Mais bombeiros de JF e região seguem para Brumadinho

Integrantes do grupo relatam esperança para ainda encontrar pessoas com vida na região da tragédia


Por Michele Meireles

31/01/2019 às 13h05- Atualizada 31/01/2019 às 17h44

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Segundo grupo de militares da região seguiu para Brumadinho com apoio logístico da PM (Foto: Olavo Prazeres)

Heróis de carne, osso e coração. No sétimo dia de trabalhos em Brumadinho, mais 21 bombeiros de Juiz de Fora e região partiram para a cidade mineira levando esperança junto às fardas. Mesmo com as chances de encontrar sobreviventes ficando cada vez mais remotas, o grupo segue acreditando que ainda pode levar conforto para aqueles que esperam respostas. Uma luta contra a lama e contra o tempo revestida de coragem e abnegação. Para enfrentarem o cenário caótico que irão encontrar no município afetado pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro, os militares passam por treinamentos físicos pesados e também contam com apoio psicológico e de saúde.

Juiz de Fora é a primeira cidade do interior em número de militares envolvidos nos trabalhos em Brumadinho. Fica atrás somente da capital Belo Horizonte. Os 21 militares que saíram nesta quinta-feira (31) de manhã da sede do 4º Batalhão de Bombeiros Militar, sediado na Avenida Brasil, região central de Juiz de Fora, irão render 25 militares de Juiz de Fora e Barbacena que já estão em Brumadinho desde o último sábado (26).

Os bombeiros que seguiram viagem são de Juiz de Fora, Ubá, Muriaé, Barbacena e São João del-Rey, todos subordinados ao batalhão de Juiz de Fora. “Os bombeiros que estão lá estão relatando realmente uma grande dificuldade nos trabalhos e também um sofrimento grande de todos os familiares dos afetados pela tragédia. É uma estrutura de guerra montada, um serviço muito árduo e de muito desgaste. Eles estão recebendo todo o suporte médico e psicológico”, disse o comandante do batalhão, tenente coronel Emerson Ramalho.

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Antes de seguir viagem, grupo se reunião em oração no pátio do Batalhão dos Bombeiros (Foto: Olavo Prazeres)

A tropa que segue para Brumadinho foi escolhida a dedo. Eles são especializados em busca e resgate em estruturas colapsadas e têm curso de salvamento em soterramento, enchentes e inundações. Os bombeiros militares receberam ainda instruções de como será o trabalho no local do incidente. Um dos escolhidos foi o sargento Denilton Dias Ferreira, que trabalhou também na tragédia de Mariana, em novembro de 2015. “Fui enviado para Mariana na primeira turma. A magnitude do evento lá era maior, pelo tamanho da barragem que se rompeu, que deixou 19 mortos. Porém, hoje (quinta) em Brumadinho são mais de 200 desaparecidos e mais de 90 corpos encontrados. O fator emocional vai ser o maior desafio. O sentimento que estamos levando é o de cumprir a missão, independente de qual for. A esperança nós manteremos até que for dada a última ordem de que não tem mais vida. Vamos dar continuidade a todo esforça que está sendo feito, buscando dar conforto aos familiares que estão lá, que estão buscando respostas”, comentou.

Única mulher militar de Juiz de Fora que está indo para Brumadinho, tenente Priscila Adonay compartilha do mesmo sentimento. “Estamos trabalhando muito a resistência, a gente sabe que a atividade é muito pesada. Mas principalmente é o desafio de encontrar vidas. A gente tem esperança de encontrar vidas sobre os escombros, bolsões de ar ou algum local que a pessoa conseguiu ficar retida. A gente também tem família, filhos. De todas as ocorrências que atendemos, acaba pegando um pouco desta sensibilidade, pois queremos nosso ente querido resgatado bem. Sentimos a tristeza e a alegria dessas pessoas e toda essa carga emocional é um desafio”, comentou.

Mente e corpo em equilíbrio

Nas imagens da tragédia, que vem sido mostradas a todo tempo, chama a atenção os bombeiros sujos dos pés a cabeça, exaustos, rastejando em meio à lama, em contato também com materiais que podem ser tóxicos aos humanos. Para isso, os militares, que são treinados fisicamente à exaustão, também recebem medicação específica para evitar problemas de saúde. “Antes de seguirem para Brumadinho, os militares já recebem medicamentos de profilaxia. No retorno, fazem vários exames para checar a saúde como todo e também as taxas de metais pesados. Eles estão sendo tratados antes e depois do empenho”, comentou o tenente coronel Emerson Ramalho.

Para ajudar a se manterem bem, diversos profissionais da saúde, como médicos e psicólogos, foram enviados para Brumadinho. Em Juiz de Fora, eles são assistidos pela tenente psicóloga Anália Oliveira. “A preparação psicológica acontece todo o tempo na atividade de bombeiro, é inerente à profissão, já que atuam em cenários de grandes desastres, com grande sofrimento humano. Porém, nada se compara à cena real. Estamos trabalhando a importância deles se cuidaram emocionalmente, de perceberem, enquanto seres humanos, que também sofrem. A questão do foco no trabalho os ajuda a passar por isso melhor. Quando retornam, nossa preocupação é apoiar e acolher, para que eles externalizem o que passaram lá”, comentou.

Os militares também estão recebendo o apoio dos voluntários que estão em Brumadinho. São eles que lavam as fardas sujas de barro. Na noite da última quarta-feira (30), os militares tiveram uma grata surpresa ao chegarem à noite em seus alojamentos. Encontraram em cima de suas camas pares de meias, bilhetes de agradecimento e um doce. Gestos que afagam o coração e ajudam a continuar.

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Sobre o “título” de heróis que os bombeiros recebem, o sargento Denilton prefere o trocar pelo bom cumprimento do trabalho. “Recebemos de bom grado, com carinho e respeito. Estamos aqui para servir, não consigo ver como herói, somos profissionais, por mais que aclamem, estamos ali trabalhando com grande profissionalismo”, diz. Antes de seguirem, os militares se abraçaram, fizeram uma oração e prometeram dar seu melhor.

 

Tópicos: barragem

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