O VAR choca
É notável que o árbitro de vídeo – criado justamente para ajudar a dar credibilidade ao espetáculo do futebol – ainda soa em descompasso com sua premissa básica
Sempre adorei acompanhar as provas de velocidade do atletismo. Desde pequena ficava impressionada com a dificuldade em identificar o campeão da prova a “olho nu”, uma vez que braços, pernas, troncos e cabeças dos corredores chegam praticamente juntos. Na natação, idem. Dentro da piscina é ainda mais complicado cravar o vencedor, assim de cara.
No vôlei, no balé protagonizado pelas câmeras, imagens em slow motion também espantam, ao mostrar aquele toque milimétrico da bola no dedinho dos bloqueadores. Com o avanço tecnológico, a modalidade agora tem o Desafio, ferramenta na qual é possível analisar se a bola foi dentro ou fora das linhas da quadra. Lembro da fúria da comissão técnica da dupla Talita e Larissa em uma competição no Rio de Janeiro – no início da implantação da revisão no vôlei de praia – ao ver que a checagem não só demorou como falhou. Na bronca, o fisioterapeuta do time brasileiro, da arquibancada, fazia gestos de desaprovação em direção à cabine de apuração. Cerca de cinco anos depois, atualmente a ferramenta é bem mais sofisticada e menos criticada.
Diante das mais recentes polêmicas relacionadas ao VAR no futebol – assunto presente em praticamente todas as rodadas deste Brasileirão – fui lembrando de outros esportes que necessitam do auxílio da tecnologia para legitimar alguns lances ou até mesmo o resultado final de disputa. Fórmula 1? Como montar um grid de largada sem supercomputadores que fazem a cronometragem em milionésimos de segundos? E o basquete, cujo arremesso final rotineiramente é feito em torno de três, dois ou até um segundo antes do relógio zerar? Chega a fascinar! Você espera por aquela jogada sem ficar com receio de que a máquina vá tirar o brilho do lance.
No caso de São Januário, no primeiro gol do Inter contra o Vasco, a empresa responsável por operar as câmeras do VAR alegou que a sombra do estádio atrapalhou a calibragem das linhas. Argumento que, talvez (talvez!), poderia ser válido se a partida estivesse sendo disputada em um campo cuja estrutura fosse completamente diferente da clássica arquitetura dos estádios, em um horário muito anormal para o futebol. Algo como uma partida de exibição na Lapônia (Suécia), no chamado sol da meia-noite, dentro de uma piscina, por exemplo. Mas para uma partida de Campeonato Brasileiro, em um dos palcos esportivos mais importantes do Brasil, no horário mais corriqueiro do calendário? A justificativa é amadoresca.
Nem a rubro-negra confessa que vos escreve esconde a dúvida no outro lance polêmico da rodada, envolvendo a finalização de Gabigol no segundo gol do Fla mengo sobre o Timão. Da forma como o lance é apresentado, a intepretação da jogada permite titubeios.
É notável que o árbitro de vídeo – criado justamente para ajudar a dar credibilidade ao espetáculo do futebol – ainda soa em descompasso com sua premissa básica. Somado aos questionamentos muitas vezes baseados em clubismos, o assunto rende, as jogadas se repetem no noticiário, o futebol empobrece e a tecnologia pouco ajuda.
Do software até a interpretação final dos juízes, o VAR precisa ser revisado. Do jeito que está escandaliza, impressiona.
Choca!
Ainda de forma bem diferente e atrasada em relação às outras modalidades.
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