Dono de ferro-velho é preso com mais de uma tonelada de fios de cobre furtados

Maior apreensão: Cabos e metais já desencapados foram recolhidos no estabelecimento e no sítio do investigado, onde era feita a queima da borracha para extração do cobre


Por Sandra Zanella

03/09/2025 às 18h36- Atualizada 03/09/2025 às 19h09

O proprietário de um ferro-velho na Cidade Alta foi preso em flagrante por receptação qualificada de fios de cobre durante a operação Cyprium, desencadeada pela Polícia Civil nesta quarta-feira (3) em Juiz de Fora. A investida resultou na maior apreensão da história desse material na cidade e região, somando cerca de uma tonelada e meia. A maioria dos fios já estava desencapada, mediante a queima da borracha que envolve o metal, realizada no sítio do investigado, no distrito de Torreões, na Zona Rural, para posterior revenda do cobre puro. Para não chamar a atenção dos vizinhos, o fogo era ateado na calada da noite e à beira do Rio do Peixe. A situação bem às margens do curso d’água foi flagrada por imagens e levaram o suspeito a ser autuado também por crimes ambientais, como poluição e emissão de gases tóxicos. A polícia não descarta a existência de uma associação criminosa, que causa prejuízos diários a empresas de telefonia/dados e de energia, deixando também usuários às escuras ou sem comunicação.

De acordo com a polícia, o homem ainda vai responder por adulteração de sinal identificador de veículo automotor, referente a um mini furgão apreendido, que era usado para transporte dos rolos de cabos e fios. Uma caminhonete e uma minivan também foram recolhidas durante a ação. Os materiais furtados foram encontrados tanto no estabelecimento comercial, quanto no sítio, onde o investigado recebeu voz de prisão. Segundo a instituição, como o suspeito se aproveitava da posição de comerciante para entrar na “cadeia” de furtos de fios de cobre, a receptação é qualificada. Ao ser interrogado, ele preferiu se reservar ao direito de só prestar declarações em juízo. Após ter o flagrante confirmado, o homem seguiu para o sistema prisional. Somadas, as penas de todos os crimes podem chegar a 15 anos de reclusão.

Furtos de fios de cobre dispararam nos últimos meses

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Os delegados Márcio Rocha e Marcos Vignolo coordenaram a maior apreensão de fios de cobre (Foto: Sandra Zanella)

As investigações começaram há cerca de quatro meses, justamente pelo alto número de furtos de cabos de energia e telefonia no município. Aliado a isso, o crescimento patrimonial atípico do suspeito chamou a atenção. “Percebemos que a grande maioria dos autores são moradores em situação de rua. De madrugada, sobem nos postes e furtam os fios, ou pegam os subterrâneos, e vendem nos ferros-velhos (a baixo custo)”, conta o delegado Márcio Rocha, coordenador do Núcleo de Inteligência da Polícia Civil de Juiz de Fora. “É uma dor muito grande para a cidade essa grande quantidade de furto de cabos de energia e de internet. É uma demanda da polícia e da sociedade, pois isso interrompe sinais de telefonia e causa um prejuízo grande às empresas e a outros comércios que dependem disso”, enfatiza.

Segundo o delegado, o alvo da operação Cyprium é apontado como um dos principais receptadores desse metal furtado constantemente na cidade. “Além de todo material encontrado no sítio, também localizamos grande quantidade no ferro-velho de sua propriedade”, destaca o delegado Márcio, lembrando que, além do crime patrimonial, houve crime ambiental.

Responsável pela investigação de crimes ambientais, o delegado Marcos Vignolo pontua ser necessário coibir os principais fomentadores dessa atividade criminosa: os grandes receptadores. “Eles são os responsáveis por adquirir esse material das mãos de furtadores e de prestadores de serviço que atuam na área, mas que acabam se desviando do caminho correto, seduzidos pela promessa de lucro, vendendo esse material para os receptadores.”

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Queima dos cabos furtados para extração dos fios de cobre era realizada na beira do Rio do Peixe (foto: Divulgação/Polícia Civil)

O delegado Marcos reforça que o grande lucro são desses receptadores, que vendem o cobre pelo dobro do preço que adquiriram para outros receptadores maiores ainda. “E é sobre isso que as investigações agora vão caminhar”, revela. O policial explica que o processo para obtenção do cobre “puro”, sem a capa, é danoso ao meio ambiente, ainda mais quando é praticado em larga escala. “Promovem a queima de grande quantidade de cabos, provocando uma fumaça tóxica, devido à borracha em combustão.” No caso específico, o fogo era ateado, ainda, em uma Área de Preservação Permanente (APP), próxima ao Rio do Peixe. “Também pode provocar a mortandade de peixes e animais e contaminar a água do rio, que pode vir a ser consumida pela população, espalhando doenças.”

A polícia garante que os trabalhos continuam, visando a mais prisões e apreensões “desses indivíduos que insistem em infringir a lei e furtar esses fios de cobre para venda posterior”. O material recuperado será devolvido às vítimas e às empresas lesadas, com base nas inscrições encontradas nos cabos. Os quilos de cobre já queimados para separação não podem ser identificados e permanecerão sob custódia policial, até a destinação ser definida pela Justiça, podendo ser doados ou destruídos.

“O resultado desta ação demonstra como a Polícia Civil atua para enfraquecer financeiramente organizações criminosas. Ao retirar do mercado ilícito grandes quantidades de cobre e identificar os receptadores, conseguimos impactar diretamente a estrutura desses grupos, que se beneficiam com o crime patrimonial e ambiental”, conclui o delegado Márcio Rocha.

“Além do combate à receptação, a operação tem um caráter fundamental de proteção ambiental. A queima de fios em áreas de preservação provoca poluição atmosférica e contamina o solo e os cursos d’água, afetando diretamente a fauna, a flora e a saúde das comunidades próximas. Nosso trabalho também busca impedir esse tipo de degradação”, finaliza o delegado Marcos Vignolo.

 

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