Estudantes da UFJF são finalistas do prêmio brasileiro de design de mobiliário
Na 25ª edição da premiação, universitárias do curso de Bacharelado em Design levam o nome da universidade a uma das premiações mais tradicionais do ramo no país
As alunas do quinto período do Instituto de Artes e Design, Bárbara Sayury Trevisan Mayeta e Ana Clara Souto de Souza, são responsáveis por levar o design de mobília criado dentro da Universidade Federal de Juiz de Fora para o país. O banco “Piqui”, desenvolvido por elas com orientação da professora Lia Paletta, está entre os finalistas do Prêmio Salão Design – 2023, um dos concursos mais tradicionais do setor no país. Até o dia 19 de julho, os trabalhos selecionados são submetidos a votação popular on-line.
A etapa seguinte é destinada a avaliação do júri, composto por designers e profissionais do setor moveleiro. Uma série de características são levadas em conta para o desenvolvimento de móveis, como ergonomia e antropometria, materiais e sistemas mecânicos. “Piqui” disputa na categoria “Desafio da Identidade Brasileira”, na modalidade de estudante. O nome do móvel está associado às raízes mineiras. Um destaque é o assento em madeira imbuia, com entalhe que imita o contorno da Serra do Espinhaço, chamada de Cordilheira Brasileira, montanha que se estende entre as cidades de Barão de Cocais, em Minas, e Xique-Xique, na Bahia.
Segundo Ana Clara Souza, o projeto faz referência a uma amiga do Norte de Minas. “Ela é do Norte de Minas e gosta muito de pequi. Quisemos fazer algo para ela e resolvemos representar com essa fruta. Colocamos o nome “Piqui”, com “i”, porque é como ela fala.”
A orientadora do projeto, Lia Paletta, destaca que o desenvolvimento de móveis demanda conhecimento. Durante a sua disciplina, realizada em parceria com o Laboratório de Design, há a produção do produto, a partir do manuseio do maquinário da marcenaria. “Nossa proposta não é a de que designers devem produzir seus produtos, mas entendemos que o conhecimento de chão de fábrica, mesmo que em menor escala, auxilia o estudante a desenvolver projetos viáveis, que poderão efetivamente ser produzidos industrialmente, levando inovação ao mercado de móveis.”
Ela acrescenta que é necessário elencar diversos fatores na criação de novos produtos, que, mais tarde, serão disponibilizados ao mercado. “Não necessitamos apenas de cadeira, isto é um substantivo que referencia apenas o sentar. Mas como se senta, onde está a cadeira, que tipo de pessoa está sentada, a trabalho ou em uma refeição, de que material é feita, é barata ou cara?”, indaga a professora. Diante disso, a mobília precisa acompanhar as mudanças sociais e os novos contextos do cotidiano, acredita.
É justamente esses questionamentos que a fazem considerar um desafio o design brasileiro, em específico. Isto porque a pluralidade, fruto de identidades múltiplas, torna a representação de um produto tipicamente brasileiro uma característica em constante movimento. A produção sustentável oriunda de fontes renováveis é também uma preocupação persistente dos profissionais do ramo.
Outro valor agregado à obra foi apresentado por Bárbara Mayeta, que disse explorar a dualidade entre conforto e estética. Ela também participou da categoria “Desafio das Experiências Positivas” e é finalista com um outro trabalho, um divã intitulado “Desatar”.
Criados durante as aulas práticas, os móveis agora serão enviados para avaliação no município de Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul. A premiação está prevista para agosto, e o evento é promovido pelo Sindicato das Indústrias de Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis).
Sustentabilidade: um espaço para as brasilidades
O design made in Juiz de Fora também ganha espaço em outras frentes. No início do mês, o trabalho feito pela design Beth Hargreaves em parceria com a design e marceneira Fernanda Távora ganhou o prêmio de ouro na categoria Iluminação e Objeto de design para casa da primeira edição do Concurso Salão de Gramado. A obra “Luminária Bilboquê” garantiu a elas o troféu Olga Krell, que faz alusão à criadora da Revista Casa Cláudia.
Nascida em Brasília, há dez anos Beth Hargreaves escolheu Juiz de Fora como sua casa. Fernanda também não tem origem aqui, mas veio de Muriaé, outra cidade mineira. A peça que levou o prêmio foi a primeira criada em conjunto por elas.
A ideia do projeto remonta a outro período. No último período da Faculdade de Design de Interiores, Beth fez vários desenhos inspirados em brinquedos da infância. Cinco anos depois de formada, completados em 2022, ela, então com 54 anos, teve o ímpeto de se aventurar como designer de produtos.
O trabalho conjunto de Beth e Fernanda juntou o melhor de ambas. Fernanda trouxe para o projeto o conceito de sustentabilidade e da carpintaria tradicional de Juiz de Fora, viabilizado por meio do uso das sobras de materiais destinados a fabricação de portas e janelas. A matéria-prima é colocada em blocos e, posteriormente, torneada artesanalmente pelo carpinteiro Rodrigo Luiz.
O reconhecimento do projeto das designers rendeu emoção e orgulho. “O evento tem exatamente esse objetivo de mostrar que o design brasileiro é tão bom quanto o design apresentado nas feiras internacionais e que devemos valorizar não só os nossos produtos como também os grandes designers brasileiros”, conclui Beth sobre a experiência.