12 formas de amar em 366 dias
Editor de fotografia da Tribuna, Fernando Priamo fala sobre a emoção de produzir o calendário de 2020, encartado na Tribuna para assinantes
Às portas de 2020, a série Solidariedade se encerra com uma proposta aos leitores. Tema do calendário, a solidariedade irá acompanhar o novo ano dos assinantes da Tribuna com 12 meses de reflexão sobre o doar e o receber. Editor de fotografia do jornal, Fernando Priamo percorreu 12 instituições assistenciais da cidade para registrar cenas solidárias e se surpreendeu com o que encontrou, deparando-se com lições de vida. O resultado foi uma foto inspiradora para cada mês do ano, através de um olhar de sensibilidade.
“Para mim, solidariedade é todo gesto de carinho e amor ao próximo. Não basta só observar as pessoas e dar a elas dinheiro, objetos ou comida, precisa doar seu tempo e seu olhar ao próximo”, reflete Priamo que, em outubro, esteve em instituições sociais e de saúde, que atendem crianças, adultos, idosos e pessoas com deficiência. “O olhar tem muito a ver com o que eu fiz. Fui muito aberto a mostrar esse outro lado das pessoas e o que elas precisam. Porque o ser humano precisa de muito mais do que só o material, ele precisa de cuidado e atenção, às vezes uma palavra amiga vale muito.”
Já conhecendo o trabalho das 12 instituições, o fotojornalista e artista visual se propôs a criar algo novo a partir do que se apresentasse diante de suas lentes, buscando fugir do “olhar programado”. “Eu não fui com ideia pronta em mente. Me preparei psicologicamente para chegar lá, ver o que estava acontecendo e, a partir daquilo, criar a imagem. Foi um desafio muito grande, porque é possível chegar em uma instituição e não ter nenhuma criança no momento ou os horários não baterem. Isso acontece, mas me impus um desafio pessoal de criação, para saber até que ponto tenho o poder de transformar o nada em uma boa foto, com a imagem falando por si só”, conta.
Durante o trabalho, o que mais chamou a atenção do fotógrafo foi o carinho com que foi recebido e a forma com que os assistidos estão abertos a receber o pouco que os voluntários podem doar. “Você se depara com pessoas que às vezes estão enfermas ou isoladas da família e percebe que elas estão te dando muito amor naquele momento, ao mesmo tempo em que recebem amor”, destaca. Nas fotografias, as mãos foram as protagonistas que simbolizaram os gestos de solidariedade. “As mãos são tudo: têm o significado de doar, de receber e tiveram o poder de representar a solidariedade. Isso não era algo que eu tinha em mente, foi acontecendo. No Abrigo Santa Helena, as mãos podiam ser o abrigo que acolhe; na Ascomcer, as mãos abraçam a árvore da vida; na Fundação Ricardo Moysés Jr., as mãos seguram o coração, a esperança; no Instituto Bruno, as mãos fazem a troca de corações entre professores e alunos; no Lar dos Idosos Santa Luiza de Marilac, a mão faz o carinho na foto antiga, a saudade; no Educandário Carlos Chagas, a mão que pinta é como na Apae, que produz a massa na oficina de culinária e promove a inclusão. Em cada instituição, as mãos foram importantes para que eu pudesse passar aos leitores essa solidariedade.”
Amor para dar e receber
Ao ver o calendário pronto, Fernando Priamo se orgulha do trabalho e de como suas imagens se tornaram marcantes, como uma recordação dos lugares por onde passou e das pessoas com quem conversou. “Eu trago comigo, das 12 instituições, 12 formas diferentes de amar, e isso não tem valor que pague. O leitor que tiver o calendário terá 30 dias em cada mês para aprender uma forma de amor e, no final do ano, terá aprendido 12 formas de amar. As pessoas precisam ir até às instituições para que possam receber dessas pessoas o amor que elas têm para dar, porque é muito frio você enviar um dinheiro ou comprar uma cesta básica e entregar. Ir até lá faz com que você modifique seu jeito de pensar, de agir, com que mude os seus valores. Isso nos enriquece”, observa.
Através desses registros artísticos, Priamo espera que as pessoas consigam enxergar a necessidade da sociedade em que vivemos. “Precisamos nos conscientizar de que nós também somos responsáveis e não apenas o Estado. Também temos uma parcela de culpa por fechar os olhos e temos que assumir isso. Acho que é isso que o calendário busca, que cada um pense sua parcela. Tem uma frase da Irmã Dulce que eu nunca gostaria de ouvir, ela fala em certo momento com alguém que, infelizmente, a única riqueza daquela pessoa é o dinheiro. Isso é grave, e espero que ninguém tenha que escutar isso, que sua vida está vazia.”