Perspectivas 2025: desafios e soluções da mobilidade urbana
Na expectativa do novo ano, a Tribuna conversou com um especialista para saber o que deve ou não ser feito em relação à mobilidade urbana na cidade
Com os desafios da mobilidade urbana se tornando cada vez mais evidentes, Juiz de Fora precisa de ações concretas e planejadas para transformar sua infraestrutura e garantir acessibilidade e eficiência. Em entrevista à Tribuna, o professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fábio José Martins de Lima, especialista em mobilidade urbana e coordenador do grupo urbanismo.mg, apresenta as prioridades e soluções que podem ser implementadas para tornar a cidade mais inclusiva e sustentável no que diz respeito à Mobilidade Urbana.
A mobilidade urbana interfere na vida de todos os cidadãos, no ir e vir cotidiano, ao caminhar pela cidade, ao utilizar uma bicicleta ou um veículo motorizado, seja ele particular ou coletivo. A falta de disponibilidade de modos diferenciados de transporte público e a precariedade, muitas vezes percebida por quem depende do sistema, pode atrapalhar o deslocamento no município, afinal, quase tudo o que se faz no dia a dia depende da possibilidade de locomoção. Como aponta o professor Fábio José: “Se temos dificuldade ou impedimento para nos mover nos ambientes urbanos, isso afetará a nossa percepção em todos os sentidos. Assim, uma cidade acessível e inclusiva, que permite a mobilidade urbana sem restrições, é algo que contribui para a saúde das pessoas, dentre outros aspectos”.
Revisão do Plano de Mobilidade
Para o professor, uma das primeiras medidas necessárias para o próximo ano diz respeito ao atual Plano de Mobilidade que, segundo ele, contém diretrizes importantes, mas com aplicação prática insuficiente. Para 2025, ele recomenda que algumas instruções sejam revisadas e que ações que priorizem o transporte coletivo e a integração de modais, que devem ir além do transporte rodoviário, sejam implementadas. Isso inclui repensar a infraestrutura urbana para atender às demandas de longo prazo, com políticas que envolvam a participação comunitária para garantir a inclusão. “O que deve ser dito é que tais diretrizes devem ser implementadas, em termos de ações contínuas, com o envolvimento da comunidade, com participação comunitária, para que as políticas públicas sejam efetivadas, e a cidade inclusiva e acessível ser alcançada de maneira progressiva”, defende.
A primeira ação necessária para 2025 é a revisão do Plano de Mobilidade de 2016. “Já se passaram duas gestões municipais e muitas diretrizes ficaram apenas no papel”, disse o professor, destacando ainda a importância do incentivo a modos de transporte que, por vezes, ficam esquecidos diante da administração pública. Para ele, o plano precisa ser atualizado para contemplar soluções que priorizem o transporte público, os pedestres e os ciclistas, além de incentivar o uso de modais sustentáveis, como veículos elétricos e transporte coletivo integrado.
Melhoria e expansão do transporte público
O aumento, ano a ano, do número de veículos não permite mais que o sistema viário tenha condições de atender às demandas. Segundo Fábio José, de 2023 para 2024 o aumento da frota de veículos apresentou um crescimento de 3,7% só no Brasil. Por isso, a necessidade e prioridade para as políticas públicas e um planejamento a longo prazo que incluam o transporte público como prioridade.
Porém, atualmente, o sistema de transporte público de Juiz de Fora, que já contou com transporte ferroviário e de bonde, hoje é totalmente dependente de ônibus movidos a combustíveis fósseis, que já não atendem às necessidades da população, especialmente nos horários de pico. Segundo o professor, é urgente rever o modelo de transporte público e também “começar a planejar alternativas como o metrô de superfície ou sistemas de teleféricos”. Ele defende ainda que 2025 seja um marco para priorizar o transporte coletivo, criando corredores exclusivos para ônibus e ampliando os modais disponíveis. Essas ações podem reduzir o tempo de viagem dos usuários e incentivar o abandono do transporte individual, diminuindo congestionamentos e emissões de gases prejudiciais ao meio ambiente.
Investimento em infraestrutura
Questionado sobre a inauguração de ciclofaixas na cidade, Fábio defende ser um passo inicial, mas que está longe de resolver os desafios da mobilidade sustentável na cidade. Para ele, ações pontuais como essa não têm impacto significativo na mobilidade urbana, pois acabam sendo utilizadas apenas para o lazer, por não fazerem parte de um planejamento mais amplo e integrado ao transporte público e ao sistema viário da cidade. “Tal ciclofaixa se insere como uma alternativa de lazer que, entretanto, não se integra ao sistema de transporte, muito menos ao sistema viário como um todo. Para um impacto no dia a dia as mudanças devem ser pensadas no contexto do sistema viário.”
Ele sugere que seja necessário a criação de ciclovias conectadas e seguras, além de soluções inovadoras que levem em conta a geografia local, uma vez que a topografia municipal é acidentada, com grande números de ladeiras e morros, a integração entre bicicletas e transporte coletivo deve ser levada em conta como solução. “Considerando que a cidade tem uma topografia de fundo de vale com morros, é importante pensar o transporte público integrado com outros modos – o transporte rodoviário e o ferroviário, ou mesmo outros tipos de transporte a serem estudados, que poderiam transportar bicicletas, por exemplo, para vencer a topografia e permitir às pessoas utilizarem esses meios nas partes planas.” Essa abordagem ampliaria as opções de deslocamento sustentável e reduziria o impacto ambiental do transporte de passageiros.
Acessibilidade e inclusão nos espaços públicos
Calçadas irregulares, pontos de ônibus sem sinalização e falta de rampas acessíveis são alguns dos desafios enfrentados por pedestres em Juiz de Fora e denunciados pela Tribuna por meio da coluna “Vida urbana”. Para o professor, uma cidade que preze pela mobilidade urbana e seja verdadeiramente inclusiva precisa priorizar a acessibilidade universal. Ele enfatiza a necessidade de corrigir problemas que dificultam a mobilidade de pessoas com deficiência. Uma vez que uma cidade inclusiva é aquela que valoriza os pedestres e cria ambientes seguros e funcionais para todas as faixas etárias e condições físicas.
Passado e futuro
Em 2016, o Plano de Mobilidade municipal foi elaborado, após discussões intensas sobre sua formulação. Na primeira parte, que versa sobre os “Objetivos, Princípios e Diretrizes de Elaboração do Plano”, o documento diz: “A mobilidade urbana é um atributo de Juiz de Fora que se refere à facilidade de deslocamentos de pessoas e bens no espaço urbano. Tais deslocamentos são feitos a pé ou por meio de veículos, motorizados ou não, utilizando-se de toda a infraestrutura (vias, calçadas, etc.) que possibilita o ir e vir cotidiano. Isso significa que a mobilidade urbana é mais do que o transporte urbano, ou seja, mais do que o conjunto de serviços e meios de deslocamento de pessoas e bens”.
Porém, não é difícil observar que a maioria daquilo que foi escrito e pensado no documento ou foram aplicadas parcialmente ou se mantiveram apenas no documento. Segundo o professor, “as iniciativas que se seguiram demonstram intenções para a recuperação do tempo perdido”. Para ele, falta muito para que os espaços públicos possam ser livres e desimpedidos “para que as comunidades – incluindo as pessoas portadoras de deficiências – possam circular e usufruir dos seus equipamentos e mobiliário”.