‘Fuxico’, nova peça de Toninho Dutra, estreia nesta sexta
Montagem multilinguagem ocupa o Teatro Paschoal Carlos Magno por uma temporada, com apresentações às 20h
Toninho Dutra volta aos palcos como ator, diretor e dramaturgo, na peça “Fuxico”, que estreia nesta sexta-feira (19), no Teatro Paschoal Carlos Magno, a partir das 20h, com sessões ainda no sábado (20) e no domingo (21) e nos dias 25, 26, 27 e 28 deste mês, sempre no mesmo horário. A montagem reúne também as atrizes Adriana Paes, Andrea Ventura e Carlinha Assis. Os ingressos podem ser adquiridos no Sympla ou na bilheteria do teatro nos dias de apresentação. Pessoas com idade igual ou maior que 60 anos têm direito a desconto especial, mediante apresentação de documento de identificação.
Foram 15 anos sem atuar como ator em peças teatrais. Nesse tempo, as atenções de Toninho estiveram ainda mais centradas em gestões, seja na Secretaria de Educação ou na Funalfa. “Eu me tornei mais gestor que artista. E, por isso, não conseguia conciliar as coisas, porque é como se você vestisse um personagem. Uma coisa meio Fernando Pessoa. Como se eu tivesse heterônimos, mas não de escrita, de vestir mesmo. E como superintendente, por exemplo, eu me amarrava a algumas coisas e não me sentia à vontade para fazer outras coisas”, explica.
Isso não significa que, nesse tempo, ele não pensasse no palco. De fato, Toninho sentiu saudade. “Tudo o que eu vejo eu relaciono ao palco.” Em seu doutorado, concluído recentemente, ele deu jeito de unir toda essa sua experiência, que mescla educação, arte, poesia e gestão, pensando, claro, no teatro e nas memórias das vozes das cidades. “E, agora, todos os fios da minha vida se juntam em um fio único”. Fio esse que desaguou em sua tese e que volta a aparecer em “Fuxico”, de forma teatral e ainda mais confessional.
O fio de “Fuxico”
A peça surgiu de forma despretensiosa. Como o teatro está presente em tudo, era claro que, em algum momento, essas ideias fossem dar vida a um texto teatral. Em um encontro com Adriana, Andrea e Carlinha, o assunto acabou sendo encaminhado aos antepassados, os pais, os avós, as memórias mais antigas. “E eu vi que dava mais caldo aquela conversa, que tinha a ver também com o que eu estava fazendo na tese”. Cada um escreveu uma crônica sobre suas avós, a partir também de memórias, e esses textos entraram na dramaturgia. “O fio da minha vida se costura ao fio das meninas.”
Carlinha, certa vez, fez um marcador de livro com um pequeno fuxico. Adriana, em uma foto, registrou vários fuxicos. E a ligação foi feita: “A gente estava, nesses encontros, fuxicando também. Dalí, foi levando isso para o texto e para a vida: vendo que a gente é feito de pedaços, de colaborações infinitas, intervenções múltiplas. O ‘Fuxico’ é o fio da vida, que vai costurando, às vezes planejada, às vezes abrupto, interrompido de forma inesperada”. Como uma colcha de retalhos, os assuntos na peça abordam exatamente essas remendas que são, na verdade, os cursos da vida.
Toninho, além das memórias dos quatro em cena, fala dos momentos coletivos, como a pandemia. E explica: “Quando a gente pensou que era o juízo final, ou o ensaio para isso. Mas não foi. Por isso que ‘Fuxico’ tem as finitudes pessoais e até a possibilidade da finitude do planeta. Mas com suavidade, sutileza e um discreto humor. Não é um espetáculo triste, é um espetáculo que nos remete a nossas próprias histórias”. Nessa mescla, entra ainda textos de Cora Coralina, também presente em sua tese, Ferreira Goulart, Gilberto Gil, Milton Nascimento, e ainda pensamentos mais acadêmicos, como o de Walter Benjamin. “Mas até ele, que tem uma escrita mais dura, eu trago para a cena como um poema. É como se eu, realmente, juntasse a vida acadêmica com a vida de artista”. E tem ainda muito outros artistas na bricolagem proposta por Toninho, a serem descobertas na medida em que os fios do fuxico forem sendo soltos.
“Fuxico” é clássico, mas nem tanto
A estrutura do texto, ao mesmo tempo que é clássica, rompe com esse método. “Porque ‘Fuxico’ não tem uma história única”, explica. A estrutura foi dividida como em “Romeu e Julieta”, com prólogo, primeiro ato, segundo ato, terceiro ato e epílogo. “É a estrutura do ‘teatrão’, mas as cenas são completamente independentes e os quadros podem ser apresentados isolados, por exemplo. Eles são ligados como um colar: cada ponta é um conto, mas, juntos, formam uma outra coisa. E eles conversam entre si o tempo inteiro.”
Isso faz com que, durante toda a peça, tanto o tempo quanto o espaço se apresentam de forma fragmentada. Exemplo claro disso é uma menção a “Moulin rouge”. “Principalmente na anacronia que se faz de usar uma musicalidade contemporânea em um espetáculo do passado. A gente se utiliza um pouco dessa inspiração. Em uma cena, vestido totalmente (com roupas) de época, a gente fala de hoje, como uma viagem no tempo, com pés no passado, fixado no presente, apontando para o futuro. Tem essa quebra também”, conta Toninho.
“Sem juras eternas”
Toninho, Adriana, Andrea e Carlinha formaram o Grupo Artístico Temporário Esquadros, que, já no nome, deixa escancarada a finitude de qualquer coisa na vida. “A gente pensa nesse grupo sem juras eternas. Não é que eu quero que já acabe. Mas um dia, de alguma forma, termina. Tudo é temporário, e eu resolvi nomear isso. A gente está vivendo o momento de agora. Até ensaia em pensar em outras peças. Mas até evita, para viver ‘Fuxico’ primeiro”, finaliza.