Argemiro Ć© daqueles que gostam de uma discussĆ£o. Ama futebol. NĆ£o deixa de acompanhar uma partida sequer do MengĆ£o. No entanto, bater-boca Ć© seu esporte preferido. NĆ£o dĆ” o braƧo a torcer. Discute atĆ© com a imagem e fala mais que GalvĆ£o Bueno. Por tudo isso, e diante da impaciĆŖncia dos colegas, pode-se dizer que ele nĆ£o perde uma. Mas, apesar de tudo, Miro – como Ć© chamado pelos amigos – Ć© boa praƧa.
Toda quinta-feira, meio-dia e dezessete, Miro foge do serviƧo. Troca o almoƧo pelo bar do Ivan Boca de Comadre. Pede uma pinga e mais outra. Amarela! Depois de dois tragos, comeƧa a palitar os dentes e palpitar sobre tudo. Futebol e polĆtica sĆ£o seus temas prediletos. Empolgado com a boa fase de seu Rubro-Negro, Miro anda arrotando arrogĆ¢ncia. “Tem cheiro de hepta”, diz, desconsiderando as argumentaƧƵes de amigos de que o campeonato ainda estĆ” embolado.
Ontem, Miro repetiu seu ritual. Boteco. Uma pinga. Amarela! Outra. Amarela! Palito na boca. Palpite na ponta da lĆngua. “E esse papo de golpe, hein?” Ivan Boca de Comadre apenas observa de canto de olho. “Isso Ć© choro de derrotado. Chola mais, corruptos!”, falou em tom de deboche, de olho no telejornal que se apertava entre duas barras pretas na TV 14 polegadas.
“Ć ou nĆ£o Ć©?”, disparou a pergunta mais temida por Ivan. “NĆ£o sei, Miro. NĆ£o tive tempo para acompanhar esse julgamento”, esquivou-se o taciturno dono boteco. “Nem eu”, respondeu Miro. “NĆ£o tenho tempo para essas bobagens”, finalizou, antes de voltar levemente embriagado e cheio de opiniĆ£o, para cumprir o segundo turno de trabalho na banca de jogo do bicho da esquina.