a música, então costumo falar para o meu parceiro o que sentia quando a compus.”
Se o isolamento o reaproximou das composições, as músicas criadas refletem o período. “Não no sentido negativo de se isolar”, pondera. “Mas no sentido de se encontrar, porque, querendo ou não, a gente fica fechado dentro de si. Então, digamos que essas músicas, para as quais fiz letra e melodia, refletem um pouco do meu processo de autoconhecimento, de como me encaixo no mundo e como a minha arte pode interferir positivamente nas relações humanas.” Inclusive, as músicas separadas por Renato da Lapa para apresentar na Brasador Sessions devem ser parte de um novo trabalho. Ele não descarta ir para o estúdio ainda este ano caso o processo de imunização contra a Covid-19 lhe permita. “Só estou esperando as coisas se acalmarem para encontrar as pessoas que devem estar envolvidas. Planejo gravar um EP.”
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