Mais de 400 soldados de JF na intervenção federal no Rio


Por Michele Meireles

11/11/2018 às 07h00

exército6 CRÉDITO 4ª BRIGADA DE INFANTARIA LEVE MONTANHA
Soldados ficam em operação por cerca de 30 dias no Rio (4ª Brigada de Infantaria Leve-Montana)

A pouco mais de um mês para o fim a intervenção federal de segurança no Rio de Janeiro, a 4ª Brigada de Infantaria Leve (Montanha), sediada em Juiz de Fora e responsável pelos quartéis da cidade e de São João Del Rey, Petrópolis,Santos Dumont e a Companhia de Comunicações de Belo Horizonte, soma cerca de 1.300 militares na missão. Mais de 400 são de quartéis de Juiz de Fora. Atualmente, 291 soldados de Santos Dumont, Juiz de Fora e Belo Horizonte estão em operações no Rio da Janeiro, onde os objetivos são baixar os índices de criminalidade, desarticulando facções criminosas, e recuperar a capacidade operativa das instituições.

A operação já deixou mortos dois cabos, um soldado e um capitão do Exército, que faleceu no dia 7 de outubro. De acordo com o novo comandante da 4ª Brigada, general Alcio Costa, que assumiu o posto em agosto deste ano, o ponto de honra para o comando é não colocar inocentes em risco durante estes confrontos e não expor a tropa, que é escolhida “a dedo” e treinada à exaustão. “É lógico que ninguém está feliz com a necessidade de empregar as Forças Armadas numa situação dessa, dentro de território nacional. Mas temos que fazer disso uma forma de estarmos cada vez mais preparados.Não somos vingadores, não faremos justiça com as próprias mãos. Nossa grande responsabilidade é termos a convicção de que quem vai está treinado e preparado para o que vai enfrentar”, disse.

Conforme o general, os soldados comandados por ele integram três forças-tarefas, formadas por companhias e pelotões, entre elas, de Logística, Comunicações e Polícia do Exército. Eles se revezam nas idas ao Rio de Janeiro e ficam em operações por cerca de 30 dias. O primeiro efetivo foi enviado em abril deste ano, dois meses após a intervenção ter início. A Força-Tarefa Tiradentes, composta pelo maior efetivo de Juiz de Fora, segue novamente para a missão no dia 24 deste mês e fica até o dia 27 de dezembro. Os soldados estão em treinamento. O general destacou que apenas militares do efetivo profissional estão sendo empregados. Nenhum recruta que está cumprindo serviço militar obrigatório vai para a missão. “Só foram para esta missão militares com, no mínimo, um ano de experiência e treinados. Precisamos escolher o homem certo, que esteja preparado psicologicamente, emocionalmente, com material adequado”, afirmou.

Soldados da Brigada já foram empregados em outras importantes missões, como na Copa do Mundo, nos complexos do Alemão e da Penha, na Maré, na Jornada Mundial da Juventude, nos Jogos Olímpicos e na greve das forças de segurança pública no Espírito Santo. “Existem módulos para cada tipo de combate, os que estamos hoje enfrentando no Rio de Janeiro são de natureza de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Conflitos urbanos, com progressão em meio a casarios, tiros a curta distância, seleção de alvos. Muitas vezes, quem está na sua frente não é o inimigo. Antes de apontar e puxar o gatilho, tem que se ter a noção perfeita de onde vai atingir. Isso só se consegue com muito treinamento”, atentou o general.

Um dos militares de Juiz de Fora escolhido para atuar no contexto da intervenção de segurança foi o capitão Thiago Pimentel, do 10º Batalhão de Infantaria Leve (BIL), localizado no Bairro Fábrica, Zona Norte. Ele comandou a companhia da unidade que esteve no Rio de Janeiro entre 21 de setembro e 20 de outubro. “No período em que estamos no batalhão, estamos em adestramento. São treinadas técnicas de combate em ambiente urbano e técnicas de ação imediata para agir no caso de ser abordado por um criminoso. Somos treinados com método jesuítico, ate chegar à perfeição. Os militares que vão são os mesmos por este motivo”, afirmou.

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“Aquela figura do menino de bermuda, chinelos e pistola, mudou, ainda tem, mas não é maioria mais. Já foi apreendido fuzil calibre ponto 50, arma usada pela Exército americano no Iraque, granada. Você está subindo o morro e se depara com isso” General Alcio Costa, comandante da 4ª Brigada. (Foto: Olavo Prazeres)

Criminosos estão organizados e fortemente armados

Em entrevista à Tribuna em agosto passado, durante visita a Juiz de Fora, o interventor federal, general Walter Souza Braga Netto, havia destacado a queda nos índices de crimes violentos durante a intervenção (ver quadro). O oficial destacou o comportamento dos criminosos frente às forças de segurança. “O único índice que aumentou foi o do enfrentamento entre os bandidos e a polícia e nós. A marginalidade no Rio de Janeiro tinha posição de confrontar as forças, havia muitos tiros, normalmente se acertavam inocentes. Fizemos treinamentos de abordagem, não para matar, para abordar, ter mais segurança e evitar dano colateral. A polícia ficou melhor adestrada, com equipamento novo, e os bandidos mantiveram a posição irracional de, acuados, continuarem nos enfrentando, aí estão morrendo. Quando eles passarem a se entregar, isso vai cair”.

Para Alcio Costa, o ambiente que as tropas operam no Rio é “complexo e difícil de progredir. Nós estamos no deparando com criminosos fortemente armados, até uniformizados e organizados em grupos, são facções. Aquela figura do menino de bermuda, chinelos e pistola, mudou, ainda tem, mas não é a maioria mais. Já foi apreendido fuzil calibre ponto 50, arma usada pelo Exército americano no Iraque, granada. Você está subindo o morro e se depara com isso. Eles fazem muros de contenção no meio do nada, de uma rua, aleatoriamente, para demarcar território. O crime organizado vai mudando táticas, e nós também. Sempre com objetivo de diminuir ao máximo os efeitos colaterais para população e a exposição da tropa”, afirmou.

Até o momento, quatro militares do Exército perderam a vida na missão do Rio de Janeiro. O último deles, o capitão Diego Martins Graça, baleado por bandidos no Complexo da Penha no dia 15 de setembro. O oficial morreu no dia 7 de outubro. Um tenente do 10º Batalhão de Infantaria Leve (BIL) também foi alvo, ele foi baleado de raspão no rosto no morro do Salgueiro. “Não cabe sentimento de vingança, de ódio e muito menos de medo. Quando se há uma morte, é uma tragédia. Vamos chorar a morte de um irmão, mas a missão continua. É trazer tranquilidade para tropa. Nós não somos vingadores, não faremos justiça com as próprias mãos, mas não vamos nos acovardar. Para o comando, a cada incidente é feita análise de lições aprendidas, e destas lições, quais ações devemos adotar. Por exemplo, se aquele local onde ocorreu favorecia um tiro de um agente perturbador da ordem pública a longa distância sem que pudéssemos perceber, se temos que aumentar a proteção blindada, se vamos entregar maior efetivo para desencorajar o inimigo. Eles (criminosos) estão nos enfrentando mais, coisa que há dez anos não se imaginava, antes, só atiravam quando davam de cara, hoje não”, pontuou.

Missão

O capitão Thiago Pimentel estava no momento em que o tenente do 10º BIL foi alvejado. Para ele, a união dos soldados após o incidente fez a diferença. “A tropa não pode permitir a desmoralização da força. A gente mantém missão, somos soldados e cumprimos. No caso deste tenente, ele se deparou com uma reunião de criminosos, que atiraram durante a fuga. Após o ocorrido, foi determinado o emprego da massa e conseguimos saturar a área, não com sentimento revanchista. Uma coisa que percebi é que a companhia estava comigo, o que eu falava, a gente fazia. Isso é fundamental, buscar esta liderança, de levar o pessoal a fazer o que é certo naquele momento.”

Para amenizar a tensão

No período em que estão no Rio de Janeiro, os militares ficam quase que 24 horas por dia na missão. O material que carregam pesa cerca de 20 quilos. Para amenizar a tensão, cansaço e proporcionar momentos de lazer à tropa, o comandante da 4ª Brigada de Infantaria Leve (Montanha), teve a ideia de enviar a banda e o padre da Brigada à capital Fluminense a cada 15 dias. “A banda atua diretamente na moral da tropa. A cada 15 dias, quando a tropa estiver de folga, a banda daqui irá para lá. Pedi que fosse feito um repertório com músicas que estão em alta. É um momento que os soldados relaxam, distraem. O padre também irá, ele ficará lá por um ou dois dias, levando um conforto espiritual, conversando. Também será feito um culto ecumênico”, disse Alcio Costa.

Brigada sai mais fortalecida

A 4ª Brigada de Infantaria Leve (Montanha) é hoje uma das duas brigadas vocacionadas para operar no Rio de Janeiro. Desde setembro de 2013, a unidade militar mudou sua denominação de Brigada de Infantaria Motorizada para Brigada de Infantaria Leve, cuja principal característica é grande mobilidade. “Isso nos trouxe maior responsabilidade. É uma tropa que o Comando Militar do Leste (CML) pode contar, que está pronta para ser utilizada. Além disso, somos a única Brigada do país vocacionada para operar em ambiente montanhoso. Por este motivo, o Exército nos deu a boina de cor cinza, somos os únicos do país a usar esta boina.”

Legado

Sobre o legado que a atuação na intervenção federal de segurança pública, o general Alcio Costa afirmou que o desenvolvimento da liderança em todos os níveis é um dos pontos de destaque. “Se tem alguma coisa positiva neste contexto, é que a Brigada sai fortalecida, no sentido que nossa tropa está mais preparada. Tem se investido muito mais em equipamentos. Tem um ganho imensurável no nosso pessoal, na liderança que surge nas pequenas frações. O soldado está entendendo a missão, vibrando. A intervenção tem atingido seus objetivos. Vou ao Rio pelo menos uma vez por semana, e nossas tropas tem sido citadas, elogiadas. Tanto é que estamos sendo empregados em locais críticos, onde a situação precisa ser melhorada. Temos correspondido a esta confiança. Acho que nós mineiros temos que nos orgulhar muito de nossos soldados. Nosso grito de guerra é Montanha. É o que nos identifica. Montanha resume em uma palavra o espírito que essa tropa já tem e que queremos aflorar”, pontuou.

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