A mediocridade é um privilégio branco
Andrade, 62 anos, é o único técnico negro campeão brasileiro. Até 1º de agosto de 2009, ocupara, por poucas ocasiões, de maneira interina, o posto de treinador do Flamengo. À época, mobilizou o elenco em busca do hexacampeonato. O jejum durava 17 anos. Passados quatro anos, Jayme de Almeida, 66, também negro, conduziu o Flamengo à última grande conquista nacional, a Copa do Brasil. Ambos deixaram o comando poucos meses após os títulos. Andrade e Jayme não tiveram o direito à mediocridade. Pois ser medíocre é um privilégio branco. Ao negro, não são permitidas quaisquer posições de poder.
Andrade e Jayme eram estranhos à posição de comando do clube mais popular do Brasil. Em boa parte de suas carreiras, ocuparam a função de auxiliar; eram subordinados. Andrade e Jayme foram, respectivamente, substituídos por Rogério Lourenço e Ney Franco. Ambos brancos. E medíocres, diga-se. Não houve hesitação ao trocá-los, embora tivessem conquistado os dois títulos mais importantes do Flamengo no século. Rogério substituiria Andrade sem experiência alguma em clubes. O Flamengo, em meio à Libertadores da América, seria a primeira. Já Ney Franco ganharia nova oportunidade em uma grande agremiação após longo ostracismo. Se negros fossem, Rogério e Ney certamente não teriam as chances que tiveram.
Depois, Andrade e Jayme nenhuma oportunidade semelhante tiveram. Bem como Cristóvão Borges, 60. Cristóvão, é verdade, dirigiu Vasco, Fluminense, Corinthians, Bahia e Athletico, mas o sarrafo era cruel. Com poucas partidas, a impaciência era tônica. No Rio, Cristóvão fora chamado de “Mourinho do Pelourinho”. Ora, em pleno 2019, o cenário é pouco diferente. Roger Machado, 44, e Marcão, 47, são os únicos treinadores negros na elite. Marcão, inclusive, em condições similares às de Andrade e Jayme. Apenas depois de bons anos de casa foi efetivado. Roger e Marcão enfrentaram-se, no último sábado (12), no Maracanã. Como registrado em depoimentos, ambos sabem do que lhes são negados.
A meritocracia é uma farsa branca. Treinadores ocupam os postos não por capacidade técnica, mas simplesmente por serem brancos. Oswaldo de Oliveira acumula trabalhos péssimos, bem como Cuca. Abel Braga não é diferente. Vagner Mancini, Enderson Moreira, Argel, etc.. São inúmeros. A benevolência com o trabalho destes treinadores beira a misericórdia. Enquanto isso, os negros estarão restritos ao campo; à força e à velocidade, como o estereótipo lhes restringe. Porque até pensar não é permitido aos negros.