APP que ‘envelhece’ usuário, FaceApp entrega dados para anunciantes
Autorizações estão nos termos de uso do app (que nem sempre os usuários têm o hábito de ler)
Se você usou as redes sociais nos últimos dias pode ter ficado com a impressão de que está todo mundo ficando mais velho. Tudo graças ao FaceApp, um aplicativo disponível para Android e iPhone que envelhece os rostos dos usuários, mostrando como eles ficarão daqui a alguns anos. Mas, apesar de ser gratuita, a diversão não ocorre sem custo: o aplicativo entrega informações pessoais dos usuários para a desenvolvedora russa Wireless Lab.
Não é nada que ocorra de forma escondida, pois as autorizações estão nos termos de uso do app. E nem chega a ser uma novidade na internet atual, que construiu um modelo de negócios baseado na coleta, compartilhamento e comercialização de dados. Mas vale ficar atento: entre os dados recolhidos, estão imagens e quaisquer outros materiais publicados pelo app, bem como o histórico de navegação do usuário na internet.
“Usamos ferramentas de análise de terceiros para nos ajudar a medir o tráfego e tendências de uso do serviço. Essas ferramentas coletam as informações enviadas ao seu dispositivo ou ao nosso serviço, incluindo as páginas de web que você visita, add-ons e outras informações que nos auxiliam a melhorar o serviço”, diz parte do documento, que pode ser consultado por qualquer pessoa.
Os termos de uso dizem que as informações não são associadas aos usuários de forma a poder identificá-los individualmente, mas o número de informações monitoradas é grande. Entre eles estão cookies, pequenos arquivos instalados na máquina para identificar tendências e comportamentos online; identificadores de dispositivos, que permite saber qual é o tipo de aparelho usado pelo usuário; e metadados, que descrevem como e quando um usuário interage com determinado conteúdo, sem revelar exatamente os detalhes desse conteúdo.
Além disso, o FaceApp coleta informações de log, incluindo as páginas de web que o usuário decide visitar, o endereço IP (que é uma espécie de CEP de cada máquina na internet), e o tipo específico de navegador de internet.
Entre os usos desses dados estão o compartilhamento de parte das informações com anunciantes. “Podemos também compartilhar certas informações, como cookies, com parceiros de publicidade. Essa informação permitiria redes de anunciantes, entre outras coisas, a entregar anúncios direcionados que elas creditam que seriam de interesse”, diz o contrato.
O FaceApp diz que pode compartilhar os dados com “empresas irmãs”, que legalmente fazem parte do seu mesmo grupo de negócios. “Se vendermos ou transferirmos parcialmente ou integralmente o FaceApp e suas propriedades, suas informações, como conteúdo do usuário ou qualquer outra informação coletada por meio do serviço, estarão entre os ítens vendidos ou transferidos”, avisa a empresa, em meio àquelas letrinhas miúdas que muita gente “dá OK” sem ler.
“Cerca de 64% dos brasileiros não leem as condições de um app antes de baixá-lo e esquecem de pensar sobre como seus dados podem ser utilizados, ignorando as configurações de privacidade”, diz Fabio Assolini, analista sênior de segurança da Kaspersky. Ele não encontrou nada anormal no funcionamento do app, mas pediu atenção ao que é coletado.
Segundo o FaceApp, os dados são armazenados em servidores nos EUA, país que ainda não tem uma lei específica de proteção de dados, como a União Europeia ou o Brasil. Além disso, por não ter sede no Brasil, pode ser difícil acionar o FaceApp na Justiça no caso de um vazamento de dados massivo – ou mesmo em qualquer questão jurídica.