Novos trens musicais para ouvir nas férias


Por Júlio Black

03/07/2019 às 08h05- Atualizada 03/07/2019 às 08h09

Oi, gente.

A última coluna antes das férias é dedicada a alguns dos novos álbuns que ouvimos com maior ou menor intensidade nas últimas semanas, com uma seleção bem variada. Temos um dos nossos preferidos dos últimos anos, o The National; os veteranos Bruce Springsteen e Morrissey, o primeiro com um trabalho calcado no folk-pop e o segundo apostando num disco de versões; e ainda conferimos os retornos das gurias do L7 e dos topetudos do Stray Cats.

É o que temos para o momento, mas retornamos com baterias recarregadas em agosto, o mês do cachorro com sérios problemas psiquiátricos.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

the national i am easy to find

THE NATIONAL, “I am easy to find”
O oitavo álbum do grupo de Cincinnati, Ohio, é dessas coisas lindas de ouvir do início ao fim. As 16 faixas do sucessor de “Sleep well beast” (2017) são melodicamente mais leves e melancólicas que o trabalho anterior, mantendo a aproximação da banda com os sons eletrônicos e algumas participações especiais que dão um colorido diferente ao disco.

Com temas menos políticos, as músicas seguem com aquelas letras maravilhosas do vocalista Matt Berninger sobre amor e dor (ah, riminha safada), relacionamentos, conflitos sentimentais, distanciamento, separações… Destaques? “You had your soul with you”, “Rylan”, “Light Years”, “Hairpin turns”, “Quiet light”, “The pull of you” e “Dust swirls in strange light”. Mas dá para ouvir os 63 minutos do álbum do início ao fim, sem cansar, e depois partir para o curta-metragem dirigido por Mike Mills a partir de algumas canções de “I am easy to find”, estrelado pela atriz Alicia Vikander.

 

 

L7 scatter the rats

L7, “Scatter the Rats”
Apesar de ser uma banda punk em suas origens, o L7 passou a transitar pela segunda divisão do grunge lá pelo início dos anos 90, o que deu ao grupo alguma notoriedade. A equação Seattle + o hit “Pretend we’re dead”, turbinado pelo videoclipe na hoje quase defunta MTV, fez com que o quarteto, inclusive, tivesse seus fãs no Brasil e se apresentasse no finado Hollywood Rock. Mas o tempo passou, o L7 foi sumindo, sumindo, até encerrar as atividades em 2001, voltar em 2014 e só agora lançar o seu sétimo álbum de estúdio.

Musicalmente falando, “Scatter the Rats” parece ter sido gravado nos anos 90, preservado em âmbar, enterrado num terreno baldio e recuperado por algum arqueologista sonoro do século XX. O que não quer dizer que o disco seja ruim, muito pelo contrário: dá para agradar tanto aos saudosistas do grunge quanto à turma que começa a se aventurar agora pelos bons sons. É aquela boa e velha mistura do grunge, com guitarras pesadas, apelo pop, algumas faixas mais lentas, letras feministas, políticas e engajadas.

Não é nada revolucionário como há 25 anos atrás, mas músicas como “Proto Prototype”, “Baby burn”, “Garbage truck”, “Stadium west” e a faixa-título não deixam gosto de coisa velha em nossos ouvidos.

 

bruce springsteen western stars

BRUCE SPRINGSTEEN, “Western stars”
O novo álbum do ídolo da Dona Sônia, que nos salva todo dia com seu café no esquema, é o primeiro trabalho de inéditas desde “Wrecking ball”, de 2012, e desta vez “The Boss” abriu mão dos parceiros da E-Street Band para entregar ao mundo um disco imperdível, deixando a guitarra de lado para se dedicar a uma mistura de folk e pop que nos leva facilmente até os anos 70. Para quem duvida, o próprio Springsteen declarou em entrevista que entre as influências do álbum estão Glen Campbell e Burt Bacharach.

“Western stars”, talvez pelas influências musicais, deixa situações e personagens mais obscuros, pessimistas, para apostar em letras sobre mudança, transformação, uma nova chance, em meio a paisagens que Bruce Springsteen consegue nos fazer imaginar pór meio das melodias. Músicas como a faixa-título, “Hitch Hikin'”, “Chasin’ wild horses”, “Tucson train” e “The wayfarer” mostram que “The Boss”, à beira do 70º aniversário, ainda continua como um dos titãs da música americana.

 

morrissey california son

MORRISSEY, “California son”
Os últimos meses não estão sendo nada fáceis para Morrissey, e a verdade é que a culpa é toda dele. As mais recentes declarações do ex-Smiths têm provocado polêmica pelo teor racista e xenófobo, incluindo ainda posições lamentáveis sobre o Brexit, União Europeia, anti-imigração e quase tudo possa ser considerado absurdo, enfim.

Para piorar, o lançamento de “California son” quase nada acrescenta à carreira do mancuniano. Conhecido por já ter lançado versões isoladas e inspiradas de músicas como “Moonriver” e “Back on the chain gang”, pela primeira vez o cantor lança um álbum de covers, apresentando releituras para canções dos anos 60 e 70 de Carly Simon, Roy Orbison, Jobriath, Joni Mitchell e Bob Dylan, entre outros, com um resultado no mínimo irregular. Mas a verdade é que, assim como o “Tidal album” do Weezer, “California son” é desnecessário em sua essência.

Há bons momentos, claro, como “Morning Starship”, “When you close your eyes”, a balada “It’s over” e no desavergonhado clima kitsch de “Lady Willpower”, mas Morrissey também erra e feio nas versões de “Only a paw in their game”, “Lenny’s tune”, “Some say I got Devil” e “Wedding bell blues”, neste caso acompanhado por Billie Joe Armstrong, do Green Day.

 

stray cats 401

STRAY CATS, “40”
Entre separações e reuniões, turnês comemorativas, álbuns ao vivo e de covers, o Stray Cats passou quase 30 anos sem lançar material inédito. “40” é o primeiro trabalho desde “Choo Choo Hot Fish”, de 1992, com novas canções criadas pelo grupo formado há quatro décadas por Brian Setzer, Slim Jim Phantom e Lee Rocker. Para quem gosta de rockabilly, não há o que reclamar.

É rock dos anos 50 e 60 em sua essência, com todos aqueles riffs e batidas e grooves gostosos de se ouvir, bom para colocar a galera para dançar em músicas como “Cat Fight (Over a dog like me)”, “I’ve got love If you want it”, “Mean Pickin’ Mama” e “Rock it off”. Mas nem só do rockabilly vive o homem, e “40” abre espaço ainda para a surf music em “Desperado” e “I attract trouble”. Então aproveite que o inverno no Brasil é quase tropical para curtir uns roques ensolarados em casa, na estrada, até mesmo no churrasco.

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