Juiz de Fora é campeã em número de acidentes na linha férrea
Segundo dados da MRS Logística, todos os casos teriam ocorrido por imprudência da população
No ano passado, Juiz de Fora foi o município que mais teve acidentes na linha férrea da MRS Logística. Segundo levantamento divulgado pela empresa nesta quarta-feira (5), houve 14 casos registrados na cidade, sendo 13 atropelamentos e 1 abalroamento (choque com veículos). Em comparação com 2018, houve aumento de um caso. Nos 105 municípios atendidos pela rede houve um total de 99 acidentes, em trechos corridos ou passagens em nível, uma queda em comparação a 2018, quando foram registrados 101 casos. Só em Minas Gerais, a empresa contabilizou 38 acidentes, contra 34 no Rio de Janeiro e 27 em São Paulo.
Segundo o gerente de Segurança Operacional da MRS, Filipe Berzoini, o fator histórico da linha férrea que passa por Juiz de Fora associado à imprudência dos pedestres são dois dos principais fatores que explicam os números. “No passado, o trecho que passa por Juiz de Fora tinha uma característica de transporte de passageiros e, por isso, a linha férrea corta o grande centro da cidade. Além disso, 100% das ocorrências da cidade estão relacionadas à imprudência, principalmente em zonas de bairro, onde as pessoas transitam pela linha férrea, com maior exposição ao risco. Das 14 ocorrências, 12 aconteceram em trechos cujo trânsito de pedestre é proibido (trecho corrido). Isso porque o pedestre, por comodidade, prefere caminhar pela linha férrea ao invés de adotar as passarelas ou passagens de nível. Também tivemos bastante problema com alcoolismo, três casos foram com pessoas embriagadas”, relata.
Dentre os bairros, o Poço Rico é o que registra o maior número de acidentes (5). Dois aconteceram próximo ao Centro, entre a Rua Halfeld e a passagem da Rua Benjamin Constant. Na passagem de pedestre da Rua Espírito Santo houve um caso. Os bairros Benfica e Francisco Bernardino registraram dois casos cada. Bairro Industrial e Retiro tiveram um acidente cada.
Para Berzoini, o problema pode ser amenizado com uma maior conscientização das pessoas. “Já há vedação, passagem de pedestres e passarelas suficientes. Todas as passagens de nível, que servem para pedestres e veículos, possuem a maior proteção possível e adotamos sistema de manutenção frequente, para fiscalizar pintura, asfalto e placas – que muitas vezes são pichados. O que resta é uma pequena parte da população se conscientizar, porque a maioria convive bem”, observa.
Além de providenciar estruturas de segurança, a empresa também conta com um sistema de vigilância e auxílio dos controladores de tráfego, com monitoramento 24 horas através de câmeras. Segundo o gerente de Segurança Operacional da MRS, o sistema até permite que uma equipe de segurança intervenha quando é observada alguma situação de risco, no entanto, quando as coisas acontecem muito rápido, nem sempre é possível evitar o acidente. Em período noturno, é ainda mais difícil por conta da baixa visibilidade das câmeras. Por isso, é importante que a população entenda que atravessar uma linha férrea não é simples como atravessar a rua. “O carro consegue parar e evitar o atropelamento, mas o trem não para de uma vez só. O maquinista não consegue fazer nada além de aplicar a emergência, que aciona os freios possíveis. Mas, pelo peso que os vagões têm, não é possível parar imediatamente”, destaca.
Berzoini lembra ainda que o trem utiliza mais espaço do que a linha delimita e que é necessária uma distância de pelo menos três metros dos trilhos para que uma pessoa ou veículo não seja atingido. Mediante a necessidade de atenção para ver e ouvir, e para manter o foco, recomenda-se, inclusive, que seja evitado o uso de fones de ouvido em cruzamentos. “Há dois anos houve um atropelamento na passagem do Poço Rico de um jovem, que usava fones de ouvido e não se deu conta de que a campainha da passagem estava tocando, a cancela estava baixada, o sinal piscando e a locomotiva buzinando e com o farol alto. Ele morreu dias depois no hospital”, relembra.
Dados mostram padrões nas causas de acidentes
No país, dos 99 acidentes registrados, 76 foram atropelamentos e 23 abalroamentos. Atrás de Juiz de Fora, está a cidade de Suzano (SP), com sete casos. Belo Horizonte e Sarzedo (MG), Rio de Janeiro, Barra Mansa e Paraíba do Sul (RJ) contabilizaram quatro casos cada. Os demais acidentes foram distribuídos por 40 municípios.
A análise observou ainda que os abalroamentos foram causados, na maior parte dos casos, por desatenção (48%) e impaciência (35%). O horário mais frequente para registros de choque com veículos foi o período da manhã (35%), entre 6h e 11h59, e madrugada (30%), entre 00h e 05h59. Dos casos de atropelamento em 2019, 86% ocorreram em áreas onde é proibida a circulação de pessoas. As principais causas observadas são o consumo de bebida alcoólica ou entorpecentes (38%), substâncias que limitam a atenção das pessoas. “A familiaridade com a ferrovia faz com que algumas pessoas não observem atentamente as regras de segurança. Atos como parar, escutar e ver são essenciais, seja você uma pessoa habituada a viver numa região próxima à linha férrea ou não. A passagem de um trem leva cerca de três minutos apenas. É muito pouco tempo de espera para se expor a um risco de acidente”, destaca Berzoini.
Avaliando o número total de casos em 2019, a MRS avalia como positiva a redução de ocorrências em relação a 2018. No entanto, a empresa adverte que ainda é necessário mais envolvimento de toda comunidade na adoção de práticas de segurança no acesso à linha férrea. Para continuar reduzindo esse número a empresa pretende manter ações de sensibilização e de disseminação de práticas de segurança junto às comunidades, escolas e cidades.