O resultado do poder transformador da arte na educação
Mostra Estudantil de Arte e Mostra Professor Também Faz Arte reúnem mais de 250 peças no Mascarenhas; outros espaços culturais da cidade também recebem trabalhos de alunos e professores
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, disse o pedagogo Paulo Freire. Na sala de artes da Escola Municipal Elpídio Corrêa Farias, no Borboleta, meninas e meninos, de fato, transformam-se, uma metáfora do que o educador apontou. “Eu sou o Capitão América!”. “A minha máscara é de arco-íris”. “A minha é um gatinho”, e tantas outras metamorfoses acontecem ali, ao passo que as crianças terminam os últimos ajustes nas máscaras que confeccionaram com a professora Luciana Guglinski: um toque de glitter aqui, uma pincelada ali… “Trabalhamos nessas máscaras por cerca de um mês, não só na confecção, mas na perspectiva da história da arte, o papel simbólico e ritualístico delas, eles ficaram encantados”, conta Luciana. As máscaras produzidas pela turma que tem entre 6 e 7 anos poderão ser vistas de 17 de outubro a 5 de novembro na Mostra Estudantil de Arte, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM), junto a outros trabalhos de estudantes da rede municipal de ensino, totalizando 158 peças – recorde de inscrições -, sendo 63 em artes visuais e literatura, 95 composições cênicas e 4 audiovisuais.
Paralela a ela, ocorre a Mostra Professor Também Faz Arte, com 113 produções de docentes em diversas áreas, também no CCBM. Para Cristiano Fernandes, supervisor de projetos de Arte e Cultura do Departamento de Planejamento Pedagógico e de Formação da Secretaria Municipal de Educação, a realização da mostra é uma celebração da arte em seu papel pedagógico. “É raro isso acontecer no Brasil de modo institucionalizado, tornou-se uma política de Estado e não de governo, independe de gestão. Arte e cultura são indissociáveis da educação, e é muito importante que iniciativas como as mostras aconteçam, para que os frutos disso sejam vistos, e para que os estudantes ocupem esse espaço artístico institucional”, opina ele.
Valorização através da arte
A professora Luciana Guglinski destaca que as mostras, que este ano vêm sob o tema “Arte para pensar o mundo”, têm um papel fundamental para a criação de uma relação entre crianças e arte. “Muitos não sabiam o que era uma exposição ou o que era o CCBM. Expliquei como funciona uma exposição e que no museu os trabalhos deles estariam ao lado de grandes artistas, isso ajuda a desmistificar a arte e a cultura. Eles vão expor ao lado de artistas e de seus professores e professoras. Isso dá um senso de legitimidade, é importante para eles.” A diretora da Escola Municipal Elpídio Corrêa Farias, Luciana Heider, destaca que as mostras dão um sentido maior ao que foi trabalhado nas escolas. “É muito significativo que as crianças reconheçam no museu o que eles fazem na escola e saibam que isso é arte. A mostra virou uma vitrine da relação entre arte e educação nas escolas da cidade e também dos professores como disseminadores de arte e cultura.”
Segundo Cristiano, a mostra tem um grande papel formativo, tanto para os alunos quanto para os docentes. “A formação é um Norte deste projeto como um todo, para professores que inclusive não são de Artes e para os alunos também, é um estímulo para que sigam criando e se aperfeiçoando. Por isso não existe uma curadoria no sentido de seleção dos trabalhos, não há uma hierarquização. E ao longo de 15 anos de mostra, a gente percebe como as escolas vão amadurecendo artisticamente e como isso se tornou um projeto de docência com arte e na arte.”
‘Somos seres culturais’
Além do CCBM, que abrigará as exposições fixas, outros espaços da cidade integrarão a Mostra Estudantil de Arte e a Mostra Professor Também Faz Arte. No dia 18 de outubro, a Galeria de Arte Maria Amália do Museu Mariano Procópio receberá apresentações de trabalhos de música dos professores, que também mostrarão seu talento musical na Arteria no dia 7 de novembro, às 19h. Dos dias 21 a 25 de outubro, o Teatro Paschoal Carlos Magno será palco de apresentações de dança, música, audiovisual, teatro, música e contação de histórias dos estudantes. Na Sala de Giz , os docentes performam teatro e dança no dia 1º de novembro, às 19h, já no dia 4, o Espaço Compartilha terá uma noite de teatro e literatura, com início às 19h. No dia 5, também às 19h, teatro, dança e audiovisual ocupam o CCBM com criações dos professores. “O CCBM ainda vai ter o painel ‘200 dias’, em menção aos 200 dias letivos. Ele ficará entre a mostra dos professores e a dos alunos e foi uma construção coletiva: pedimos que as escolas enviassem um objeto que remetesse à escola, qualquer coisa vale, a ideia é fazer um assemblage”, acrescenta Cristiano.
Para Luciana Heider, diretora da Escola Municipal Elpídio Corrêa Farias, é fundamental pensar a escola como produtora de arte e cultura. “A escola não é só consumidora de cultura, a educação se faz por meio dela, produzindo-a também. Não dá para pensar em um projeto pedagógico que não permita que a criança se expresse artisticamente. O horário integral permitiu que a gente investisse muito mais em atividades culturais, e o resultado não poderia ter sido melhor. Até porque muitas vezes um aluno que tem dificuldade de se concentrar ou de aprender encontra nas manifestações artísticas um novo significado para a escola”, pondera a educadora. “Somos seres culturais, e a escola deve ser reflexo disso”, completa Cristiano.
Segundo Luciana, há uma preocupação também com o acesso aos trabalhos. “Como os locais em que a mostra ocorre são no Centro, nem todas as crianças poderão ir, ver seu trabalho exposto. Então a gente sempre expõe os trabalhos na escola depois, envolvendo a comunidade em um evento no fim do ano. Eles realmente se sentem como artistas e é algo fundamental para que a arte seja o que deve ser em essência: democrática”.
Mostra Estudantil de Arte
Mostra Professor Também Faz Arte
Abertura nesta quarta (17). Visitação de terça a sexta-feira, das 9h às 21h, sábado e domingo, das 10h às 18h, até 5 de novembro no CCBM (Avenida Getúlio Vargas 200). 3690-7051