Polícia investiga mensagem de ameaça de atentado a escolas de JF
Postagem com imagem do massacre da Nova Zelândia deixou pais de alunos e estudantes apavorados
“Aguarde-me Jesuítas e Stella. Agora é a vez da alta burguesia pagar. Chegou a hora do seu maldito capitalismo ruir e entrar em declínio!” A divulgação desta frase acompanhada da imagem da arma em primeiro plano usada em uma “live” pelo atirador que dizimou 50 pessoas em duas mesquitas da Nova Zelândia na semana passada levou pânico a pais e alunos das duas tradicionais escolas católicas situadas na Avenida Itamar Franco, no Centro de Juiz de Fora. A mensagem disseminada nas redes sociais pelo menos desde segunda-feira (18) fez as duas instituições se aproximarem e traçarem estratégias para amenizar o impacto, acionando também as polícias Militar e Civil a fim de garantir a segurança e identificar o autor da postagem. Ainda não foi confirmado se trata-se de uma efetiva ameaça ou de uma “brincadeira” de extremo mau gosto. No início da tarde desta terça-feira, as duas instituições de ensino emitiram nota conjunta sobre o caso e as medidas de proteção adotadas.
A Polícia Civil confirmou que informações estão sendo apuradas sobre essa mensagem, mas não adiantou se algum suspeito já foi identificado, para não atrapalhar as investigações. “O caso está sendo apurado pelas equipes do setor de inteligência do 4º Departamento de Polícia Civil em Juiz de Fora e da 1ª Delegacia Regional.” A assessoria da PM também assegurou estar trabalhando na questão, mas não repassou detalhes para não prejudicar o resultado.
Segundo a assessoria de imprensa do Colégio Stella Matutina, tão logo a escola tomou conhecimento da mensagem, entrou em contato com o Colégio dos Jesuítas, acionando também as polícias Civil e Militar. “As duas corporações entraram no caso, uma com a parte de investigação e a outra com o reforço de vigilância na região das escolas.” Uma viatura da PM foi vista logo no início da manhã desta terça na porta do Jesuítas. “Tanto a PM quanto a Polícia Civil vêm mantendo contato com os colégios para passar segurança. As duas corporações estão atentas e acompanhando”, completou a assessoria do Stella.
Na esteira dos massacres
Além de fazer referência ao atentado da última sexta na Nova Zelândia, a mensagem criou ainda mais pânico por ter sido divulgada menos de uma semana depois do massacre que terminou com dez mortos na Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo. Os assassinos, de 17 e 25 anos, eram ex-alunos do colégio. Eles invadiram a instituição e mataram sete pessoas, sendo cinco estudantes e dois funcionários. Antes do ataque, um deles baleou e matou o próprio tio em uma loja de automóveis na mesma cidade.
Uma mãe de 35 anos, que preferiu não se identificar, tem dois filhos estudando no Stella, um deles de 4 anos, no infantil, e outro, de 7, no terceiro ano do ensino fundamental. “Estamos apavorados. Estão falando que é ‘brincadeira’, mas no grupo de mães ficou todo mundo em pânico. O colégio não tem tanta segurança, com gente armada na porta, porque não é para ter mesmo. Então ficamos desesperados, e várias mães foram hoje de manhã ao colégio, não quiseram levar os filhos antes de terem um posicionamento. Muitas nem queriam levá-los. E quando eu cheguei lá tinha uma viatura e um soldado na porta. Isso amenizou um pouco, deu uma segurança para a gente que estava chegando com aquela expectativa: ‘Meu Deus, como será hoje?'”. Um segurança de empresa particular também foi visto por ela na secretaria da instituição.
“Da porta para dentro, a escola está mantendo contato com as famílias para exatamente conversar sobre o assunto. Sabemos que há comoção, e é natural que queiram conversar. No caso dos alunos maiores, a direção foi nas salas falar sobre o caso”, complementou o Stella.
Colégios emitem nota conjunta sobre medidas protetivas
No início da tarde desta terça-feira (19), os colégios dos Jesuítas e Stella Matutina divulgaram e publicaram nas redes sociais uma nota conjunta esclarecendo o caso e as medidas protetivas estabelecidas. “Ao tomarmos conhecimento de conteúdo compartilhado em aplicativos de comunicação instantânea, mencionando o Colégio dos Jesuítas e o Colégio Stella Matutina, as direções das duas instituições, em conjunto, adotaram as medidas protetivas legalmente recomendadas, acionando imediatamente as autoridades de segurança pública, que estão assessorando as instituições, as quais, por sua vez, contribuem com a investigação em curso, desejando uma completa apuração dos fatos e das respectivas responsabilidades, nos âmbitos civil e criminal.” Como primeiro resultado desse movimento, as direções citam o reforço da presença policial nos horários de entrada e de saída dos estudantes nas duas escolas.
As instituições destacaram ainda não ser possível detectar se trata-se de uma verdadeira intimidação. “Em respeito às famílias dos estudantes dos dois colégios, ratificamos que a confirmação – ou não – da veracidade das informações não exime as instituições de intensificarem suas ações de segurança protetiva. Assim, além do zelo e do cuidado institucionais, estimulamos os estudantes, seus familiares e educadores, a reforçarem as medidas autoprotetivas e de atenção solidária aos colegas, alertando-os caso percebam algum comportamento inadequado ou que os coloque em estado mais vulnerável.”
O Colégio dos Jesuítas afirmou estar intensificando, de modo particular, os procedimentos de acompanhamento de entrada e saída dos estudantes, “em aprimoramento desde o início do ano letivo, com o estudo de alternativas visando à consolidação do formato definitivo de acesso às dependências da instituição, considerando a centralidade dos estudantes no processo de aprendizagem, conforme dispõe o Projeto Educativo Comum, da Rede Jesuíta de Educação”.
Por sua vez, o Colégio Stella Matutina segue reforçando sua segurança interna, “com controle presencial de acesso às suas dependências, e ainda mantendo contato permanente, para atualização de medidas e procedimentos, com colaboradores, alunos e famílias”.
Por fim, as duas instituições garantem estar trabalhando em conjunto, permanecendo “abertas ao diálogo com suas respectivas comunidades educativas e direcionando esforços para uma rápida e plena elucidação dos fatos, que colabore sempre mais para a serenidade no cotidiano escolar”.
Boneca Momo já havia aterrorizado pais nas redes sociais
A postagem com ameaças de ataques aos colégios do Jesuítas e Stella Matutina acontece na mesma semana em que a boneca Momo já havia apavorado pais de crianças em Juiz de Fora e de todo o país. Assim como ocorreu em 2017 com o “desafio da Baleia Azul”, criminosos passaram a utilizar a personagem para influenciar crianças e adolescentes a cometerem delitos, inclusive suicídio. A boneca de olhos esbugalhados, pele pálida e sorriso sinistro já levou medo a várias partes do mundo. Os casos alertam para a necessidade de os responsáveis monitorarem o conteúdo acessado por crianças e adolescentes na internet.
A Momo já havia aparecido no WhatsApp e, desde o mês passado, passou a se infiltrar no meio de vídeos infantis que circulam nas redes sociais. A orientação é para que esse tipo de mensagem pare de ser compartilhada ou pesquisada em sites de busca, pois isso impulsiona o conteúdo, que, consequentemente, fica mais acessível para as crianças.
O Ministério Público da Bahia enviou notificações para o Google e o WhatsApp pedindo informações e a remoção desses vídeos “contaminados”. Em seu site, o MP esclarece que, “por meio do Núcleo de Combate a Crimes Cibernéticos (Nucciber), instaurou procedimento para apurar os fatos relacionados a vídeos possivelmente disponibilizados em plataformas de vídeo e compartilhados em redes sociais com conteúdo direcionado a crianças e uso do personagem “Boneca Momo”. Foram enviadas notificações ao Google e ao WhatsApp, por meio das empresas sediadas no Brasil, para remoção do conteúdo”.
O YouTube já se pronunciou afirmando não ter recebido “nenhuma evidência recente de vídeos mostrando ou promovendo o desafio Momo no YouTube Kids”. De qualquer forma, conteúdos suspeitos podem ser denunciados. “É possível que a figura chamada de ‘Momo’ apareça em vídeos no YouTube, mas somente naqueles que ofereçam um contexto sobre o ocorrido e estejam de acordo com nossas políticas”, afirmou a empresa.
Especialista aponta educação e diálogo como caminhos
Com experiência na área de comunicação, com ênfase em estudos audiovisuais e novas mídias, a professora doutora e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF, Gabriela Borges, revelou, durante debate na manhã desta terça-feira (19), na Rádio CBN, também ter recebido mensagem da escola de seu filho alertando sobre a existência da boneca Momo em alguns vídeos infantis, ensinando as crianças a se matarem. “Isso é muito sério. Como nós vamos agir enquanto sociedade e pessoas preocupadas com o bem de todos? É através da educação. Tudo o que nós vivemos hoje inter-relaciona e interage entre esse on-line e esse off-line. Quando pensamos em crianças e adolescentes é muito importante que a gente comece a discutir e ensinar o uso dessas redes sociais de forma apropriada, para que não haja essa confusão ou não entendimento dessas duas dimensões. Estar on-line é também uma faceta das nossas vidas, e as pessoas precisam entender que há essas diferenças e que precisam aprender a atuar no on-line para que não se exponham demais e não sejam influenciadas negativamente.”
Uso maquiavélico de uma escultura de silicone
Matéria publicada pelo jornal “O Globo” nesta terça mostrou que a Momo era apenas mais uma escultura de silicone do artista japonês Keisuke Aiso, 46. Em 2016, ela foi exibida numa exposição no Vanilla Gallery, em Tóquio, capital do Japão. Mas diante da repercussão negativa pelo uso maquiavélico de internautas, seu criador resolveu jogar a obra no lixo. “Ela não existe mais, não foi feita para durar. Estava desgastada e joguei fora. As crianças podem ter certeza de que Momo está morta. Ela não existe e a maldição se foi”, afirmou o artista ao jornal britânico “The Sun”. “Eu tenho uma criança pequena, então entendo como os pais estão preocupados”, completou.
Sobre como os responsáveis devem agir diante da presença cada vez mais necessária da internet na vida de todos, a especialista avalia que a conversa sobre todas as questões é de suma importância. “Ou as crianças ficam sozinhas em casa ou chegam tarde, quando os pais já estão cansados. É muito difícil essa realidade que vivemos. Os estudos apontam que não adianta proibir. Mas tem que ver junto, tem que conversar e colocar todas as questões. O modo como se vê e se pensa a infância e a adolescência hoje também é diferente. Creio que o melhor caminho é o diálogo, apontando os dois lados, os problemas e os benefícios da internet.”