No início da semana fui lembrado de que estamos às vésperas dos Jogos Olímpicos. Nas edições anteriores, havia muita expectativa, ajustes de horários para que pudesse acompanhar algumas modalidades, correria e olhos vidrados na TV. Havia um clima de celebração, que quem participou de algum tipo de competição, ou já esteve perto de uma, consegue identificar sem esforços. Normalmente, um certo frisson associado aos jogos toma as conversas, as páginas de redes sociais e a programação dos noticiários.
Corta para 2021. A maioria dos países se recupera da crise provocada pela pandemia de Covid-19. Não encontrei nenhuma bandeirola verde-amarela a tremular pelo bairro. Nenhum carro passou com bandeirinha ou faixa de incentivo ainda, não ouvi nenhum barulho de corneta ou oferta de apitos, vuvuzelas, chapéus engraçados ou afins nas portas das lojas. A tradição de pintura das ruas se perdeu no tempo, todas as vias continuam vivendo dias cinzentos normais. Não vi álbum de figurinhas, não sei ainda o nome dos mascotes oficiais. Tudo estranhíssimo. Perdemos aquele clima quente, contagiante, mas ainda temos muito a ganhar.
Não me refiro diretamente a medalhas, pódios e recordes. Aposto que, com o contexto que temos, há outras coisas no entorno que são mais capazes de capturar a nossa atenção nessa edição dos jogos. Começando pela decisão de mantê-los, ainda sem o controle absoluto da pandemia. Não discuto se a decisão foi acertada ou não, mas que os riscos existem, é inegável. Penso, no entanto, que algo que demande uma organização tão meticulosa e uma estrutura tão grande pode ser uma boa forma de avaliar protocolos e ações de prevenção à doença.
Acredito que outros assuntos do entorno devem entrar em evidência nesse momento. Na última semana, fiquei sabendo da situação do JF Vôlei, que não vai disputar a Superliga por falta de recursos. Então, acredito que um dos pontos que deve ser discutido em algum momento é a falta de valorização dos nossos atletas. Uma pergunta que não me sai da cabeça é por que motivo o ginasta Ângelo Assumpção não está na delegação brasileira? Quantos como ele ficaram de fora por não discutirmos nossos problemas estruturais? Há outras urgências. As atletas de esportes como vôlei são obrigadas a usar biquínis, parece uma questão banal para alguns, mas isso pode impactar e atrapalhar diretamente no rendimento das esportistas.
O que mantém alguma expectativa de assistir a boas partidas e competições, no entanto, é a presença de atletas que são, também, pessoas incríveis. Como os nossos juiz-foranos que vão estar em Tóquio, entre eles, Bia Ferreira, Larissa Oliveira, Thiagus Petrus e o técnico Fábio Antunes, por quem já estamos na torcida. E também pelos nomes que vamos conhecendo melhor aos poucos.
Destaco uma grande e grata surpresa recente (para mim), que é o jogador de futebol Paulo Henrique Sampaio Filho, o Paulinho, autor de um dos quatro gols da partida entre a seleção brasileira e a seleção alemã. Em carta publicada pelo The Player’s Tribune, o jovem atacante, de 21 anos, deu lições sobre a valorização das experiências, do contato com as pessoas, sobre o orgulho de valorizar o time que o acolhe e forma, o respeito pelo adversário, pelos sonhos e, principalmente, pela história, a ancestralidade e suas raízes. É muito inspirador ver pessoas tão jovens e com tantas coisas importantes a falar, com histórias fascinantes para celebrar. É uma renovação de esperanças, que, nesse momento, vale muito mais que o ouro olímpico. Registro aqui a minha torcida para que cada atleta brasileiro volte cheio de bagagens para dividir com o nosso povo.