Empreendedorismo sustentável: empresa incentiva plantio nas margens do Paraibuna
Empresa local reverte parte do lucro de vendas de ecobags em mudas plantadas e cultivadas ao redor do Rio Paraibuna
A história da empresária Anna Lopes com a costura começou bem cedo. Ainda na infância, quando ia passar as férias na casa de sua avó, que era dona de uma confecção, observava atentamente o entrelaçar da linha com o tecido na máquina de costura. Mais tarde, depois de cursar Administração de Empresas, Anna decidiu resgatar essa memória afetiva aliada à vontade de colaborar com o meio ambiente. Assim surgiu a Mr. Fly, uma loja de ecobags, que reverte parte do lucro das vendas para a plantação de mudas às margens do Rio Paraibuna.
Antes da Mr. Fly ser fundada em 2011, Anna criou uma marca de camisetas com material reciclável, utilizando malha de garrafa pet. Embora o produto tenha feito sucesso com os clientes, ela resolveu expandir o mercado e ofereceu seus serviços para a Nestlé, que demonstrou interesse em uma linha de ecobags. A partir daí, a empresária desenvolveu a Mr. Fly, que hoje revende o produto para grandes empresas não só do município, mas de outros estados do país.
Pequenas mudanças de hábitos no dia a dia podem colaborar para a preservação ambiental, e as ecobags são uma forma de inserção neste ciclo sustentável. Quatros séculos é o tempo que uma sacola plástica leva para decompor, enquanto uma ecobag, com material de fácil decomposição, pode durar cerca de cinco anos, além de ser capaz de substituir, em média, cinco mil sacolinhas plásticas. As sacolas ecológicas podem ser lavadas e reutilizadas para consumo, o que aumenta a durabilidade. “Na maioria das vezes, as pessoas pegam uma sacola plástica e não usam nem meia hora e já descartam. Já o algodão tem uma durabilidade maior”, comenta Anna.
Além de reduzir o consumo de sacolas plásticas, as ecobags ajudam a diminuir a geração de lixo e melhoram a qualidade do ar e das águas. “Essa prática pode influenciar na diminuição de enchentes, já que não vai ter o acúmulo de lixos por sacolas plásticas. Além disso, as sacolas nas ruas vão parar nos rios e oceanos, o que prejudica os animais que acabam ingerindo esse resíduo. São vários benefícios gerados pelas ecobags”, aponta.
Alguns comércios da cidade, principalmente supermercados, em que o volume de distribuição de sacolas plásticas acaba sendo maior, já estão adotando novas práticas para substituir o material. Uma das soluções oferecidas é a venda de sacolas feitas com material ecológico, como as ecobags.
‘Sempre um passo à frente’
O material usado para fazer as ecobags da Mr. Fly se diferencia dos demais. Pensando em ampliar de forma positiva o impacto ambiental e manter o custo do produto acessível (que varia de R$ 20 a R$ 60), a empresa desenvolveu um tecido de algodão reciclado. No entanto, esse modelo vai passar por uma adaptação. A equipe notou que o processo de reciclagem acaba gerando um resíduo de tecido de poliéster, que, quando lavado, gera um microplástico e, ao desaguar nos rios e no oceano, causa problemas ambientais. “Nós queremos estar sempre um passo à frente. Por isso, queremos mudar para o algodão 100% orgânico, que não vai gerar esse problema do microplástico.”
No total, a empresa conta com dez funcionários, todas são mulheres. Anna conta que esse não era o propósito inicial, mas acabou acontecendo e hoje ela vê como um objetivo incentivar a independência financeira dessas mulheres e, consequentemente, a dela. “Como trabalhamos com fábrica, às vezes nos vemos em situações em que temos que consertar uma máquina, por exemplo. É engraçado, porque, geralmente, temos resistência com essas coisas. Quando pegamos para fazer juntas e conseguimos, dá uma sensação de empoderamento.”
Por uma Juiz de Fora mais verde
Para além da praticidade e estilo, as ecobags da Mr. Fly contribuem para um amanhã mais consciente e sustentável. Em março de 2020, a empresa criou o projeto “JF + Verde”, que tem o objetivo de converter parte do valor das vendas do produto para o plantio de mudas às margens do Rio Paraibuna. “Queríamos fazer algo para além dos benefícios que as sacolas trazem. Esse projeto é uma forma que encontramos de contribuir ainda mais diretamente na causa ambiental”, explica Anna.
Até o momento, já foram plantadas 300 mudas, e a manutenção é feita regularmente. O projeto é realizado em parceria com a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e o Bahamas. “As empresas têm uma responsabilidade ambiental muito grande. Se eu faço um produto de plástico e o meu cliente descarta em qualquer lugar, a responsabilidade também é minha. As empresas têm esse poder de buscar novos materiais e pressionar também a indústria para desenvolver novas matérias-primas que não agridam o meio ambiente”, afirma.